O Manual de Redação de Magnoli


Publicado no blog Nassif

Por Weden


Segundo o sociólogo Demétrio Magnoli, 
"Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações - verdadeiras ou falsas - com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem, também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo que sua divulgação seja do interesse circunstancial de uma facção criminosa"
Em linhas gerais, o autor repete o senso comum sobre a relação de jornalistas com as fontes (mesmo que ligadas a atividades ilícitas). 
Mas há problemas graves neste palpite fora de hora e que mostra claramente o grau absurdo de desinformação sobre o que é a atividade jornalística
1. Sobre interesse circunstancial
Uma relação de anos não pode ser circunstancial. Aliás, o esquema Cachoeira-Delta era claramente de lavagem de dinheiro. O bicheiro servia à empreiteira, que retribuía limpando o dinheiro do crime. Veja sabia disso. E sabia que este esquema afetava o interesse público há anos. Portanto, não há nada de "circunstancial" nisso. Portanto, ainda, Veja "sonegou" ao público notícias relevantes. Notícias sobre operações criminosas de lavagem de dinheiro.
2. Sobre sigilo para criminosos
O jornalista, qualquer um, que se associa com criminosos está cometendo crime. Não se pode confundir a relação repórter-fonte com associação ao crime.
Fontes criminosas (principalmente) não plantam matérias. 
Se trocarmos Cachoeira pelo PCC ficará mais evidente a estupidez do manual de redação de Magnoli: Se a facção do tráfico informa sobre negócios envolvendo policiais ou magistrados, porque não aceitar criticamente a informação?
Nisso não há quem discorde.
Mas se o PCC quer se utilizar de matérias para aumentar seu raio de ação, é dever do jornalista negar estes favores.
Jornalistas não devem se submeter ao crime organizado e nem a qualquer outra forma de atividade ilegal. Fontes não podem negociar espaço no veículo em que o jornalista trabalha.
Isso é claro. Isso não pode ser admitido. Isso não é jornalismo, é crime.
Em suma, o Manual de Redação de Magnoli é uma temeridade para as novas gerações de jornalistas e estudantes de jornalismo (porque ensina o que não deve ser feito) e opiniões tão desinformadas como essa devem ser rechaçadas e criticadas publicamente pelas entidades representativas da categoria.
O sociólogo deve parar de falar sobre o que não conhece. Ele não é jornalista, ele não trabalhou em redações. Ele não estudou para isso. Ele não sabe nada sobre a atividade desta categoria.
______
Abaixo, para informação do sociólogo, trechos do Código de Ética adotado pela FENAJ que devem levá-lo a pensar no que escreveu.

Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros

Capítulo II - Da conduta profissional do jornalista
(...)
Art. 7º O jornalista não pode:
(...)
V - usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;
(...)
VII - permitir o exercício da profissão por pessoas não-habilitadas;
VIII - assumir a responsabilidade por publicações, imagens e textos de cuja produção não tenha participado;
(...)
É bom lembrar que áudios e imagens utilizadas pela Veja vieram de arapongas de Carlinhos Cachoeira. Neste caso, há duas atitudes que ferem o código de ética: nem Jairo Martins e "Dadá" são habilitados para o exercício do jornalismo; e nem trabalham na revista para poder assumir a responsabilidade por estas imagens.
A Veja, então, assinava este material ilícito.
Mas o mais grave é que bandidos usavam a revista para os propósitos deles.
Capítulo III - Da responsabilidade profissional do jornalista
(...)
Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:
(...)
III - obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração;
Arapongagem não é atividade jornalística. As imagens do hotel Naoum foram obtidas por arapongas e serviram a uma reportagem de capa da revista, pelo menos num caso comprovado.

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