Supernanny do CEO

Jornal Valor

Postado por: Rodrigo Uchoa Seção: consumo, Estilo de vida

Daniela Rogatis, da Rogatis Family

Escola supercompleta, aula de chinês, iPad, notebook, videogame e viagens. Os pimpolhos têm de tudo, mas não é suficiente. Entre escolas focadas no vestibular e mães abduzidas pelo mercado de trabalho, há famílias inseguras sobre os rumos da educação dos pimpolhos. Para reaver as rédeas desse processo, andam recorrendo a uma consultoria especializada, alguém que diga qual a melhor escola, os livros que o pequeno deve ler, a programação ideal para as férias e as brincadeiras que deve fazer.

A consultoria Rogatis Family, de São Paulo, cobra R$ 108 mil das famílias paulistanas mais endinheiradas por uma espécie de raio-X da educação atual e futura do filho, o caminho a ser seguido para garantir que, quando chegar a hora, o nobre rebento terá condições de assumir o comando da empresa da família ou tomar conta da generosa herança que lhe cabe.

A educadora Daniela Rogatis criou a empresa para oferecer esse serviço que, segundo ela, passou a ser requisitado pelas famílias que perderam o papel de liderança na educação das crianças. "O ingresso da mulher no mercado de trabalho nos últimos 30 anos e o aumento das competências no currículo das escolas acabaram fazendo as famílias delegarem aos professores a educação dos filhos", diz a profissional. Ao papai e à mamãe teria ficado só a gostosa função de dar amor e carinho.

A Rogatis oferece o que chama da profissionalização da liderança dos pais, por meio do "design da aprendizagem". Na prática, organiza o que deve e como deve ser ensinado para determinada criança de acordo com os desafios que a família queira propor. "O objetivo é que os filhos deem conta dos desafios que a vida colocar e saibam tomar decisões no momento em que forem solicitados a isso", diz Daniela. No fim das contas, o que todas as famílias procuram é a resposta para uma simples pergunta: o que faz meu filho feliz? "Os pais nem sempre sabem a resposta."

Daniela é formada em pedagogia e administração de empresas pela PUC, com especialização em gestão de "family room" pelo Family Institute de Santa Fé, nos Estados Unidos. Na Rogatis, trabalha ao lado de pediatra, neuropsicóloga, psicóloga e professores, que ajudam a fazer o mapeamento das crianças - ela atende a partir dos três anos de idade e no máximo 18 clientes ao ano, dada a personalização do trabalho. O método desenvolvido é composto por quatro etapas, começando em conversas com os pais e com a criança. Depois, o pequeno passa pela análise de diversos profissionais para avaliar sua evolução física e intelectual, assim como currículo e o repertório cultural. "Nesse momento, verificamos o que a criança não conhece e o que deveria ou não saber com a idade que tem", diz Daniela.

Por fim, a equipe visita a casa, a escola e a todas as aulas que a criança frequenta, para conhecer sua realidade. Depois de cerca 45 dias, o mapeamento fica pronto, com um desenho do momento atual do futuro brilhante ser humano e do que vai ser necessário à criança para que ela chegue aonde a família quer. E mais importante: como fazer para implementar isso, quais livros devem ser comprados, as brincadeiras que devem ser feitas, sugestões de roteiros para as viagens de férias etc.

Depois de entender o complexo e detalhado mapeamento que a Rogatis faz para projetar o futuro educacional das crianças, a pergunta que fica é: como os avós desses pimpolhos davam conta da mesma tarefa no passado, sem nenhuma dessas ferramentas - e gastando um tanto menos de R$ 100 mil para isso? Daniela tem uma resposta na ponta da língua. "O momento atual é outro. A vida contemporânea tem muitas novidades, como a mudança no papel da tecnologia. As famílias não têm conhecimento suficiente para preparar os filhos pra toda essa novidade."

A Rogatis (até pelo preço) só presta serviços pra famílias de padrão AAA e diz que os principais erros dos pais dessa classe social estão nos excessos. Papais e mamães afoitos querem oferecer tudo muito rápido e ao mesmo tempo: muitos cursos, muitas aulas, muitos materiais. "Conteúdo inadequado deixa a criança estagnada. Não adianta comprar tudo e não mostrar como dar uso às coisas. Já ouvi pais dizendo que dão tudo aos filhos e quando chego no quarto da criança encontro os videogames de última tecnologia, computador e iPad. Nenhum brinquedo. Isso não é tudo. É preciso deixar as crianças serem crianças", diz Daniela.

Ela conta que ao final da consultoria encontra pais mais seguros e firmes na liderança da educação dos filhos - e convencidos de que o processo não é como uma terceirização da educação. "Damos instrumentos para as famílias manejarem o projeto de educação dos filhos, para que elas saibam o que estão fazendo e para onde estão os levando." Há até os que querem seguir com o acompanhamento da Rogatis - o que custa mais R$ 54 mil por ano.

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