Para refletir sobre a ex-compra do Carrefour

Tijolaço



Sei que muitas pessoas se opuseram, de boa-fé, à operação do BNDES que visava abocanhar, com a associação ao Paão de Açúcar, um naco da rede francesa Carrefour, a segunda maior do mundo.
Também a mim, como à grande maioria das pessoas, donos de supermercados não são exatamente as pessoas mais simpáticas do planeta.

E houve uma falha gravíssima de comunicação que fez com que muitos entendessem que isso era “uma ajuda” a Abílio Diniz e um desperdício de recursos do BNDES que, muitos pensam, devem ser aplicados apenas onde a iniciativa privada não quer por dinheiro. E não em oportunidades de negócio que afirmem o país e abram, senão diretamente mercados, as portas para os mercados no exterior.

Tinha tudo para ser um negócio altamente lucrativo para a subsidiária do BNDES que opera as participações acionárias do banco, captando dinheiro no mercado e reinjetando seus lucros no próprio BNDES, até para financiar seus empréstimos a baixo custo para aqueles setores menos ou nada lucrativos.

Agora, não vai passar muito tempo até que o Walmart compre a rede francesa, ficando com 25% do mercado, além dos 18% do Pão de Açúcar ficarem com os franceses do grupo Casino, que deve expelir Diniz do comendo da empresa ano que vem.

Com toda a humildade e sem querer ser dono da verdade, transcrevo um trecho da coluna de Patrícia Campos Mello, da Folha, especialista em política e economia internacional e estudiosa dos fenômenos da China e da Índia, publicada hoje.

E reflitam sobre aquela frustrada operação à luz do que ela informa. Chineses e hindus não chegaram aonde chegaram rezando na cartilha do liberalismo econômico, onde o Estado não entra senão em maus negócios.
Tal como a UE (União Europeia), os EUA encaram o Brasil como alvo prioritário no programa “exportar para sair da crise”. Quando veio ao Brasil, em março, o presidente Barack Obama deixou claro que aumentar as vendas de produtos americanos para o Brasil era um dos principais objetivos dos EUA. Autoridades americanas chegaram a ser pouco diplomáticas ao declarar que a viagem era “fundamentalmente a respeito da recuperação econômica e exportações americanas”, como disse o vice-conselheiro de segurança nacional Mike Froman, responsável por assuntos econômicos internacionais.

“As exportações para o Brasil geram 250 mil empregos nos EUA; metade da população do Brasil é hoje considerada classe média e isso cria grande oportunidade.”

Enquanto as duas combalidas velhas potências lutam por um naco do saboroso mercado interno brasileiro, o Brasil vai às compras na UE em liquidação. A Comissão Europeia acaba de aprovar a compra de quatros empresas espanholas e uma alemã pela CSN. A CSN comprou a siderúrgica alemã Stahlwerk Thüringen GmbH e quatro companhias que pertencem ao grupo espanhol Alfonso Gallardo: Cementos Balboa, Corrigados Azpeitia e Corrugados Lasao.

O BNDES financiou a aquisição da CSN, perdeu dinheiro no processo de descruzamento de ações que a tirou da também financiada compra da Vale, tudo no luminoso governo neoliberal de Fernando Henrique.  E  muitos dos que achavam “imoral” o negócio da compra de parte do Carrefour na França acharam bonito usar o mesmo dinheiro para os doar as estatais.


Os “anjinhos” não são sempre tão angelicais, não.

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