Grupo das potências decadentes quer manter o mundo sob controle

Reunido em Paris, o G8 pressiona para continuar comandando o FMI, exige renúncia de Kadafi e promete bilhões de dólares ao Egito e Tunísia. O objetivo, mal disfarçado, é preservar a decadente ordem imperialista no Oriente Médio, na África e no mundo. Por Umberto Martins

O grupo anunciou nesta sexta-feira (27) um pacote de mais de US$ 20 bilhões destinado ao Egito e à Tunísia. Os dois países foram palcos recentes de revoltas populares que resultaram na queda dos regimes ditatoriais pró-Ocidente e inspiraram outras manifestações oposicionistas no Oriente Médio e norte da África.

Cinismo

O valor da suposta ajuda pode se elevar a US$ 40 bilhões, de acordo com o presidente francês, Nicolas Sarkozy. A justificativa oficial é apoiar “vigorosamente” as aspirações da “primavera árabe e também do povo iraniano” e estimular “reformas democráticas”. Declarações cínicas.

O propósito real é bem diferente: preservar a ordem imposta a ferro e fogo pelas potências capitalistas no Oriente Médio, em comunhão com Israel, e financiar a subversão no Irã, cujo governo, herdeiro da revolução islâmica de 1979, é francamente hostil aos interesses neocoloniais dos EUA e da Europa.

Acontecimentos políticos como a promoção da reunião que viabilizou o diálogo e a unidade entre as lideranças do Hamas e Fatah no Cairo e a abertura da fronteira entre Egito e a Faixa de Gaza, a partir deste sábado (28), são sinais de mudanças provenientes da “primavera árabe” que inquietam o império e Israel.

Pano de fundo

A intenção do G8, com seus bilhões, é corromper o processo e controlar o curso das mudanças, sufocando e frustrando os interesses do povo árabe. A guerra imperialista movida contra a Líbia também serve à mesma estratégia, que tem por pano de fundo as ricas e cobiçadas minas de petróleo da região. Com respaldo da Rússia, o grupo reiterou a exigência de renúncia de Kadafi.

Outro destaque da reunião foi a renovação da pressão para manter a direção do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas mãos da Europa e dos EUA, contrariando as pretensões da China e do Brics, que divulgou nota reclamando o fim “da convenção não escrita e obsoleta segundo a qual o diretor-gerente do FMI deve ser um europeu”.

Nova realidade

O desenvolvimento desigual das nações, verificado ao longo das últimas décadas e aprofundado pela crise mundial, provocou a emergência de novas potências econômicas no mundo, com destaque para a China, e reduziu significativamente o poder relativo dos ricos países capitalistas agrupados no antigo G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Canadá), que mais tarde, após a implosão da União Soviética, incorporou a Rússia e se transformou no G8.

O grupo imperialista representa a ordem econômica remanescente do pós-guerra, que caducou e se tornou anacrônica em função das mudanças objetivas na correlação de forças entre as nações, no plano econômico, decorrentes do crescimento desigual.

O mesmo sucede com o FMI. Quando o órgão foi criado, como consequência dos acordos de Bretton Woods celebrados em 1944, a hegemonia praticamente absoluta dos EUA e da Europa na direção do fundo, embora desastrosa para o então chamado Terceiro Mundo, correspondia aos poderes econômicos relativos da época.

A realidade, hoje, é outra. A defasagem é flagrante. As cadeiras controladas pela Europa no FMI correspondem a 33% do poder de voto; os EUA controlam cerca de 17% dos votos e gozam ainda do poder de veto. Juntos, EUA e Europa têm a maioria (50% mais 1) necessária para eleger os principais cargos.

Emergentes


Todavia, o poder econômico das velhas potências já não é o mesmo. A Europa, em conjunto, representa apenas 20,45% da economia mundial, segundo dados do FMI. Esta participação deve recuar para 17,8% em 2016. O peso dos EUA também recuou para cerca de 15% (pelo critério da paridade de poder de compra) e tende a continuar em declínio nos próximos anos.

Em contrapartida, a força econômica da China não para de crescer e é visível principalmente no comércio exterior. A nova potência asiática já ocupa a primeira posição no ranking mundial das exportações, depois de superar Alemanha e EUA, e é também grande importadora. Outros países considerados emergentes, como Índia e Brasil. A importância dos emergentes na produção e na demanda global é crescente.

A necessidade de mudanças na ordem econômica internacional, em resposta à alteração da correlação de forças e ao desenvolvimento desigual das nações, é notória. Num acanhado sinal de reconhecimento da nova realidade em gestação foi criado o chamado G20 financeiro, em 1999, com a inclusão da China, Índia, Brasil, Argentina e outros países em desenvolvimento.

Resistência


O G8 perdeu força e sentido. Mas as potências que moldaram a ordem internacional em vigência resistem à mudança e insistem em continuar impondo seus interesses e ditando ordens ao resto do mundo.

A necessidade de uma nova ordem mundial, sem a liderança dos EUA e seus aliados e do dólar, tem um caráter objetivo e acabará por se impor, mas não vai se concretizar antes de derrotar a resistência e as manobras das potências decadentes. Não é um problema cuja solução está à venda no mercado. A transição não será pacífica.

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