Possíveis saídas para Batista levantar caixa para seu grupo


Cláudia Schüffner - Valor Econõmico

Possíveis saídas para Batista levantar caixa para seu grupo


Que o Eike Batista enfrenta uma crise de confiança, não existe a mínima sombra de dúvida. O que não está claro é o fôlego financeiro do empresário, que tem dívidas como pessoa física e de empresas sediadas no exterior controladas por ele. Não se sabe o que há além do que está publicado nos balanços das companhias de capital aberto controladas pela holding EBX (que é fechada): OGX (óleo e gás), MPX (energia) LLX (logística), MMX (mineração) e OSX (estaleiro).

Não é possível saber também quanto das participações de Batista em cada empresa foi dada como garantia de empréstimos nem o valor das ações fixado nos contratos. O que se sabe, pelo interesse de concorrentes, é que existem ativos bons que podem ser vendidos, caso essa decisão seja tomada.
O próximo anúncio deverá ser uma venda de ativo da OGX, e o mais esperado é o negócio com a Petronas, da Malásia. A operação é estimada em US$ 1 bilhão, se sair. Contudo, estes recursos seriam apenas suficientes para honrar uma "put" de US$ 1 bilhão na OGX, prevista para até abril de 2014.

Executivos da OGX negociam, no momento, com a Petronas a venda de parte de um campo na Bacia de Campos

Entre outros ativos que ainda podem ser vendidos está o restante da participação na MPX Energia. No início do mês, a E.ON pagou R$ 1,5 bilhão e se tornou a maior acionista, e a produtora de ouro, a AUX, da Colômbia.

Os portos do Sudeste, da MMX, e do Açu, da LLX, são outros ativos que podem gerar caixa. Várias fontes, inclusive algumas próximas de Batista ouvidas nas últimas semanas, afirmam que ele não abrirá mão do Açu. Já as empresas iniciadas com a letra O, dizem, são as mais problemáticas.

As ações das empresas que compõem parte das garantias oferecidas em troca de empréstimos obtidos pelo empresário derretem na bolsa, o que levou alguns credores a pedir novas garantias. A desvalorização ganhou velocidade à medida que foi percebida baixa geração de receita em grande parte dos projetos, todos atrasados, e a redução do caixa. Sem receitas à vista, com crédito mais curto e ainda sem freio no investimento, a questão é qual a margem de manobra para honrar as dívidas. Dúvida que, junto com a percepção de estresse financeiro do controlador reforçada pelas iniciativas para obter socorro do Planalto, vem afetando negativamente as empresas no atual círculo nada virtuoso.

Na OGX, Eike Batista acreditou ter encontrado uma nova província em águas rasas na Bacia de Campos, com reservas de 5 bilhões de barris de óleo. Se confirmadas, garantiriam fluxos de caixa confortáveis em um mundo em que o petróleo estava cotado a US$ 80 o barril. Essa certeza, temerária como confirmada mais tarde, levou ao planejamento de um estaleiro gigantesco no Açu, projetado para construir as 48 plataformas que, segundo expectativa, seriam necessárias para produzir todo esse petróleo. A avaliação, então, era de que a Petrobras iria ocupar toda a capacidade de construção naval do país com encomendas para o pré-sal e Eike Batista tinha pressa.
Contudo, depois de captar US$ 9,4 bilhões, dos quais US$ 5,3 bilhões foram investidos em uma ambiciosa campanha exploratória, não foram encontradas reservas recuperáveis de petróleo da magnitude esperada. Para piorar, o primeiro campo que entrou em produção apresenta queda dos volumes de óleo desde o ano passado. A OGX extrai apenas 11,2 mil barris por dia um ano depois do "primeiro óleo", em janeiro de 2012. Foi um baque para o empresário que costuma se destacar por projetos "à prova de idiotas".

Executivos da OGX negociam, neste momento, com a Petronas a venda de participação de um campo na Bacia de Campos. Quem apresentou a Petronas para a OGX foi Aziz Ben Ammar, um tunisiano de 35 anos, hoje membro do conselho de administração das cinco empresas controladas pela EBX.

A petrolífera de Eike tem quase R$ 7,4 bilhões em bônus lançados no mercado internacional nas mãos de grandes gestores de recursos. Um grande comprador, na abertura de capital e depois, foi a Pimco, gestora que administra US$ 2 trilhões em ativos, disse uma fonte. Agora, com a percepção de agravamento da situação financeira das empresas e o enxugamento do crédito pessoal de Batista, pelo menos um "trustee" (instituição depositária de parte desses bônus) consultou escritórios de advocacia na semana passada. Fez isso em caráter preventivo, buscando se posicionar no caso de alguma empresa do grupo entrar com pedido de reestruturação da dívida.
Do jeito que a situação está hoje, o temor é que um problema em uma única empresa possa gerar um efeito em cascata num ambiente já limítrofe. Nesse caso, os detentores de dívidas teriam que acelerar as cobranças, com impacto em todo grupo e com efeitos incontroláveis.

Juntas, as cinco empresas do grupo, conforme seus balanços, têm uma dívida de curto prazo de R$ 6,49 bilhões, cujos prazos de vencimento não são informados. O valor é pouco abaixo dos R$ 6,63 bilhões disponíveis no caixa em 31 de dezembro. Os números da MPX Energia ainda estão incluídos na conta porque falta concluir a operação em que a E.ON elevou sua fatia no capital para 36,2%. Ao final da operação, a dívida não precisará mais ser contabilizada na EBX.
Todas as empresas tiveram resultado líquido negativo no ano passado, com destaque da OGX, que fechou o ano com prejuízo de R$ 1,172 bilhão e prevê investir quase tudo o que tem no caixa (R$ 3,38 bilhões) em 2013. O presidente da empresa, Luiz Carneiro, se mostra otimista, mencionando a possibilidade de revigorar a base de ativos por meio de desinvestimentos, aquisições e "importantes parcerias".

Ontem, o Deutsche Bank alertou para a situação do caixa em um relatório. "Estimamos que até o fim deste ano, a empresa vai ficar sem caixa e que, por causa disso, os acionistas poderão exigir que o controlador exerça uma 'put' de US$ 1 bilhão, ao preço de R$ 6,30 por ação ", apontou, referindo-se à opção de compra dos papéis por Batista. O banco considerou o balanço da OGX muito alavancado, tendo em vista que se trata de uma companhia em estágio inicial.

A assessoria da EBX informou esta semana que "todas as suas companhias contam com 'funding' substancialmente equacionado para os próximos anos e perfil de endividamento, majoritariamente, de longo prazo. O prazo médio de vencimento da dívida do Grupo é de cinco a seis anos e a liquidez de caixa suficiente para fazer frente a esses compromissos. A EBX acrescenta que não há qualquer pressão de bancos credores para execução de garantias de suas companhias."


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