A hipocrisia de Garotinho


Dessa água… não beberei?


Anthony Garotinho ironiza a aliança Haddad-Maluf, mas ele próprio é, como poucos, um adepto das coligações pragmáticas. Foto: Rodolfo Stuckert
A Bíblia, em diferentes passagens, fala de alianças entre o Criador e os homens. A mais famosa é a do Arco-íris que, segundo o pacto feito com Noé, depois do Dilúvio, é a visualização da promessa divina de que nunca a Terra terá um fim provocado pelas águas.
Mas o sentido de aliança, entre nós, mortais, é amplo. Marido e mulher usam a aliança do casamento. Empresas se aliam para melhorar negócios. E, claro, os políticos também assumem pactos, verbais, mas que mexem com as populações que eles representam, pelo poder do voto a eles outorgado.
Em 5 de março, neste site, eu, surpreso, dizia que, no Rio, a aliança de DEM, por intermédio de Cesar Maia, com PR, de Anthony Garotinho, dava azia. Contei as cobras e lagartos que um contava do outro, antes de decidirem se unir para enfrentar a reeleição do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB), através de seus filhos Rodrigo Maia e sua vice, Clarissa Garotinho.
Hoje, vejo Garotinho também espantado no seu blog, com o encontro do ex-presidente Lula com Maluf. Garotinho diz, literalmente que “essa imagem de Lula apertando a mão de Maluf no jardim da casa do deputado no Morumbi é real, não é uma fotomontagem como à primeira vista um desavisado poderia imaginar.” De acordo com ele, só falta a trilha sonora daquela música “Amigos para sempre”, a mesma que deve estar ensaiando atualmente com Cesar Maia.
Eduardo Paes, por sua vez, está aliado a Deus e ao Diabo. Conta com o apoio do governador Sergio Cabral e seu vice, Adilson Pires, é do PT. Nesta aliança, sempre é bom lembrar que Paes, quando deputado federal, ofendeu seriamente toda a família de Lula. Para se eleger, porém, deixou o PSDB, arrumou o apoio de Cabral e, depois de pedir desculpas a Lula, e sua mulher, tornou-se prefeito do Rio. E continua com as bênçãos comovidas de Lula, o Flexível – e põe flexível nisso!
Avesso a alianças, o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, convidou o ex-baterista da banda O Rappa Marcelo Yuka, também filiado ao PSOL, para vice em sua chapa. Freixo conta ainda com apoio velado de políticos de outros políticos de outros partidos que não concordam com as alianças que estão sendo feitas.
O agonizante PSDB do Rio indica o deputado federal Otavio Leite. Dentro do próprio partido há quem o chame de “Leite Derramado”, uma vez que sequer arranjou um vice ou qualquer aliança com outro partido. Por enquanto, está só.
O PV, por sua vez, lança a candidatura da deputada estadual Aspásia Camargo. Como o PSDB, ainda não conta com apoios oficiais de outros partidos e ainda não apresentou o vice da chapa. Aliás, o líder maior do PV do Rio, Fernando Gabeira, também está silencioso e ausente das movimentações em torno das eleições para a Prefeitura.
Este é o atual cenário político para as eleições municipais do Rio. Diante das alianças – locais e nacionais – que nos pegam sempre desprevenidos, o economista e analista político competente (principalmente quando pensa em causa própria) Cesar Maia, diz que alianças acontecem para combater um mal maior. E lembra que, na II Guerra Mundial, Alemanha e a então União Soviética se aliaram para abocanhar a Europa e, mais tarde, quando a primeira resolveu agir sozinha, a segunda se aliou aos Estados Unidos para derrotá-la. Terminada a guerra, o pacto se desfez.
Essa linha de raciocínio do ex-prefeito vale para explicar sua associação atual com Garotinho. Mas, em termos bíblicos, a coisa é diferente – acabado o acordo das águas, o mundo acabará em fogo. Essa previsão também tem a ver com os cariocas, que assistem os chefes de estado mais importantes da Tterra discutindo o aquecimento global na Rio+20. Que, como nas alianças acima descritas, produzirá belas frases, ótimas intenções e resultados que só convirão aos mais fortes.

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