Racismo: Tevê Australiana mostra tribo brasileira como assassina de crianças


Marcelo Pellegrini na Carta Capital

Imagem do "aventureiro" Paul Raffaele que visitou a tribo Suruwaha junto com o repórter Tim Noonan. Foto:© Channel 7

O programa Sunday Night, da emissora de tevê australiana Channel 7, classificou a tribo brasileira Suruwaha como infanticidas e os “piores violadores dos direitos humanos do mundo”.

Segundo divulgou nesta quarta-feira 7 a ONG de direitos indígenas Survival International, o programa exibido em setembro de 2011 descreveu os índios da tribo amazônica como “cultuadores do suicídio” presos na “Idade da Pedra”.

Em entrevista à ONG, um Suruwaha disse que os australianos filmaram a tribo e depois mentiram a seu respeito.

“Eles fizeram muitas filmagens. Filmaram os Suruwaha e foram embora. Chegaram na terra dos estrangeiros e mentiram sobre nós”, conta.

“Há muito tempo houve infanticídios. Hoje isso não acontece mais”, garante o índio.



Um menino Suruwaha banha um bebê em um riacho. Foto: © Armando Soares Filho/ FUNAI


Missão evangélica

De acordo com a Survival, o programa Sunday Night possui vínculos com os missionários evangélicos. “O site do programa está abertamente angariando fundos para uma organização evangélica associada à campanha contra os indígenas”, disse Sarah Shenker a CartaCapital.

Esta não é a primeira vez que os índios da tribo Suruwaha sofreram com relatos distorcidos. Anteriormente, a organização evangélica Jovens Com Uma Missão (JOCUM) do Brasil já havia afirmado que membros da tribo assassinavam regularmente bebês recém-nascidos.

“Atualmente, a JOCUM faz um lobby junto à bancada evangélica do Congresso Brasileiro pela aprovação de uma lei permitindo que crianças indígenas sejam retiradas de suas famílias”, afirma Shenker.

Em reposta às acusações de missionários evangélicos, um indígena Suruwaha dispara: “Esta mensagem é para a JOCUM: Por quê vocês estão maltratando os Suruwaha? Os Suruwaha não maltratam suas crianças. São os integrantes da JOCUM que são maltratadores. Junto também com os australianos.”

Devido ao conteúdo distorcido da reportagem, o Channel 7 está sob investigação formal da Autoridade Australiana em Mídia e Comunicação (ACMA).

“Este relato é muito prejudicial aos índios e tem gerado grande raiva entre os Suruwaha. Este tipo de matérial é completamente inaceitável e traz lembranças do desprezo colonialista aos índios ‘selvagens e primitivos’. Esperamos que as autoridades brasileiras também processem o Channel 7″, frisa Shenker.

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