Cuidar da Petrobras para quem?




O professor Adriano Pires publicou, semana passada, texto fartamente reproduzido nos grandes jornais, como O Globo e o Brasil Econômico.

“É preciso cuidar melhor da Petrobras”, diz ele já no título do artigo, onde critica a gestão da empresa, que estaria “politizada”.

De fato, é preciso cuidar da Petrobras.
A Petrobras não apenas é a empresa mais importante do Brasil, como a empresa mais importante para o Brasil.

Portanto, como empresa estatal, construída com o dinheiro do povo brasileiro, também lhe cabe cuidar do Brasil

O Professor Pires acha que cuidar da Petrobras é divorciá-la do Estado brasileiro. Administrá-la olhando apenas para o livro-caixa, como a uma quitanda, sem levar em conta um projeto de desenvolvimento do Brasil.

O “casamento” entre o Brasil e a Petrobras, além do amor que os envolve, é um excelente negócio.Para ambos.

Ele diz que a empresa perdeu R$55 bilhões do seu valor de mercado por conta de supostos prejuízos de vender gasolina e diesel abaixo do preço internacional, o que teria gerado perdas de R$ 3,7 bilhões. Para fechar esta conta onde cada R$ 1 perdido significaria uma baixa de R$ 13 no valor do capital acionário, acrescenta aí o “mau negócio” que teria sido a compra do direito de exploração de uma reserva de cinco bilhões de petróleo a um preço de US$ 8,51 por barril, durante o processo de capitalização da empresa, no final do ano passado

Sobre a primeira observação, o Professor Pires só esquece de dizer que, quando os preços do petróleo, em 2008, despencaram 70% em seis meses, a política de estabilidade de preços produziu ganhos enormes para a Petrobras. Se agora produz algum prejuízo – e bem menor – isso é próprio das relações duradouras e solidárias.

Ou será que o Professor Pires esquece o que ele próprio disse ao UOL, quando o preço do petróleo estava mais baixo, que “o consumidor brasileiro está (estava) subsidiando o plano de investimentos da Petrobras”. E na hora em que o consumidor – e o país, para não haver explosão da inflação” –  precisa dela, a Petrobras deveria voltar-lhe as costas?

Quanto ao preço das reservas, não houve nenhuma superavaliação, ao contrário. O preço foi calculado por certificadoras internacionais, que trabalharam com um preço mais baixo do petróleo do que aquele  que vem sendo praticado hoje. A Gaffney,Cline and Associates que assessorou o conselho formado pelos acionistas minoritários – privados, portanto –  aprovou o valor do preço do barril usado na capitalização no processo de capitalização. E aprovou considerando um preço futuro do petróleo  tipo Brent de US$ 81,04/barril em 2011 subindo para US$ 92,58/barril em 2018 , que se provaria absolutamente favorável à Petrobras.
Este preço, na sexta-feira, dia 22 de junho de 2011, estava em US$ 100 por barril, mais de 20% acima do estimado no cálculo.

Apesar disso, o Professor Pires diz em seu artigo que foi isso que fez baixar o preço das ações da Petrobras porque “o mercado não gostou do preço do barril e, principalmente, de o Estado aumentar a sua participação na estatal”.

Qual seria o preço que agradaria o “mercado”? Seria como nos bônus de assinatura – isto é, o preço cobrado pela União para conceder uma área de exploração às empresas – estabelecido como valor mínimo pela Agência Nacional de Petróleo, no tempo em que o Professor Pires lá era assessor do genro de Fernando Henrique Cardoso, em 1999?

Quanto foi o lance mínimo, estabelecido pela ANP do Professor Pires para conceder o bloco BM-S-11, onde fica o campo de Tupi, o maior já descoberto no país que, mal começou a produzir, já extrai, a cada dia, 100 mil barris de petróleo? Pasme: só R$ 300 mil, em valores de então, US$160 mil. Ou seja, não compra um apartamento de subúrbio, o que dirá o maior campo de petróleo já descoberto no pré-sal.

E é claro que o “mercado” não gostou que o Estado aumentasse sua participação numa empresa que gera e vai gerar imensos lucros. E o lucro que vai para o Estado não vai para o “mercado”.

É por isso que o Professor Pires reclama de que a Petrobras esteja destinando seus recursos para fazer, segundo ele, “investimentos de pouca qualidade e rentabilidade como a construção de cinco refinarias, produção de etanol e biodiesel e construção de termelétricas”.

Bom negócio, talvez, seria aplicar tudo para extrair o máximo de petróleo o mais rapidamente possível e exportar, importando depois o combustível processado? Ou queimar  o gás que sai junto com o petróleo dos poços?

Só porque esse dinheiro não vem tão rápido, não quer dizer que não venha e, muito menos, que seja pouco.
Mas a Petrobras que o Professor Pires quer cuidar é a do “dinheiro já”, e só.

A Petrobras dá lucros – e muito bons lucros – a seus acionistas. Mas pratica uma visão sustentável, de médio e longo prazo. Não é governada pelo “compra e vende” de curto prazo de acionistas que não possuem compromissos estratégicos com o país e com seu povo.

Porque sendo a maior e mais importante empresa do Brasil, ela não pode deixar de ser acionista do Brasil.
E ações do  Brasil não se vendem, baratinho, no mercado. Nem se jogam fora as suas riquezas, entregando-as rapidamente ao “mercado” sedento, para depois fazer nosso país andar de pires na mão.

Por: Fernando Brito

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