Há deflação na fábrica. Inflação é nos juros

Tijolaço



Foi além do esperado a queda do Índice de Preços ao Produtor, divulgado hoje pelo IBGE e registrando uma retração de 0,55% na variação dos preços “na porta de fábrica”. Era previsível um índice negativo, em linha com o apurado pelo Índice de Preços do Atacado, da Fundação Getúlio Vargas, que apontava uma queda de 0,45% ( e menos 0,5% para bens finais, isto é, produtos acabados).

O dado, somado à informação de aumento da produção industrial registrada no mês passado revela  que não há problemas estruturais nas atividades produtivas no Brasil que estejam levando a qualquer “perigo inflacionário”. O novo problema é, mesmo, o câmbio, que está tumultuando as contas financeiras no Brasil.

A “onda” de previsões catastróficas sobre a situação de risco no sistema de crédito brasileiro tem origem na “dupla do mal“  – juros altos e dólar baixo – e não na economia real, embora esta também tenha muitos problemas infraestruturais.

O ministro Guido Mantega, com toda a razão, faz mistério sobre as medidas que pretende adotar para impedir a entrada de mais dólares no país. Mas espera-se que sejam voltadas para conter o endividamento das empresas brasileiras no exterior.

E seletivamente, para evitar que sejam prejudicados os recursos realmente voltados para a expansão das suas atividades daqueles que entram para criar giro financeiro, com as diferenças das taxas de captação lá e as de aplicação aqui. Embora a aplicação de IOF nas tomadas de crédito de menor prazo já tenham surtido algum efeito, o movimento ainda é muito forte e não há sinal de elevação dos juros lá fora que possa refreá-lo.

O mais provável é que se criem mecanismo para disciplinar e oferecer garantias para as operações de “hedge” no mercado futuro de dólar, onde as empresas que captam dinheiro lá fora fazem compras e vendas para se protegerem dos riscos de variação cambial, embora com o que elas contem mesmo seja com a generosidade do Banco Central em vender e comprar dólar nesse mercado – usando nossas reservas cambiais – para defende-las de valorização rápida do dólar em razão do agravamento da crise mundial.

Este jogo das finanças é  o que vale mesmo na economia falsa e “virtual” que o mundo vive hoje – e que, em prazos maiores, não se sustentará. Esqueçam tudo o que dizem sobre mercado. Esqueçam tudo o que dizem sobre os preços baixarem pela concorrência de lojas e fábricas.

Hoje, em seu artigo no The New York Times, o economista Paul Krugman, falando sobre as pressões para novos cortes de impostos e isenções fiscais nos EUA, diz que “as evidências indicam fortemente que o motivo real pelo qual as corporações estão sentadas sobre essa montanha de capital parado é a falta de demanda dos consumidores”.

O destino dos “capitais parados” da economia mundial estagnada nos países ricos é a atividade intensa das economias emergentes. E enquanto acariciarmos estes capitais com taxas imensas de juros, eles não pararão de vir, ao menos enquanto não tiverem o que fazer (e ganhar) por lá.

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