A disputa Cabral-Garotinho no Rio de Janeiro



Cabral atrai PR e Garotinho contra-ataca
Paola de Moura (Do Valor)

Um governador enfraquecido por sucessivas crises que enfrenta um antecessor de fogo morto que ataca para sobreviver. Assim é o atual cenário político do Estado do Rio de Janeiro. Cerceado em seus espaços políticos pelo governador Sérgio Cabral, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) luta para não perder espaço político na guerra pelas prefeituras de 2012.

Desde a crise dos bombeiros, em junho, todo o ambiente positivo que dava ao governador Sérgio Cabral uma ampla aprovação começou a ruir. O clima piorou depois do acidente com o helicóptero na Bahia, que revelou as relações mais próximas de Cabral com empresários como Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, que presta serviços ao governo estadual e com Eike Batista, controlador do grupo EBX.
O fim da unanimidade, que, em grande parte, era sustentada pelo sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) fez a imprensa carioca abrir espaço para denúncias de corrupção e favorecimento no governo Cabral, muitas delas vinham sendo feitas desde o governo anterior por Garotinho.

O jornal 'O Globo', por exemplo, tem publicado denúncias sobre superfaturamento na instalação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Em seu blog, Garotinho, que nas eleições foi o deputado mais votado do Rio, com 700 mil votos, voltou a apontar outros contratos que seriam irregulares. Além disso, também atacou o ex-deputado estadual e atual presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani, e sua família.

O deputado reage à perda de território no Estado, principalmente no interior. Picciani é o principal articulador de Cabral junto à formação de candidaturas para as prefeituras no interior do Estado.
Um delas é a disputa pela prefeitura de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O atual prefeito Sandro Matos (PR) pretende concorrer à reeleição. Mas o governador deve apoiar o deputado estadual Marcelo Simão do PSB, tradicional partido de oposição no Estado que não resistiu e recentemente aderiu à sua base, hoje com 23 partidos.

Por conta das negociações de Picciani, Garotinho atacou o ex-deputado e postou em seu blog informações sobre o patrimônio de toda a família de Picciani, como também de seus dois filhos, o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) e o deputado estadual Rafael Picciani (PMDB). O ex-governador os acusa de terem mentido nas declarações ao TRE. O resultado foi que a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio resolveu investigar a denúncia. Com isso, o assunto ganhou repercussão na mídia expôs o nome da família Picciani negativamente.

Prontamente, a assessoria do ex-deputado procurou os jornais para esclarecer o que chama e uma "campanha de má-fé e leviandade". Ao Valor o deputado informou que os dados enviados ao TRE são corretos porque foi informado o valor patrimonial das cotas e não o valor nominal do capital social da empresa que pertence à família. Por isso, não haveria crime eleitoral.

O governador também ganhou forte apoio do PSD, o novo partido criado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Índio da Costa, candidato a vice-presidência na chapa tucana na última eleição presidencial e responsável pela estruturação do partido no Rio, confirma que sua estratégia é tirar o poder de Garotinho. "Estou fazendo de tudo para reduzir seu poder", afirma. "A bancada de Garotinho (hoje com nove deputados) vai cair à metade", afirma.

Especula-se que os deputados estaduais Samuquinha, Samuel Malafaia e Iranildo Campos migrarão do PR para o PSD. Além disso, o deputado Roberto Henriques, que já recebeu advertência do partido por votar a favor de Paulo Melo, candidato de Cabral, à presidência da Assembleia Legislativa, será candidato a prefeito de Campos. Henriques competirá diretamente com a mulher de Garotinho, a ex-governadora e atual prefeita Rosinha Garotinho.

Picciani e o Cabral, unidos, têm tudo para usar a máquina para ajudar a tirar a família Garotinho do poder. Na próxima segunda, Picciani receberá a Frente Democrática da cidade, formada por 12 partidos de oposição para discutir a estratégia eleitoral. Fontes ligadas ao ex-deputado estadual dizem até que Picciani não aceitou o ataque pessoal de seu ex-aliado e planeja rebater na mesma moeda, com denúncias sobre desvios em Campos.

Na verdade, a briga entre os três começou no início do primeiro mandato de Cabral, em 2007. O atual governador elegeu-se com o apoio dos Garotinho e como continuidade do governo Rosinha. Na época Cabral fazia campanha contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que brigava com o Estado do Rio.

Assim que foi eleito, Cabral mudou de posição. Percebendo que, no Sudeste, o PT não tinha nenhum governo, o governador aderiu a Lula, junto com o PMDB, e passou a ser o principal e único aliado do governo federal na região. A decisão beneficiou muito Cabral, que passou a governar o Estado que mais recursos federais recebeu no segundo mandato de Lula e ganhou autonomia em relação a Garotinho.

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