Dívida pode ser boa. Juros altos é que são maus



Os jornais repercutiram, nesta sexta-feira, um estudo encomendado pela BBC que mostra que o Brasil é, afora a Grécia – que não é parâmetro para ninguém, hoje – o país que mais paga juros por sua dívida pública no mundo, se comparado ao seu Produto Interno Bruto.

Quem sabe dos sucessivos recordes mundiais dos juros brasileiros não se espantou com a notícia.
Mas a matéria da BBC traz outro quadro, que mostra quanto os países devem, em títulos, também em relação a seu PIB.

E aí é possível que se veja, graficamente, que a dívida pública brasileira, embora alta, está muito longe de ser uma das mais pesadas entre os 25 países pesquisados.
Resumindo: pagamos muito, devendo nem tanto, embora não seja pouco.

Ou ainda: se nossos juros fossem menores, com o mesmo esforço que fazemos hoje para pagá-los, teríamos captado muito mais recursos para investimentos públicos, sociais e econômicos.

Existem razões para o recente crescimento da relação dívida, uns bons, outros maus.
O ruim, claro, é a necessidade quase permanente de o Banco Central comprar dólares para evitar uma sobrevalorização ainda maior do real.

O bom é que há nela  pesadas emissões diretamente ligadas ao abastecimento do BNDES com recursos para induzir uma política de crescimento econômica – que, num período de estagnação mundial os economistas chamam de  anticíclica – que permita ao país continuar crescendo e, com isso, arrecadando para honrar seus compromissos financeiros.

Mas o desequilíbrio mostrado pela comparação dos dois gráficos não permite fugir de uma verdade.
O Brasil, tal como uma pessoa que se endivida no cartão de crédito ou no CDC , a não ser que seja absolutamente necessário, contrai uma “má divida” com os juros altos pagos com a taxa fixada pelo Banco Central.

É claro que o Banco Central não fixa estas taxas elevadíssimas por prazer. Talvez, até, as crie por medo, que nos faz ser os últimos a baixar juros quando isso é possível e , de  outro, a sermos os primeiros a mantê-los ou a elevá-los quando isso é desnecessário.

É certo que uma política monetária deve ser prudente, mas não se confunda prudência com medo.
De um lado, medo de que o excesso de moeda nacional produzido pela entrada de capitais reacenda as taxas de inflação. Porque isso ampliaria o crédito, com ele o consumo e com este a demanda por produtos. Com maior procura e oferta estável, o movimento de alta seria, no manual dos economistas, inevitável.
De outro, que o fluxo de capitais se reduza drasticamente e , com isso, desequilibre as nossas contas externas.

Por uma razão e por outra, não importa, o resultado é que o segmento financeiro da economia continua registrando uma expansão muito acima daquele medido na produção.
E o capital não apenas tem seu faro voltado para o lucro maior, no menor prazo, como cuida de manter acesas as razões que o possibilitam.

O Brasil de tal maneira acostumou-se a falar fino com os interesses financeiros que, mesmo quando ameaça rugir, sai um miado.

Se, em matéria de política econômica, já paramos de fazer o que nos apontavam como “dever de casa”, talvez seja a hora de fazer o mesmo em matéria de política monetária.

É certo que a situação do mundo é perigosa e torna arriscada a inovação.
Mas também o era em 2008/2009, quando o mundo se debatia com a crise e esta nação optou por “desrespeitar o manual” e chamar ao consumo e à atividade produtiva que fez a tsunami virar marolinha.

Por: Fernando Brito

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