Abril trata como golpe Venezuela no Mercosul


Brasil 247

Abril trata como golpe Venezuela no MercosulFoto: Edição/247

PORTA-VOZES DA EDITORA, QUE ENXERGARAM DEMOCRACIA NO PARAGUAI, CRITICAM SUPOSTA MANOBRA QUE ABRIU AS PORTAS AOS VENEZUELANOS; PARA REINALDO AZEVEDO, DILMA “CHUTA A DEMOCRACIA”; SEGUNDO AUGUSTO NUNES, PRESIDENTE FARIA PARTE DO GRUPO DOS “TRÊS PATETAS DO MERCOSUL”; LINGUAGEM RADICAL LEMBRA GUERRA FRIA

247 – As bruxas estão soltas na América Latina. Se alguém acessar agora a página principal da Veja.com, porta de entrada da Editora Abril na internet, poderá se imaginar de volta aos tempos da Guerra Fria. O site denuncia um “golpe” do Mercosul, ao permitir o ingresso da Venezuela no Mercosul. Para a Abril, democrática foi a transição política no Paraguai, em que um impeachment se processou em menos de 48 horas.
Cada um tem direito à sua interpretação, mas o que espanta é a linguagem que passou a ser usada pelos porta-vozes da Abril. Os três países do Cone Sul que hoje votaram a favor da Venezuela – Brasil, Argentina e Uruguai – têm presidentes com altíssimos índices de popularidade. Reinaldo Azevedo, no entanto, trata Cristina Kirchner, que se reelegeu com 70% dos votos, como “La Loca de Buenos Aires” – se é assim, loucos são os argentinos. E diz ainda que ela recompensa Hugo Chávez pela “mala de dólares” que recebeu. Jose Pepe Mujica, quem vem sendo idolatrado no Uruguai, é “aquele que quer estatizar a maconha”. E Dilma Rousseff, que hoje avançou em mais uma pesquisa de popularidade CNI/Ibope, “chuta a democracia”.
Augusto Nunes, por sua vez, também abusa dos adjetivos. Os três presidentes do Cone Sul seriam os “três patetas” do Mercosul. Segundo ele, Brasil, Argentina e Uruguai usaram o golpe que não houve no Paraguai para aplicar um golpe no Mercosul.
Com todo o respeito, em que mundo eles vivem? E, já que perguntar não ofende, como se comportariam se houvesse, no Brasil, algo semelhante ao que ocorreu no Paraguai?
Abaixo, o artigo de Reinaldo Azevedo:
Os governos da Argentina, Brasil e Uruguai suspenderam mesmo o Paraguai do Mercosul e aproveitaram, eles sim, para dar um golpe cartorial e burocrático: incorporaram a Venezuela ao bloco. Ou por outra: Cristina Kirchner, Dilma Rousseff e José Mujica — aquele que quer estatizar a maconha… — fizeram rigorosamente aquilo que acusam o Senado paraguaio de ter feito: deram um golpe branco.
Por quê? Segundo as regras do Mercosul, a adesão de um novo país ao bloco tem de ser aprovada pelos respectivos Parlamentos dos países-membros. O senado paraguaio, num rasgo de lucidez, recusava a entrada do ditador Hugo Chávez com base no Protocolo de Ushuaia, que estabelece as cláusulas democráticas. Destaco algumas em azul. Volto em seguida:
ARTIGO 1
A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados Partes do presente Protocolo.
ARTIGO 2
O presente Protocolo se aplicará às relações que decorram dos respectivos Acordos de Integração vigentes entre os Estados Partes do presente protocolo, no caso de ruptura da ordem democrática em algum deles.
ARTIGO 3
Toda ruptura da ordem democrática em um dos Estados Partes do presente Protocolo implicará a aplicação dos procedimentos previstos nos artigos seguintes.
ARTIGO 4
No caso de ruptura da ordem democrática em um Estado Parte do presente Protocolo, os demais Estados Partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado.
Voltei
Não há uma só que explique a suspensão do Paraguai. Não há uma só que permita a entrada da Venezuela. No entanto, a Venezuela é agora membro do Mercosul, e o Paraguai está suspenso. Por quê? Porque, afinal de contas, o novo governo paraguaio não pertence ao mesmo “lado” em que estão Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica. Coube à “Loca de Buenos Aires” fazer o anúncio.
Sempre que alguém como Cristina Kirchner fala em nome da democracia, o dita-cuja está, obviamente, em perigo. A presidente da Argentina tem motivos para tentar recompensar Hugo Chávez. No dia 24 de setembro de 2008 (eu e minha memória…), o empresário venezuelano Guido Antonini Wilson confirmou à Justiça americana ter enviado, em agosto de 2007, US$ 6 milhões de Caracas para Buenos Aires, divididos em duas maletas. O dinheiro ilegal era destinado ao financiamento da candidatura de Cristina à Presidência. No momento, esta grande democrata está empenhada em destruir as instituições democráticas argentinas. Mas que ninguém ouse reagir, ou a safra de governantes que pretendem obter nas urnas o “direito” à ditadura gritam: “Golpe!!!”
A suspensão do Paraguai já seria indignidade o suficiente para os três governantes. Aproveitar o fato para abrigar a Venezuela, ao arrepio das regras que orientam o próprio Mercosul, é um escárnio. Ou vejamos: se o país tivesse sido expulso, muito bem! Mas não foi! A suspensão, que não é expulsão, não elimina uma das prerrogativas que o país tem como membro do bloco: aprovar ou vetar o ingresso de um novo país.
Há, sim, uma nova modalidade de golpe na América Latina: o golpe das eleições! Ainda voltarei a esse assunto. A safra de candidatos a ditadores do continente acredita que as urnas lhes dão o direito de solapar até… urnas!
A diplomacia de Dilma Rousseff consegue ir mais baixo do que a de Lula. Se querem saber, no que diz respeito às formalidades nas relações externas, nem Celso Amorim, o megalonanico, desceu tanto. Antonio Patriota acaba de se tornar mais “mégalo” e mais “nanico” do que o antecessor.
Agora, o artigo de Augusto Nunes:
O golpe que não houve no Paraguai foi o pretexto invocado pelos parceiros vigaristas para a consumação de um golpe real. Sem a presença do único integrante do Mercosul contrário ao ingresso da Venezuela bolivariana, os governos do Brasil, da Argentina e do Uruguai concederam ao companheiro Hugo Chávez a carteirinha de sócio do clube que nunca funcionou.
Durante oito anos, o Congresso paraguaio amparou-se na cláusula que exige respeito às regras democráticas para barrar a entrada do bolívar-de-hospício. Sete dias bastaram para que a trinca de cínicos removesse a pedra no caminho de Chávez e instalasse no Cone Sul a república de araque localizada no extremo norte do subcontinente.
O impeachment de Fernando Lugo foi decretado sem que qualquer norma constitucional fosse violada. “Tenho a impressão de que foi um golpe”, hesitou Dilma Rousseff no dia do despejo do reprodutor de batina. Se também não souber direito que palavra deve usar para definir o que acaba de fazer em companhia da Argentina e do Uruguai, o neurônio solitário pode dispensar-se de dúvidas: golpe é o nome da coisa.
O Mercosul, formado por parceiros que vivem tentando enganar uns aos outros, transformou-se numa inutilidade controlada por três patetas. Agora são quatro.

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