No território do arquiteto
Por Daniela D'Ambrosio | Para o Valor, de São Paulo (para assinantes)
Um hippie toca um choroso Ernesto Nazareth em sua flauta, enquanto os pensamentos do arquiteto Marcio Kogan flutuam pelo emaranhado eclético de uma feira de antiguidades. Entre vidros de cores e tamanhos variados, repousa uma caixinha de música. Seus passos avançam, mas a peça amarela de marchetaria italiana o chama de volta. A senhora ruiva quer R$ 120,00 pelo objeto. Peça em bom estado e a bailarina, veja só, dança "O Sole Mio". Kogan paga R$ 100,00 e sai realizado. A epifania em forma de caixa de música. Quase uma maquete pronta. "Era a ideia que faltava para um projeto. A arquitetura totalmente inerte ou se movimentando como um corpo."
O Marcio Kogan arquiteto encontrou na caixa a inspiração para o projeto da sede do Grupo Corpo, um concurso de arquitetura do qual sairia finalista. Como ele próprio define, uma obra totalmente feita de aço, com grandes espaços ocupados por ambientes em forma de contêineres livres e tetos escamoteáveis, onde tudo se abre e se fecha de forma inusitada.
O Marcio Kogan cineasta encontrou na caixa a inspiração para uma narrativa - ele costuma criar histórias para algumas de suas obras. A caixinha fora um presente de Pablo a Pilar, dançarina apaixonada por flamenco na sua última apresentação no Teatro Zorrilla, em 1947. "Pilar está sentada com seu velho roupão rosa em frente a uma penteadeira. Com uma lágrima escorrendo pelas profundas rugas de seu rosto, olha para a bailarina que retribui o olhar pelo espelho da caixinha de música." Pilar morre em 1958, a caixinha viaja com a prima para as Ilhas Canárias, depois para Nova Jersey, vai até Hong Kong (onde Wong Chung tenta, em vão, fabricá-la em plástico por menos de US$ 1 com o chip da música "My Heart Will Go On", hit de Céline Dion), até que em 2000 uma sacoleira brasileira a compra em Miami.
O Marcio Kogan colecionador... Esse acabou com o desassossego da bela caixinha, que agora descansa - sem muita paz, é verdade, porque vive caindo das mãos de Luci, encarregada da limpeza - na extensa bancada atrás de sua mesa de trabalho. Incrível como o presente de Pablo ainda consegue se destacar no meio de tantos objetos - perto de cem deles. Uns mais miúdos. Outros, nem tanto. A bonequinha vintage fica perto das imagens de santos (Kogan é judeu) que estão atrás da caixa de Band-Aid do Mickey. Mais à direita um 27 (número de sorte) grande e vermelho. No canto, o cenário feito com miniaturas revive a tomada de Berlim pelos aliados. A foto do pai, Aron Kogan; "O Silêncio", de Ingmar Bergman; e "Meu Tio", de Jacques Tati, estão ali, logo atrás do anãozinho Dunga. Presentes ou lembranças de viagens que se acomodam constantemente entre novas - e inusitadas - peças. "Deus está nos detalhes", já teria dito o arquiteto alemão-americano Mies van der Rohe, referência para Kogan.
Tudo ali tem a sua história. Que Kogan não entrega assim, logo de cara, porque não é de falar sem ser cutucado. Tem um jeito acanhado que os primeiros minutos de conversa não conseguem disfarçar. Mas faz questão de nos ciceronear - está acompanhado da arquiteta Mariana Simas, mais falante - e apresentar cada canto do seu escritório. É que neste "À Mesa com o Valor" nosso convidado é o anfitrião. Em vez de um restaurante, almoçamos no Studio MK27, escritório do arquiteto que foi cineasta por cerca de dez anos e construiu uma obra arquitetônica que dialoga livremente entre as duas artes. "A forma de emocionar, de um jeito sutil, as proporções da tela alongada, o jeito de iluminar a obra são visões de quem trabalhou com cinema, embora seja tudo muito espontâneo", conta o Kogan arquiteto, mesma barba e mesmos cabelos cacheados dos tempos de cineasta - embranquecidos respeitosamente pelo tempo.
