Por que escondem a Confecom

Eduardo Guimarães 

Faça um teste, leitor: pergunte aleatoriamente, por aí – ao taxista, ao garçom, ao gerente do banco, ao vizinho, ao médico e a quem mais quiser –, o que é a Confecom. Você descobrirá que mesmo pessoas que se consideram bem informadas desconhecem completamente o assunto.

Divido a casa em que fica meu escritório com amigos de juventude que têm, no mesmo imóvel, um escritório de contabilidade. Eles lêem, diariamente, vários jornais – Jornal da Tarde, Agora e até, vez por outra, o Valor Econômico, que chega até nós de forma misteriosa e gratuita com alguma freqüência, sendo atirado em nosso quintal pela manhã dentro de um envelope plástico. Sem falar da Globo News e da Veja no fim de semana.

Meus amigos não sabiam do que eu falava quando lhes contei que serei delegado por São Paulo na Conferência Nacional de Comunicação, que acontecerá de 14 a 17 de dezembro em Brasília, sendo que o presidente Lula abrirá pessoalmente os trabalhos dessa Conferência devido à importância do evento.

Como esses meus amigos, os meus vizinhos, o porteiro do meu prédio, enfim, praticamente todos os conhecidos com os quais falei sobre o assunto nos últimos dois dias, não tinham a menor idéia do que seria essa tal de “Confecom”.

A dúvida que surge normalmente entre as pessoas às quais informo que acontecerá uma Conferência de Comunicação no Brasil é sobre por que a imprensa, que poderá ser a grande afetada pelas deliberações dessa Conferência, não informa e nem discute o assunto.

Para entender por que, usarei dois raros textos sobre o assunto Confecom, os quais foram publicados só no fim da semana passada e, surpreendentemente, pelo jornal O Estado de São Paulo, ainda que tais textos tenham levantado suspeitas sobre os objetivos da Conferência.

No dia 19, o Estadão publicou artigo de Eugênio Bucci, que, de janeiro de 2003 a abril de 2007, dirigiu a Radiobrás (Empresa Brasileira de Comunicação S.A). E que, depois, passou a escrever naquele jornal.

O texto é denso, um pouco longo e, apesar de fazer coro com os novos “patrões” de Bucci no mercado, tem o mérito de fazer também as pessoas entenderem o que, pela baixa repercussão que tem tido o assunto Confecom na blogosfera, ainda não se preocuparam em entender, ou seja, a importância da última das muitas conferências convocadas pelo atual governo.

Se quiser se informar bem sobre o assunto Confecom, portanto, leia o artigo de Bucci clicando aqui. E, em seguida, editorial do Estadão, publicado três dias depois (22 de novembro), clicando aqui. O editorial apenas confirma as preocupações midiáticas elencadas pelo ex-manda-chuva da Radiobrás no primeiro texto do jornal sobre o assunto.

Mas, se não tiver tempo de ler tudo, passo agora a resumir para você a preocupação de parte da mídia e a importância da Conferência de Comunicação.

Primeiro, vamos entender o seguinte: a Confecom, como já disse aqui, não terá, obviamente, caráter deliberativo ou legislador. Mas terá peso político devido à representatividade da delegação que irá discutir a Comunicação em Brasília no mês que vem.

Apesar de entidades patronais como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), que representa Globo, SBT, Record e outros, ou a ANJ (Associação Nacional de Jornais), que representa veículos como Folha, Estadão, Globo etc., terem abandonado as pré-conferências sob a desculpa de que os movimentos sociais, que debatiam pelo setor sociedade civil, estariam querendo “censurar” a imprensa a mando do governo Lula, veículos como a tevê Bandeirantes e a Rede TV! criaram e encabeçaram a Abra, associação de radiodifusores dissidente da Abert que participará da Conferência de Comunicação.

Além disso, as operadoras de telefonia participaram – e continuarão participando – da Conferência através da Telebrasil, entidade que reúne operadoras de telefonia como a Tim, a Telefônica, a Vivo, a Claro, a OI etc.

Essas “teles” pretendem produzir conteúdo midiático, o que está deixando o PIG de cabelos em pé, pois enquanto este movimenta coisa de 10 bilhões de reais, as “teles” movimentam dez vezes mais do que isso, no mínimo, tendo dinheiro de sobra para competir com Folhas, Vejas, Estadões e Globos.

Como a Confecom foi convocada e será bancada pelo governo Lula, os mesmos Folhas, Globos, Vejas e Estadões acham que o governo estaria manipulando os movimentos sociais que irão à conferência pelo setor sociedade civil – como se sabe, a Confecom reunirá cerca de 1.500 delegados, de todas as unidades federativas, que se subdividirão em setor público, setor empresarial e sociedade civil, na respectiva proporção de 20%, 40% e 40% dos delegados.

São bobagens a que os dois textos do Estadão, linkados acima, dão asas. Ninguém quer censurar a mídia, mas fazer com que não só a mídia possa falar para as massas no Brasil.

A Confecom, pois, trabalhará com princípios universalmente consagrados de liberdade de expressão para todos através, por exemplo, da discussão dos critérios de concessões de rádio, que, na grande maioria, são concedidas aos grandes meios e sonegadas à sociedade civil.

Além disso, na etapa estadual da Confecom paulista, de que participei no último fim de semana na Assembléia Legislativa do meu Estado, pude ver claramente ativistas de movimentos sociais que disputavam vaga na Confecom falando contra “esquerdismo atrasado” etc. É mentira, portanto, que o governo tenta manipular alguma coisa. Não conseguiria nem que quisesse, dada a enorme diversidade de interesses e corporações sociais, empresariais e até do poder público, que terá delegados dos três níveis de governo.

Unidos mesmo estão os empresários, que serão 40% dos delegados em Brasília no mês que vem e que optaram por não ignorar, da forma suicida como fizeram Globos, Folhas, Vejas e Estadões, um evento dessa importância.

Esses maiores veículos de comunicação que ignoraram e continuarão ignorando a Confecom, mostraram sua estratégia literalmente criminosa no último sábado, quando, ao irem à Assembléia Legislativa de São Paulo cobrir o velório do ex-prefeito Celso Pitta, ignoraram um evento enorme que tomou aquela Casa em todos os seus auditórios, por onde se distribuíram empresários, movimentos sociais, governo e os diversos grupos de trabalho.

Apesar de ter trocado em miúdos o embate surdo que ocorre neste momento no Brasil no âmbito das Comunicações, recomendo a leitura dos dois textos do Estadão linkados acima.

Exorto você, leitor, a que busque essas informações que aqueles que deveriam informá-lo lhe sonegam, conduta antidemocrática, antiética e que comprova, de maneira cabal, a necessidade extrema desse grande debate que o Brasil irá travar no mês que vem em Brasília.

Por que Serra despenca

A esta altura, vocês já devem saber da pesquisa CNT-Sensus que mostra expressiva queda das intenções de voto para presidente da República do governador José Serra. Alguns portais da grande mídia reconhecem que a verborragia de FHC, nos últimos dias, afetou Serra. No entanto, para mim ficou claro que a tentativa da mídia e da oposição de inventarem um "apagão" para o governo Lula é a grande responsável pela crescente desmoralização do governador paulista.

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