A Petrobras do mercado e a Petrobras do Brasil



A Petrobras é uma empresa estatal, mas é também uma empresa comercial.
Se for comercial, sem olhar os interesses do Estado brasileiro, fracassará e se enfraquecerá, como ocorreu no Governo Fernando Henrique.


Porque, sendo assim, o Estado não teria porque apoiar a Petrobras, pois ela não teria razões para apoiar o Estado, como mera empresa privada.

O inverso também é verdadeiro. Se depender só do Estado, a Petrobras igualmente fracassará, pois disputa um mercado competitivo, precisa de alto nível de eficiência e, sobretudo, de capacidade de gerar recursos próprios – e projeções de lucratividade que permitam a ela levantá-los no mercado.

Bom, isso parece óbvio, mas é a chave para se entender o que aconteceu no “corta-isso, mantém- aquilo” que caracterizou a montagem do plano de investimentos da companhia. Ou seja, para que vão, quando vão e de que forma irão os US$ 224,7 bilhões que a Petrobras vai aplicar na expansão de suas atividades.

Os investidores privados querem que ele vá para o que dá receita mais rápido e com menor imobilização. Assim como adoram que a Vale exporte cada vez mais minério bruto e aproveite os preços altos do ferro no mercado mundial, também desejam que a Petrobras perfure, extraia e venda o petróleo bruto do pré-sal para o exterior.

Mas os investidores privados não têm, como a Petrobras, compromisso com o desenvolvimento -e nem com o abastecimento – do país.

É por isso que sua análise é essa, que publicou hoje o Valor Econômico:
Para o Credit Suisse, em relatório assinado pelo analista Emerson Leite, o foco em exploração e produção – que terá direito a 57% dos recursos previstos no plano divulgado na sexta-feira, contra 53% no programa anterior – não significou uma geração de caixa maior, “reforçando nossa tese de que os retornos estão caindo”.
O Deutsche Bank segue linha semelhante e os analistas Marcus Sequeira e Luiz Fonseca se dizem “desapontados”, em relatório enviado ontem a clientes, com o fato de os investimentos em refino terem se mantido (…)”.

Mas porque a Petrobras, então, mantém os investimentos em refino?

Exatamente porque, desde os anos 80, a visão de pura e simplesmente aumentar a produção de petróleo se sustentou por duas razões. A primeira, porque nosso parque de refino, com ampliações e reformas, era capaz de absorvê-la. A segunda, a de que o país não crescia, ou crescia pouco e , portanto, a demanda por produtos do refino petroleiro subia em baixas taxas.

De quebra, o carro flex retornou o Brasil aos tempos em que o Pró-alcool substituía a gasolina pelo hoje chamado etanol.

Mesmo com tudo isso, 32 anos sem que uma nova refinaria entrasse em funcionamento é algo que, por si só, demonstra o tamanho do problema.

O Brasil precisa, desesperadamente, de novas refinarias de petróleo para chegar perto – chegar perto, prestem atenção – da demanda interna.

Sob pena de se tornar um exportador de petróleo bruto e importador de petróleo refinado.
Igualzinho ao que a “lógica de mercado” nos fez viver, exportando ferro e importando aço.
A Petrobras fez das tripas coração para cumprir seu papel de empresa de mercado, sem deixar de ser empresa de país, do nosso país.

Cortou onde podia cortar. Reduziu e restringiu aos ótimos negócios suas operações no exterior.; Está sofrendo com a falta de ação no mercado de etanol e, como se não bastasse, tendo de investir num setor onde a operação foge de sua cultura empresarial.

Porque, vocês sabem, como o álcool é negócio privado, onde vale o preço de mercado, enquanto que a gasolina, para a Petrobras, tem preço “de governo”.

A Petrobras está segurando a rebordosa nos preços da gasolina nas refinarias e enfrentando toda a sanha dos que procuram e acham espaço na mídia para bater na nossa petroleira.

O que eles não dizem é que querem que ela se lixe para o Brasil, como durante dez anos fez a Vale.
É por isso que refino de petróleo é uma palavra maldita para o “mercado”.
E bendita para o Brasil.

Por: Fernando Brito

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