Raio X de um linchamento

Post do Blog do Nassif

É possível que apareça alguma testemunha-chave que prove que o italiano é, de fato, um pedófilo. De minha parte, duvido.


Vamos a algumas matérias sobre o tema, publicadas hoje pela mídia, para identificar a fragilidade do que se tem até agora. E mostrar, didaticamente, os recursos da mídia para esquentar um clima de linchamento. O que se observa, na matéria abaixo, é o mesmo estoque de recursos primários - mas eficientes para uma opinião pública desarmada - usado em tantos outros linchamentos.

Clique aqui para matéria de O Globo, baseada em outra da Agência Brasil.

O que tem de objetivo a matéria:

O gerente da barraca Croco Beach, Heitor Batista, disse que somente o italiano e a filha de 8 anos estavam na piscina quando o casal de turistas brasileiros acionou os monitores, dizendo-se incomodado com o comportamento do estrangeiro. A declaração de Heitor à Agência Brasil contradiz a mulher do empresário italiano. Ela que disse que também estava na piscina com o marido e a filha na barraca, que fica na Praia do Futuro, em Fortaleza.

Não quer dizer nada. A mulher disse que estava na piscina com o marido. Estar na piscina não significa estar dentro da água, mas no mesmo ambiente da piscina. Não muda em uma linha o que ela disse. Mas já se interpreta que houve “contradição” no depoimento.

Segundo o gerente.

- Na piscina só estavam o italiano e a filha dele. O resto do pessoal estava em uma mesa consumindo, tinham almoçado, mas na piscina estava só o italiano e a filha - disse o gerente.

A segunda “contradição” seria a declaração da esposa de que pai e filha mal falam o português:

Depoimento do gerente da barraca:

A filha fala bem o português e fala italiano também porque ela nasceu lá. Ele fala português meio misturado com italiano. Mas é perceptível para quem vai atendê-lo. Ele se comunica bem, pelo menos na nossa área, que é a gastronomia - disse o gerente.

Na Itália eu também me comunico muito bem no campo da gastronomia.

A terceira “contradição” também não existe, mas serve para mostrar a possível motivação dos delatores:

A mãe da menina afirmou ainda que em nenhum momento sua família foi abordada pelos funcionários da barraca, que tem 13 mil metros quadrados. No entanto, de acordo com os funcionários, eles a avisaram sobre a reclamação do casal de turistas brasileiros, quando ela estava em uma lan hause localizada dentro da casa. De acordo com os funcionários, a mãe perguntou de quem era a reclamação e foi até eles para discutir. Irritado, o casal resolveu chamar a polícia. O gerente também confirmou que o casal pediu para que o italiano fosse alertado sobre sua conduta.

Ora, é evidente que, pelo relato, a mãe não foi alertada pelos funcionários da barraca. Eles apenas transmitiram o recado dos dois delatores. Onde está a contradição? Aí ela vai até os dois e batem boca. “Irritado, o casal resolveu chamar a polícia”. A única informação objetiva ficou escondida: a irritação do casal que levou uma bronca da mãe.

E continua o jogo de ilações, sem nenhuma evidência adicional:

O gerente afirmou que, caso fique comprovado o crime de abuso sexual, os monitores terão que ser demitidos.

E se eu souber que o gerente praticou pedofilia com filhas de hóspedes, ele será preso. Qual o valor dessa bobagem dita pelo sujeito, certamente provocado pelo repórter?

Essa maluquice é completada com uma declaração de uma delegada:

Segundo a delegada Ivana Timbó, chefe da Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescente (Dceca), responsável pela apuração do caso, as informações prestadas foram muito veementes. As duas testemunhas disseram que o italiano estava dentro da piscina com a filha e que as carícias feita por ele na filha incomodaram várias pessoas que estavam na barraca.

Tudo continua girando exclusivamente em cima das declarações das duas testemunhas. Cadê as várias pessoas incomodadas? Até agora, apenas na cabeça dos delatores.

Todas as testemunhas adicionais ouvidas - pela reportagem da TV Globo - negaram ter presenciado qualquer ato libidinoso.

Está seguindo a mesma lógica de outras acusações falsas.

No primeiro dia, sai a acusação bombástica, sem muitos elementos. A gente lê e diz, para ser bombástica assim, deve haver elementos, só que não deu tempo de publicar.

No segundo dia, alguns elementos de que o italiano pode estar sendo vítima de armação, nos depoimentos de funcionários da barraca ouvidos pela Globo.

No terceiro dia, como em todo bom processo de linchamnento, os funcionários desaparecem da cobertura. Ouve-se um gerente que nada sabe sobre o assunto, e só fala sobre hipóteses, e uma delegada que se baseia exclusivamente no depoimento dos dois delatores. Nenhum elemento a mais.

Repito: podem aparecer evidências maiores contra o italiano? Poder, pode. Mas nunca vi um caso em que chegando-se ao terceiro dia sem nenhuma evidência, vá se conseguir alguma depois. A não ser pelo clima de linchamento que induz pessoas como o gerente a atender ao clamor da malta.

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