Além de ecologia, salvemos o Turismo


Edgard Catoira na Carta Capital



'É a imagem do Rio de Janeiro, e de todo o país, que está em jogo, com a cobrança de diárias, e demais serviços, para a indústria do Turismo, que ainda é desprezada pelo Brasil'
Como orgulhoso cidadão da cidade do Rio de Janeiro, tenho me preocupado muito com os eventos internacionais que estão sendo marcados para acontecerem aqui.

Por isso, venho conversando com pessoas do setor turístico há mais de três meses.

Em um almoço oferecido a um grupo de convidados pelo hotel Ritz, de Lisboa, há dois meses, enquanto conversávamos, eu soube que uma pequena empresa de Campinas, a Terramar, tinha bloqueado a maioria dos hotéis cinco estrelas para a conferência Rio+20, reunião de líderes mundiais e chefes de estados que tratarão dos problemas do desenvolvimento sustentável do planeta. No Rio, de 20 a 22 de junho.

Com essa informação, imaginei que essa empresa poderia, como um cambista, cobrar o que quisesse das delegações que vêm para a conferência. Liguei para lá. Quem atendeu confirmou que tinha vagas para hotéis cariocas nos dias do evento.

Liguei, então, para alguns hotéis. Nenhum tinha vaga. Mas alguns confirmaram que os apartamentos estavam bloqueados pela Terramar.

Achei, claro, que aí tinha algo de errado. Em vão, procurei informações de como uma empresa pequena, instalada fora do Rio, tinha conseguido exclusividade nas reservas do Rio. Enquanto não consegui confirmação de que estava tudo certo – ou errado – nessa operação, não falei nada. E continuo vendo que algumas delegações desistiram do evento internacional em função dos altos preços das diárias de hotéis.

No noticiário de hoje, porém, descobri que realmente a Terramar está com exclusividade nas reservas para a Rio+20. A empresa conseguiu tudo de forma regular em licitação feita pelo Itamaraty.

Perdi o furo de explicar o porquê dos preços altos cobrados pela hotelaria durante a Rio+20 – o que é extremamente desagradável para um repórter. Por falta de uma fonte que confirmasse, para não partir para uma denúncia provocada apenas por uma constatação de curiosidade, deixei de ser o primeiro jornalista a protestar.

Agora, vendo que a empresa aceitou deixar de cobrar uma taxa de 25% sobre as diárias, e as delegações poderão negociar sua estada diretamente com os estabelecimentos, continuo intrigado: um edital oficial do próprio Itamaraty dá o direito a uma empresa de cobrar preços mais elevados para hospedagem no Rio? E, depois de muitas desistências e reclamações que chegaram através da própria ONU, só agora a empresa resolveu abrir mão de seus lucros, para não atrapalhar o evento?

Confesso ainda não ter descoberto o que houve – de certo ou errado. Essa licitação tem que ser apurada pelos órgãos competentes, em todas as áreas: federal, estadual e municipal. É a imagem do Rio de Janeiro, e de todo o país, que está em jogo, com a cobrança de diárias, e demais serviços, para a indústria do Turismo, que ainda é desprezada pelo Brasil.

Agora que estamos preparando mega eventos internacionais as autoridades têm a obrigação de intervir e fiscalizar o setor. Não adianta um prefeito, como fez Eduardo Paes, no Rio, querer dar feriados nos dias da Rio+20, ou pedir para os cariocas cederem lugar em casa, para que o evento possa acontecer. E saírem da cidade para facilitar os serviços. Ora, este é o pedido mais grotesco que pode ser feito: o turista busca, exatamente, a alegria de viver deste povo, seu jeito de receber. Seria como pedir para fecharmos os botequins com suas caipirinhas, comidinhas e brincadeiras, para não desapontar um turista. Afinal, essa é nossa atração, que complementa a paisagem de qualquer região brasileira.

Todos, governo e empresa privada, têm que defender essa fonte de renda para o país. O lema é explorar o turismo e não o turista.

Sem o desejado furo de reportagem, agora passo a bola para as autoridades cuidarem com o carinho que merece, o turismo no Brasil.

Em Tempo: em 2010, 5,2 milhões de turistas estrangeiros entraram no País, o que é considerado um número baixo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em sua Pesquisa de Serviços de Hospedagem, de 2011 . No mesmo ano, a França recebeu 76,8 milhões de turistas, os Estados Unidos 59,7 milhões, a China 55,7 milhões e a Espanha 52,7 milhões.

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