Etanol: mercado é especulativo e pede intervenção

Tijolaço



Em seu comentário de hoje, na CBN, a inexcedível Miriam Leitão reclama do intervencionismo do Governo (quase nenhum, por sinal, graças à “agilíssima” ANP) no setor de etanol e diz que, em lugar de intervir, o Governo precisa “compreender” o setor.

A razão do comentário é a seguinte: amanhã,  há uma reunião do governo com produtores e distribuidores de etanol. Na pauta, a redução, autorizada em abril, de 25% para 18% na adição de etanol anidro à gasolina pura, que forma a gasolina “C” vendida nos postos.

É uma medida indesejável do ponto de vista ambiental e, por isso, será provisória. Mas é inevitável, porque entender o setor, com sugere Miriam Leitão, é entender que ele, com sua capacidade de estocar etanol nos tanques e na própria cana não colhida, e de decidir se o álcool produzido será anidro ou hidratado – uma variação ínfima no custo de produção – joga livremente com os preços.

A primeira providência é reduzir o ritmo do corte e moagem. Até 16 de junho, a moagem totalizou 134,58 milhões de toneladas, redução de 22,63% em relação ao volume processado no mesmo período do ano passado, segundo a Unica, associação dos usineiros paulistas.

O segundo passo é jogar com as quantidades de etanol e anidro que se oferece ao mercado.

Hoje, por exemplo, o etanol anidro custa, na usina,  R$ 1,24 por litro, cerca de 11% a mais que o hidratado, segundo os dados do Cepea-USP para São Paulo. Mês passado, essa relação era de 38% a mais. E, em abril, 71%.

Ano passado, até julho, a proporção de anidro ( 2,26 bilhão de litros) de etanol anidro era  33% da do hidratado (6,80 bilhões de litros). Agora, é de 57% (1,94 bilhão de litros de anidro  contra 3,4 bilhões de hidratado), com um mês a menos de moagem sobre 2010.

Se fosse mantida a mesma proporção do ano passado, o anidro estaria com cerca de  4 bilhões de litros de hidratado e 1,3 bilhão de anidro. A oferta de hidratado seria, mesmo com a produção mais reduzida, 20% maior do que é hoje.

Mas não dá no mesmo que esse volume tenha sido vendido como etanol anidro?

Não, porque garante que o mercado de combustíveis siga sendo abastecido muito mais fortemente de gasolina – que leva a haver demanda para o anidro, em proporção de um quarto do volume – e que se facilite a formação de estoques de etanol hidratado para serem vendidos com maior preço, mais ao final do ano.

Se o governo reduzir a mistura de etanol anidro à gasolina vai reduzir a demanda para este tipo de etanol. E obrigar à elevação do hidratado no mix de produção das usinas, forçando a baixa do preço deste .

Consequentemente, aliviando a pressão sobre a produção de gasolina, que a Petrobras continua vendendo a R$ 1,05 o litro, pura. Embora aumente, num primeiro impacto em 7% o volume de gasolina pura na gasolina vendida  no posto, pode representar, ao final, uma redução de volume global, pelo rebaixamento do preço do etanol hidratado, que passou a ser muito pouco consumido.

É claro que a produção de etanol no Brasil tem problemas estruturais, que precisa ganhar em volume e produtividade, que precisa contrar com logística – o projeto do etanolduto de Ribeirão Preto a Paulínia é imprescindível e urgente. Mas é um mercado fortemente concentrado e especulativo. Tem de responder a um sistema de cotas e controle de estoques e não pode ser tratado como a lavoura de coentro e cebolinha.

Tarefa que foi dada, pela presidenta Dilma, à ANP, que não se mexe senão para pedir pressa na licitação de novas áreas de concessão de petróleo.

Não há planejamento que resista a um mercado que tem demanda constante, pouco passível de contração, e uma oferta que pode caminhar para a este ou aquele produto (e há o açúcar, também) ao simples sabor da conveniência dos grandes produtores.

A menos que se queira dizer que “entender” o setor sucroalcooleiro seja deixar o país ser seu refém.

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