Não é (só) a economia, estúpido


O filme a que o país assistiu durante os oito anos do governo Lula continua sendo reprisado. Todos os dias, sete dias por semana, trinta dias por mês os grandes meios de comunicação impressos e eletrônicos martelam denúncias contra o governo federal.

Os colunistas dos jornais ou da internet, os analistas políticos da TV ou do rádio aludem, sem parar, a uma “crise moral” que teria se abatido sobre a nação e a debitam exclusivamente ao PT. Parece que só o PT governa alguma coisa, no Brasil.

Apesar de a popularidade de Dilma ser menor do que a de Lula ao fim de seu mandato, pelo menos até o momento não há indícios de que este governo tenha sido minimamente afetado pelo bombardeio midiático.

Muito pelo contrário: a única perda visível na imagem de Dilma parece provir de onde ela difere de Lula, ou seja, por ser menos combativa do que o antecessor ao não responder aos ataques da imprensa e da oposição.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada no mês passado, 49% dos brasileiros consideravam ótimo ou bom o governo Dilma, 38% consideravam regular e 10% consideravam ruim ou péssimo. Em março, eram 47%, 34% e 7%, respectivamente.

A demissão do ex-ministro Antonio Palocci, segundo o próprio Datafolha, não alterou a opinião dos brasileiros sobre o governo petista, mas parece ter atingido alguns aspectos da imagem pessoal da presidente.

O episódio, segundo a pesquisa, pode ter influenciado a queda na percepção que a população tem da presidente no quesito “decisão”. Apesar de a maioria julgar Dilma decidida (62%), 34% a classificavam como “indecisa”, taxa duas vezes maior do que a de março (15%).

A presidente também sofreu prejuízo de imagem no aspecto inteligência. A taxa dos que a julgavam muito inteligente caíra de 85% para 76% e a dos que a julgavam pouco inteligente subira de 9% para 20%.

O que dizem esses números? Podem ser vistos de acordo com o gosto do freguês. Apesar de a aprovação ao governo ter subido, a presidente perdeu aprovação pessoal. Ou seja, a população pode ter considerado que ela não foi corajosa como Lula ao enfrentar o primeiro ataque ao seu governo.

Se considerarmos que esses escândalos permearam os dois mandatos de Lula e ele só fazia ganhar aprovação, pode-se inferir que a maioria não dava crédito à mídia. Em todos aqueles momentos, o ex-presidente manteve uma postura altiva enquanto que Dilma se mostrou intimidada.

Claro que a imprensa, que só sabe atacar o PT onde ele é governo e que poupa a oposição onde ela é governo, prefere debitar a perda de aprovação pessoal de Dilma ao fato de ela não ter demitido Palocci rapidamente. Mas se levarmos em conta que Lula declarou, reiteradas vezes, que ela não deveria demiti-lo, o dado que vem a seguir desmonta essa teoria.

Para 77% dos brasileiros, o ex-presidente Lula participa das decisões do governo de sua sucessora. A participação dele, porém, não é vista de forma negativa. Pelo contrário, 64% disseram que ele deveria participar até mais deste governo.

Detalhe: Dilma tem 49% de aprovação, mas 64% dizem que Lula deve interferir mais… Perceberam?

Ora, se Lula declarou publicamente, mais de uma vez, que Dilma não deveria demitir Palocci sob pressão e os entrevistados da pesquisa declararam que ele deve continuar interferindo no governo, a perda de imagem dela pode se dever a não ter seguido o conselho do padrinho político.

De qualquer forma, a perenidade da aprovação dos governos Lula e Dilma em um cenário em que o bombardeio da mídia não pára um só dia enquanto que os governos de oposição recebem tratamento inverso, não sendo sequer fiscalizados, é um fenômeno a ser estudado.

Tornou-se lugar comum a direita midiática dizer que o povo foi “subornado” pelo bom andamento da economia. O mais curioso é que, enquanto diz isso, também esgrime com uma tal de “herança maldita” deixada por Lula que, pelo visto, só essa direita vê – ou diz que vê.

Mas será só isso? Será só a economia forte, a geração progressiva de empregos, o aumento do salário médio, entre outros, que fazem o povo ignorar a “corrupção” petista em vez de votar na “honestíssima” oposição que a mídia pinta?

Será que ninguém enxerga que é impossível que só existam escândalos de corrupção de um lado? Será que ninguém se impressiona com bombardeio como esse só contra um lado e que não pára um só dia há quase nove anos?

O mais provável é que a repetição incessante dessa estratégia massacrante contra um lado e o silêncio total em favor do outro, quebrado apenas por elogios a este, tenha feito o país entender, definitivamente, que a imprensa não é confiável ao tratar de política.

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