Reconhecido pelos volumes de concreto que lembram caixotes, pelo design sem excessos e pela textura nas fachadas, Kogan se especializou na construção de casas. Embora também projete espaços comerciais e resorts. Referência de estilo e do traçado contemporâneo, suas casas são - sem força de expressão - cinematográficas. Uma casa de Kogan tem vida própria. Um cenário onde os donos têm o privilégio de poder pagar até R$ 8 mil o metro quadrado para viver o seu roteiro cotidiano. Seja na Casa Toblerone, na Casa Paraty, na Casa das Figueiras, na Casa Vilatuelda e mais uma porção de casas com nome e sobrenome. "Quando você passa de um ambiente para outro tem que ter uma outra emoção. Tem muito a ver com a construção do roteiro cinematográfico. Não pode ser monótono, chato e burocrático."
Andar pelo seu escritório é um pouco assim. Atrás de um suposto armário surge uma biblioteca de materiais onde um filtro de ar-condicionado vai se transformar em um moderno corrimão. Kogan está no mesmo endereço há cerca de 30 anos. Engana-se quem espera encontrar ali os mesmos vãos livres, as imensas portas de vidro retráteis e a exuberância verde das casas que projeta. O estreito terreno é dividido em três andares - o térreo estava alugado para uma loja até o ano passado. Foi reformado e deu espaço para uma recepção, uma sala de reuniões, além de uma cozinha e uma área externa. Luci, que só conseguia servir sucos e café, ficou feliz da vida.
Kogan no seu Studio MK27: colecionador, para criar ele também se inspira em peças que ganha de presente, compra ou traz de viagens
É do lado de fora, numa iluminada tarde de sol de inverno, que somos recebidos. A mesa de azulejos brasileiros está repleta de especialidades árabes, compradas em um restaurante próximo. O cheiro de esfirra quentinha apetece. Além de Mariana Simas, arquiteta que cuida da gestão e da comunicação do escritório, Diana Radomysler, coordenadora da área de projeto de interiores, que trabalha há 19 anos com Kogan, também nos acompanha. O Studio MK27 tem 22 arquitetos, que trabalham como coautores dos projetos de Kogan.
Enquanto repete o ritual de preparação do seu quibe cru - amassado com azeite, sal, cebolinha, cebola e bastante pimenta -, Kogan volta aos tempos de cinema. Como um estudante de arquitetura que não estava tão interessado assim em arquitetura, ele achou mais interessante gastar a criatividade nas telas. Numa viagem aos Estados Unidos, durante a faculdade de arquitetura no Mackenzie, comprou uma câmera Super 8 - na época um símbolo de protesto contra a ditadura. Era o que faltava. Tinha críticas e humor sobrando e um amigo disposto a encarar a empreitada. O amigo? O arquiteto Isay Weinfeld. Fizeram juntos 14 curtas num período de dez anos, alguns deles premiados.
Em 1988, filmaram o primeiro e único longa, "Fogo e Paixão". Com baixo orçamento, cerca de US$ 700 mil, produziram o filme. Uma comédia que flerta o tempo todo com a arquitetura e conta a história de um grupo de pessoas em um tour de ônibus pela cidade de São Paulo. Numa época de profunda crise da indústria cinematográfica brasileira, o roteiro conseguiu atrair Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Nair Bello, Tônia Carrero, Rita Lee e Regina Casé, em breves, mas hilárias, participações especiais.
A repercussão do filme foi boa. Quem não gostou tanto foi o próprio Kogan. "Assim que acabou, eu descobri que não ia mais ser cineasta", conta. Gastou mais do que tinha se proposto, conheceu de perto a "máfia da distribuição", aspas suas, e terminou incomodado com todo o processo. "Quando vai começar a produção, chegam umas 80 pessoas para trabalhar, sendo que 40 você vai amar, 20 vai odiar e odiar e 20 são indiferentes. É muita gente, uma relação estranha que eu não gostei. Aqui no escritório, somos como uma família."
