A lógica de Eugênio Bucci sobre a imprensa, por Weden

Luis Nassif - Por Weden

Uma resposta ao gran-corporativismo de Eugênio Bucci (USP), sempre pronto a defender as corporações mídiaticas Uso boa parte de suas próprias palavras, devidamente aspeadas, para mostrar a lógica destrosa de um defensor absolutamente cego ao poder dos meios.

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Neste final de semana, o professor da USP Eugênio Bucci reclamou da reclamação de Lula com relação à imprensa e de novo saiu em defesa das grandes corporações. Nenhuma palavra sobre o processo difamatório que vitimou, por exemplo, o padre Julio Lancelotti, entre outros. Nada sobre exemplos clássicos de denúncias políticas não confirmadas e desculpas não pedidas. Nada contra casos de erros cometidos contra pessoas, empresas e servidores públicos, com graves danos à sociedade.

"Na sequencia", Bucci também lançou "uma acusação baixa contra" Lula. Lula perguntou: Vocês já viram banqueiros nos jornais? São eles que pagam as publicidades na mídia. Segundo Lula, os anunciantes estão a salvo, porque os meios evitam ter problemas com os anunciantes.

Bucci pode estar cego aos fatos, mas nós não. È verdade o que Lula disse. E ele usou banqueiros, claramente, como artifício retórico, por meio de metonímía, a grandes anunciantes.

Exemplos não faltam. Quando a Chevron derramou milhões de litros de óleo na Bacia de Campos, os jornais levaram dez dias para fazer a primeira denúncia. Quando Daniel Dantas, o banqueiro, foi preso, toda uma mobilização para denunciar uma suposta arbitrariedade da Polícia Federal e de juízes que estavam à frente da Operação Satiagraha partiu das redações e dos aquários. Também houve o caso mais recente e gravíssimo de Carlinhos Cachoeira, chamado até o último momento de "empresário de jogos" pela Folha de S. Paulo, quando na verdade se tratava de um bicheiro e criminoso. Tudo isso compõe uma lista de exemplos gravíssimos de omissões, quando se tratam de anunciantes e empresários amigos.

Em nenhum desses casos tivemos demonstrações de independência crítica. Mas Eugênio Bucci não consegue ver. E parece também não ter tanta independência crítica com relação aos meios.

Comportanto-se como uma espécie de anti-Jânio de Freitas, Bucci continua a lançar impropérios contra qualquer um que ouse se levantar contra alguns equívocos evidentes dos meios. Na Inglaterra, ele possivelmente estaria a favor de Murdoch e contra Leveson.

Segue Bucci: "essa história de político falando mal de jornais...". Não entendemos seriamente esta sacralização da imprensa. Não se pode criticar? Não há o direito social à crítica dos meios? Ora. Mídia esculacha padres, faz acusações impróprias contra médicos e professores, pratica denuncismo sem fundamento contra pessoas comuns, faz ilações sobre a vida privada, e nada pode ser dito contra ela?

"Desta vez, porém, uma resposta" a Bucci "não pode faltar". "O julgamento" desse professor da USP "está baseado em quatro grandes" inverdades, "que desinformam a sociedade e podem indudiz a enganos desastrosos. Por isso tratemos de pôr às coisas a limpo".

Primeira inverdade de Bucci. Banqueiros como Daniel Dantas foram sim pouco incomodados pela imprensa. Aliás, não foram. Portanto, dependendo do grau de vinculação com o meio o banqueiro pode estar a salvo de denúncias sim. Uma citação aleatória de alguns casos não explica as outras omissões.

Segunda inverdade. Não é verdade que os bancos privados não sejam os maiores anunciantes do Brasil. Os dados citados por Bucci dizem respeito aos anúncios em geral, mas não os concentrados nos grandes meios. A Caixa investe de forma pulverizada também a motivar outras formas de comunicação. Além disso, a presença de outros anunciantes não altera a lógica de que bancos privados têm presença forte no caixa das empresas de mídia. E geralmente são poupados. O caso da compra da briga dos bancos contra a baixa de juros pela imprensa é só um caso que atesta o que o ex-presidente disse.

Terceira inverdade. "Não é verdade que qualquer acusação contra político vira manchete assim sem mais nem menos". Poderíamos concordar. Mas isso é uma verdade subreptícia. Quando o político é de partido aliado á mídia, nada se denuncia. Portanto, há uma omissão grave por parte de Eugênio Bucci.

Quarta inverdade. A Chevron saiu bem na foto sim. E somente quando as redes começaram a divulgar maciçamente é que os mieos se mobilizaram. Portanto, o grau de independência com relação a anunciantes não se confirma para todos os casos.

Cuidado leitores. Não caiam no gran-corporativismo destes defensores a todo custo das corporações. Eles não estão preocupados com os jornalistas (aqueles do chão de fábrica) nem com a sociedade em geral.

Mas, sim, com os donos. E quem assim pensa não tem qualquer compromisso com a verdade.

