Ateus precisam reagir ao avanço do conservadorismo religioso

Paulo Lopes

por Lívio de Andrade Luna da Silva





Temos hoje no Brasil cinco partidos declaradamente religiosos — PHS (católico), PSC (católico e evangélico), PSDC (católico), PTC (evangélico) e PRB (evangélico/Igreja Universal) — e uma gama de partidos de centro e direita sob a influência da religião. Observamos a cada eleição o crescimento do voto conservador, reflexo direto de dois fenômenos: a expansão do movimento evangélico e a reação dos católicos a ela.

Na eleição de 2010 no Rio de Janeiro — o segundo Estado mais evangélico do Brasil — foram eleitos oito deputados federais e doze estaduais religiosos, logo quase vinte por cento das bancadas foram eleitos com votos declaradamente conservadores, afora a reeleição do bispo Marcelo Crivella (PRB) para o Senado.

Em 2006 o voto conservador foi determinante para a derrota da candidata ao Senado pelo Rio, Jandira Feghali (PC do B), então líder nas pesquisas. Quando essa declarou-se favorável à legalização do aborto a Cúria ordenou que os padres durante as missas pedissem votos para o outro candidato.

E o que o voto religioso tem a ver com a gente? Direta ou indiretamente, tudo. O avanço do conservadorismo religioso levam laicistas, ateístas e teístas à reflexão política e à organização estratégica, que não passam por partidos políticos, mas pela necessidade de participação em fóruns de debate públicos que definam e estabeleçam quais bandeiras serão defendidas e quais serão combatidas.

Urge que organizemos nossa luta em prol de um objetivo comum: o fim de todo tipo de interferência religiosa no Estado e na aplicação das políticas públicas

Não podemos permitir que a descrença e o descontentamento com os mandatários nos deixem fora das decisões políticas. É preciso que entendamos que a política partidária não é a única forma de se militar politicamente, mas o voto consciente ainda é o único caminho de transformação da nossa realidade, no caso aqui, a única forma de frear o avanço conservador sobre as liberdades individuais e o direito de autodeterminação.

A mobilização religiosa é apaixonada e conta com mão de obra gratuita, pois se utiliza da boa fé dos incautos para dar visibilidade às suas demandas. Cabe-nos, então, contra-atacar. E isso é simples, porém trabalhoso. Precisamos fazer com que nossas vozes tenham ressonância na sociedade. E para isso temos que colocar nossa cara à tapa e apresentar de forma organizada o que pensamos. Nunca nos esquecendo de que é nossa obrigação reagir ao sequestro promovido pelas religiões às instituições estatais, aos meios de comunicação e ao erário público.

Organizemo-nos já. Para nos organizarmos sempre!

O autor é bacharel em relações internacionais, militante político (PSB-RJ), rubro-negro e ateu.

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