Na época, o escritório de arquitetura, ainda pequeno, funcionava em paralelo, mas não resistiu à ausência de Kogan. "Saí quebrado da história, fiquei seis meses sem conseguir aparecer. Quando eu volto, o escritório e a minha vida de arquiteto começam praticamente do zero", relata, enquanto coloca gelo no copo e se serve de uma latinha de refrigerante. Os tempos de cineasta que precisava se firmar como arquiteto estão distantes, mas ainda perto o bastante da sua memória. "O começo é uma tortura, você não tem quase nada para mostrar, tem tudo para provar. E depois, quando já sabe que pode fazer um grande trabalho, não tem um grande cliente", lembra-se. Tempos distantes.
Os primeiros projetos, como a Casa Goldfarb, foram feitos em parceria com Weinfeld. Mas nunca foram sócios. O último a quatro mãos foi o Hotel Fasano. "Quando os escritórios eram pequenos, dava certo. Depois que cresceram, ficou complicado administrar o trabalhar em conjunto e meio sem sentido também", diz Kogan. E como é a relação de vocês hoje? "Boa."
Ainda estamos saboreando o quibe cru e as saladas verdes. Kogan está na fase light e sente saudades do escargot à provençal que adorava preparar. Amante das culinárias francesa e italiana, depois que o colesterol desembestou a subir e vieram as inoportunas restrições gastronômicas, o prazer em cozinhar não é mais o mesmo. Perdeu a manteiga e a graça.
Enquanto coloca coalhada seca no pão árabe, Kogan diz que a Casa Gama Issa, em São Paulo, pode ser considerada um marco na sua trajetória. Foi construída em 2001, lembra Mariana, que faz as vezes da memória de Kogan, que não parece lá muito amigo de datas e calendários. A Gama Issa já tinha o onipresente formato de caixa, mas ainda predominava o branco - hoje suas obras foram aquecidas pelos painéis de madeira. "Até a Gama Issa, havia poucas residências familiares premiadas, foi uma mudança de patamar."
De todos os seus projetos, porém, o de mais destaque é a Casa Paraty, terminada em 2009. Num terreno de 50 mil metros quadrados e uma praia particular, Kogan fez duas caixas de concreto armado, sobrepostas e deslocadas entre si. Eleita casa do ano pela prestigiada revista inglesa "Wallpaper" em 2010, a Paraty virou referência da casa brasileira moderna e sofisticada. E seu arquiteto, motivo de cobiça. Agora que não faltam grandes clientes, o dilema é outro. "Tem gente que quer uma casa igual à que você já fez e, obviamente, não vai fazer de novo."
A vitrine funcionou. E o Studio MK27 tem hoje quase metade das suas obras no exterior. Assinou casas no Canadá, Chile, Dubai, Tel Aviv e Vietnã e, no momento, levanta uma casa em Lima. Também entraram na área hoteleira e estão fazendo um resort em Portugal e outro em Báli.
- Qual é a diferença de construir aqui e fora?
- A mão de obra aqui é muito melhor. Fora, é tudo industrializado. Aqui, a gente tem liberdade e disposição para criar. Lá, você pesquisa o catálogo e pronto. Quando tem algo muito bom lá fora e fica caro trazer, temos maleabilidade para fazer algo parecido de forma artesanal. Mas hoje fazemos as duas coisas, importamos e exportamos know-how.
Materializar o sonho de alguém que está do outro lado do mundo não é exatamente fácil. Na China, onde o escritório foi contratado para projetar um condomínio de casas de alto padrão em Xangai, um projeto deu totalmente errado. Por causa da topografia do terreno, as casas ficariam abaixo do nível da rua (quem andasse por ali não veria as construções), com tetos verdes (inspirados nas plantações de arroz), garagem coletiva no subsolo e detalhes em arquitetura vernacular.
Um, dois, três, quatro erros fatais. Depois de anos de privação do consumo, os chineses ricos fazem absoluta questão de exibir suas casas e seus carros e primam pela arquitetura globalizada - nada de tradição chinesa. E o teto verde, que remete a chapéu verde, este jamais. Como os militares iam para a guerra com os seus chapéus verdes, a associação com traição é imediata. Kogan, Diana e Mariana insistiram no projeto e terminaram despedidos. Em alto e bom chinês. "O processo foi muito interessante, porque mostrou a relação do arquiteto com o aspecto sociocultural", avalia. "E ganhamos uma massagem nos pés que valeu o projeto", diz, rindo. Kogan é de riso fácil, mas não solto, que a timidez não permite.