Abaixo o texto contra o qual argumento.

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Publicado originalmente na revista Época.

A lógica desastrosa de Lula sobre a imprensa - EUGÊNIO BUCCI

Há coisa de dez dias, em Paris, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou dos jornais. De novo. "Quando político é denunciado, a cara dele sai noite e dia nos jornais", disse ele. Na sequência, lançou uma acusação baixa contra a imprensa: "Vocês já viram banqueiro nos jornais? São eles que pagam as publicidades da mídia". Segundo Lula, os anunciantes estão a salvo das reportagens investigativas, pois os repórteres e os editores não têm a dignidade de apurar os fatos e de publicá-los com um grau mínimo de independência crítica.

Claro: os jornalistas de brio, honrados, foram ultrajados por ele. O interessante é que quase ninguém se deu ao trabalho de responder à ofensa. Por que será?

Existe uma explicação. Essa história de político falando mal dos jornais e das revistas já se banalizou. Virou uma epidemia. Lula não é o único, embora seja dos mais reincidentes. Há cerca de dois meses, no final da campanha municipal, em São Paulo, o então candidato a prefeito José Serra (PSDB) deu de acusar os repórteres que formulavam perguntas incômodas (na opinião dele) de ser agentes de "pautas petistas". Ao desqualificar os profissionais que cumpriam seu dever de perguntar, procurava se esquivar das indagações e, em parte, foi bem-sucedido na manobra. Lula, outra vez, lança mão do mesmo truque. Quando lhe cobram explicações sobre os escândalos de seu partido, investe contra a reportagem. Como ele fala isso a toda hora, seus vitupérios já não chamam a atenção. Deixaram de ser notícia. Daí que os próprios jornalistas não se dão ao trabalho de responder.

Desta vez, porém, uma resposta não pode faltar. O julgamento de Lula está baseado em quatro grandes mentiras, que desinformam a sociedade e podem induzir a enganos desastrosos. Por isso, tratemos de pôr as coisas a limpo.

Primeira mentira. Não é verdade que a imprensa não publica reportagens que incomodam banqueiros. Você, leitor, há de se lembrar. Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos; Luís Octávio índio da Costa, do Banco Cruzeiro do Sul; Salvatore Cacciola, do Banco Marca; Silvio Santos, do Banco Panamericano; Katia Rabello, do Banco Rural; Ricardo Guimarães, do Banco BMG; entre outros, muitos outros, também se lembram muito bem.

Segunda mentira. Não é verdade que os bancos privados são os maiores anunciantes do Brasil. Segundo um levantamento do anuário Mídia Dados, o Bradesco investiu, em 2011, R$ 905 milhões em publicidade. É muito dinheiro. Mas atenção: a Caixa, que pertence ao governo federal, investiu mais que o Bradesco: R$ 1,092 bilhão. E os dois maiores anunciantes privados do país em 2011 não têm nada a ver com bancos: Casas Bahia (R$ 3,3 bilhões) e Unilever (R$ 2,6 bilhões).

Terceira mentira. Não é verdade que qualquer acusação contra político vira manchete assim sem mais nem menos. A imprensa erra, claro que erra, deve ser criticada com rigor - mas a imprensa não é uma instituição corrupta, vendida. Nos escândalos recentes (mensalão etc), acertou muito e ajudou a flagrar os bandidos de colarinho branco.

Quarta mentira. Não é verdade que os anunciantes saem sempre bem na foto. Se assim fosse, nenhuma revista, nenhum jornal, ninguém falaria mal dos governos (federal e estaduais), que anunciam bem mais que os banqueiros privados. Já vimos que a Caixa é um anunciante mastodôntico, assim como o Banco do Brasil (R$ 587 milhões em 2011), e, não obstante, alguns de seus dirigentes andaram frequentando o noticiário. Somente o ministério da educação, segundo estimativas do mesmo Mídia Dados, veiculou anúncios no valor de R$ 298 milhões em 2011 - e nem por isso está a salvo de críticas. Essas quatro grandes mentiras põem em marcha uma lógica desastrosa. Nos dois governos de Lula, os gastos de dinheiro público em publicidade se mantiveram em crescimento. Hoje, o governo federal, com suas estatais, é um dos maiores anunciantes do mercado. Agora que sabemos que, na opinião de Lula, os jornalistas são comprados pelos anunciantes, é o caso de perguntar: com que propósito o governo gasta fortunas em comunicação? Será que pretende comprar jornalistas? Será que os anúncios governamentais são uma tentativa de suborno?

Cuidado. Não caia em embromação. A imprensa pode perfeitamente brigar com os anunciantes, sejam eles estatais, governamentais ou privados. Ela pode até perdê-los. O que ela não pode perder é a confiança do leitor, a sua confiança, que vale mais que banco, mais que ouro. A boa imprensa, aquela que realmente conta, é refém apenas da verdade. Não cede ao dinheiro do anunciante nem aos gritos dos políticos.

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