Datafolha sobre mensalão é desserviço à democracia
Brasil 247
QUEM DEVE JULGAR: A OPINIÃO PÚBLICA OU OS JUÍZES, COM BASE NOS AUTOS? EM SUA COLUNA DE HOJE, ELIANE CANTANHEDE DÁ VOZ À PESQUISA QUE DEFENDE A PRISÃO DE RÉUS COMO JOSÉ DIRCEU, COMO SE A JUSTIÇA PUDESSE SUBSTITUÍDA POR UMA ENQUETE NAS RUAS
Neste sentido, a Folha de S. Paulo promoveu um desserviço à democracia, neste domingo, ao publicar uma pesquisa de opinião do instituto Datafolha sobre a expectativa do brasileiro em relação ao julgamento do mensalão. O desejo é cadeia para os réus, mas a expectativa é de condenação sem prisão.
O direito, no entanto, está na Constituição e nas provas dos autos – e não nas ruas. Ao indicar um número, o de que 73% querem cadeia, o Datafolha coloca uma pressão desnecessária no STF. E reforça a pressão por meio de colunistas como Eliane Cantanhêde. Diz ela que a possível absolvição, também prevista pelos que foram ouvidos na pesquisa, revela a “descrença nas instituições”. Leia abaixo:
BRASÍLIA - Nada como um dia atrás do outro para repor as coisas nos seus devidos lugares.
Num dia, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, declarou que a população não está nem aí para o mensalão e para o julgamento no Supremo. "Está mais voltada para [a novela] 'Avenida Brasil' e Olimpíada", decretou.
No dia seguinte, temos aí números que resgatam a realidade e relativizam a ficção. Segundo o Datafolha, 81% dos cidadãos e cidadãs pesquisados têm conhecimento do que significa mensalão, e 75%, de que o julgamento começou.
É verdade que todo mundo fala da novela e da Olimpíada, mas o mensalão também é bem popular.
A Olimpíada desvia a atenção do mensalão, ou o mensalão é que desvia a atenção da Olimpíada? No mínimo, os dois dividem olhares e emoções pelo país inteiro.
O julgamento mal começou, falta a defesa oral de boa parte dos réus e o ministro relator, Joaquim Barbosa, nem proferiu ainda o seu voto, mas o Datafolha mostra que as pessoas já até tiraram suas próprias conclusões.
Sobre o eixo central do debate, 82% se dizem convencidos de que o esquema era de compra de votos de parlamentares, como acusa a Procuradoria-Geral da República -e não apenas de caixa dois, como defendem os réus e seus advogados.
A maioria dos ouvidos, 73%, acha que os acusados devem ser condenados e presos. Poucos, 14%, que devem ser condenados, mas não presos. Só 5% defendem absolvição.
Os que não sabem responder são 8%. Pode ser desinformação, mas parece a resposta mais racional, já que dados e versões ainda estão sendo confrontados e processados pelos reais juízes.
Dado fundamental: se 73% defendem condenação e prisão, a maioria (43%) acha que todos serão absolvidos. Bem, aí já é um outro problema: a descrença nas instituições.
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