Agora, cada um se serve com esfirras e manaíche, o que deixa o nosso almoço um tanto informal e descontraído. A conversa, idem. Aos poucos, Kogan vai se abrindo e, enquanto joga mais uma pitada de pimenta no prato, rega nossa conversa com humor e uma ironia fina. A mesma dos filmes. A mesma da coleção atrás da mesa. A mesma da massagem aí de cima. A mesma que encerra os últimos passos da caixinha de música. Marcio Kogan é dois e é um só. Cineasta e arquiteto. Tímido e divertido.
Entre especialidades árabes dispostas na mesa de azulejos brasileiros de seu escritório: tímido, mas divertido, Kogan fala de sua experiência com filmes e das obras arquitetônicas, muitas construídas no exterior
Paulistano na fala e na alma - a cidade não só foi cenário do longa-metragem como é referência no gosto assumidamente cosmopolita. Prefere cidades que lembrem São Paulo, como Londres e Nova York. "São Paulo é feia, ruim, errada, mas talvez a combinação de todos esses aspectos negativos façam dela um lugar interessante." E repete o discurso universal da política errada de mobilidade, baseada na cultura americana de "freeways" e pontes.
Conversa vai, conversa vem, e a conversa volta de novo no tempo. Kogan teve infância confortável, morou no Jardim Europa, numa casa inspiradora, projetada pelo pai, o engenheiro Aron Kogan. Sócio da construtora Arthur & Kogan, Aron construiu o Mirante do Vale, prédio mais alto de São Paulo, ajudou a construir o Hospital Albert Einstein e projetou o já demolido São Vito.
Mas Aron inovou mesmo na própria casa, toda eletrônica e mecanizada em plenos anos 60. O portão da garagem, as lâmpadas da casa e alguns equipamentos podiam ser acionados por uma válvula, ligada a um radiotransmissor que ocupava quase todo o porta-malas do Impala da família. A parafernália inventiva funcionava perfeitamente bem. Não fosse aquele inconveniente ônibus elétrico que circulava na avenida Europa, que vira e mexe dava interferência no sistema. Durante a madrugada, não raro, a casa se abria e começava a funcionar. "A arquitetura dessa casa era muito forte e certamente me influenciou", conta Kogan, que reconheceu sua casa e sua história no filme "Meu Tio", do francês Jacques Tati.
Aos 8 anos, o menino Kogan decidiu dar um presente ao pai. Caprichoso, fez uma colagem com fotos dos edifícios que ele havia construído. Não teve tempo de entregar o álbum. Aron fora assassinado em um roubo naquele mesmo dia. "Infelizmente, joguei fora num momento de tristeza, adoraria ter guardado", conta, mágoa escapando entre as palavras.
Sem muitos detalhes, Kogan diz que viveu algum tempo em "preto e branco". No texto sobre Pilar, a espanhola que ganhara a caixinha de música no dia que encerrava a sua carreira, escreveu: "A imensa angústia e solidão que tomam conta da sua vida poderiam ainda render a este narrador que conhece tão bem esse assunto algumas dezenas de linhas dessa história banal". A timidez quase patológica - causa de "vexames homéricos" e brancos de infinitos dez minutos em aulas e palestras - Kogan credita ao trauma infantil. Hoje, ainda não se deixa virar pelo avesso, é verdade, mas consegue falar de si. "Já fui bem pior."
A paixão pelo cinema brotou justamente quando viu retratada na tela aquela melancolia que lhe consumia havia tempos alma e coração. Era um dia de céu também em preto e branco, quando Kogan, "péssimo aluno" confesso, matava mais uma aula no colégio estadual Antônio Alves Cruz, em Pinheiros. Resolveu entrar no cinema. O escuro da sala o confronta com o denso e polêmico "O Silêncio", do sueco Ingmar Bergman. "Eu devia ter uns 15 ou 16 anos e não conhecia Bergman, mas me identifiquei tão profundamente com o filme que teve um impacto muito grande na minha vida. Os meus sentimentos estavam todos refletidos ali. Me deu um clique e eu saí obcecado por cinema."
Depois de mais de 20 anos afastado das câmeras, o Kogan cineasta reapareceu há 2. O clique, dessa vez, foi dado pela Bienal de Arquitetura de Veneza. O Studio MK27 foi convidado para representar o Brasil. O tema era "commom ground" e Kogan resolveu fazer o que chamou de "filme-instalação" - filmou 18 cenas dentro de uma das luxuosas casas que construiu em São Paulo.
Uma parede com pequenos visores dava ao visitante a exata sensação de ser um "voyeur". Ele assistia ao sexo burocrático do casal, o banho do marido, a espera ansiosa da mulher pelo personal trainer, o filho entretido num videogame e a rotina dos empregados. A iniciativa foi elogiada pelo jornal britânico "The Guardian", que usou os adjetivos "divertido" e "instigante". "Felizmente, não há nenhum sinal do próprio arquiteto. Às vezes, a arquitetura é mais importante que o arquiteto."
Já foram feitos outros três filmes e novas produções estão por vir. "Acabei gostando e resgatei isso." Os filmes também apresentam o trabalho do estúdio nos concursos. "Nossas apresentações viraram um sucesso", diz Diana. Quem cuida dos concursos e projetos especiais no escritório é o filho Gabriel, formado em arquitetura na Universidade de São Paulo e também envolvido na direção dos filmes. A área tem um papel fundamental para o escritório por representar uma diversificação em relação à predominância das casas. "Teve um momento que era quase 100% casa, mas nunca foi proposital", afirma Kogan. Agora, em uma joint venture com o Teatro Alla Scala, em Milão, e a Royal Opera House, de Londres, estão fazendo um centro de produção para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro que engloba o restauro de um edifício histórico na área do Porto Maravilha. Também ganharam um concurso para o retrofit de um prédio modernista em Barcelona.
O arquiteto não tem obras públicas no currículo. Porque não quis ou não surgiu oportunidade? "Eu gostaria, mas não surgiu. Quer dizer, teve uma longa época no Brasil que não deu oportunidade para mim e para toda uma geração de arquitetos. Todas as obras públicas, um lugar bom para começar, iam parar nas mãos do Niemeyer."
Os pratos foram recolhidos e chega a sobremesa. Sorvete. O doce do chocolate e o azedo do limão se contrapõem, como o arquiteto que terminou a faculdade odiando o venerado Niemeyer, mas hoje tem um retrato dele no segundo andar do escritório. "Hoje sou fã, adoro o modernismo brasileiro, o escritório é seguidor desse trabalho. Depois de repensar todo esse movimento e trazer a uma nova luz contemporânea, com novas tecnologias e novos elementos é o que a gente faz, de fato. Mas, nos anos 70, não representava mais o que acontecia no mundo."
Niemeyer está na parede e na lista de referências de Kogan, ao lado de Rino Levi, Lucio Costa e Lina Bo Bardi - que define como "a grande mulher da arquitetura brasileira". Entre os estrangeiros, Mies van der Rohe, que foi professor da Bauhaus e fez o Pavilhão Barcelona. Hoje é a arquitetura japonesa que o seduz. "Eles têm uma linguagem estética extremamente contemporânea, que repensa os fundamentos básicos da arquitetura."
- E a arquitetura do futuro, como você imagina?
- Há vários caminhos. Hoje já se fala em casas plotadas em 3D. Embora a palavra sustentabilidade esteja banalizada, horrível e usada para o marketing, a questão ambiental é muito importante. O Brasil e o mundo andam na direção da economia de recursos. A energia solar, que não se pagava há uns anos, hoje se paga. Os equipamentos vão se sofisticando e o mercado vai fazer a conta fechar. Há muitos materiais tecnológicos sendo criados. Um futuro próximo seria a consolidação de todos esses sentidos.
Já terminamos o café e Kogan me entrega seu cartão. Na frente, uma holografia da bonequinha vintage, que virou símbolo do escritório e está até nas placas das obras. A dele usa óculos redondos de aros grossos e negros. A de Diana tem um charmoso "cat eye" retrô. A boneca do cartão da Mariana usa um chapéu de Carmen Miranda. Como a caixa de Pilar, ela também foi arrematada numa loja de antiguidades. "É para tirar um pouco da seriedade de tudo", resume Kogan, jeitão introvertido, enquanto, já nas minhas mãos, a boneca pisca como em sinal de aprovação.
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