Em defesa de FHC

Eduardo Guimarães 

Ano passado, durante o processo eleitoral paulistano, pouco antes de o comando da campanha de Marta Suplicy veicular aquela propaganda no rádio e na tevê que fazia insinuações de que Gilberto Kassab seria homossexual, escrevi que, se Marta persistisse naquela rota, perderia feio a eleição, quando poderia, pelo menos, perder bonito.

Marta, defensora histórica dos homossexuais, tentou usar o preconceito contra eles para obter vitória eleitoral. É sempre assim: em época de eleição, políticos de todas as ideologias acham que o fim justifica o meio, pois aquele político seria o bem e seu adversário, o mal.

Em 1989, durante a campanha eleitoral à Presidência da República, Fernando Collor de Mello, em conluio com a Globo, subornou Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula que tivera uma filha dele – a qual teve a paternidade reconhecida pelo pai desde que nasceu –, para que dissesse, no horário eleitoral na tevê, que ele tentara obrigá-la a abortar.

Provavelmente a tramóia collorida funcionou, em parte, e ajudou Collor a derrotar Lula. Por conta disso, o grupo político do então “caçador de marajás” passou os anos seguintes sustentando uma vida nababesca, em um luxuoso flat, para a ex-namorada do petista.

Por uma questão de princípios, sou visceralmente contra o uso desse tipo de aspecto particular da vida dos políticos para combatê-los. Por isso, denúncia do ex-porta-voz de Collor Cláudio Humberto de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria sido acusado por uma ex-empregada doméstica de ser pai de seu filho sem jamais ter assumido a paternidade, preocupa-me.

Primeiro, porque a direita é a campeã nesse tipo de ataque degradante. Depois, porque é antiético sair espalhando por aí essa história sobre mais um filho ilegítimo de FHC sem que se tenha um mínimo de segurança de que é verdade.

Se for verdade, se houver segurança absoluta de que o ex-presidente engravidou uma funcionária, talvez usando seu poder de pressão de patrão e político poderoso para seduzi-la, acho que o assunto seria, sim, de interesse público. Contudo, alardear isso por meio de boato, sem maiores provas, acho imoral.

Sei que virão alguns dizer que estou querendo ser “santo”, como se agir com responsabilidade e ser um adversário digno equivalesse a pretender a santificação. Não é. Trata-se, apenas, de um mínimo de senso ético e da mais pura coerência com meus ideais de cidadania.

Por tudo que acabo de explicar, sugiro aos que estão difundindo essa história que pensem duas vezes. Insuspeito como sou sobre qual é meu lado em questões políticas, não compactuo com o uso indiscriminado de uma acusação dessas.

Quero deixar uma coisa bem clara: se eu tiver que me transformar naqueles que combato para combatê-los, prefiro entregar os pontos. Até porque, acho desnecessário usar esses métodos quando há outros tão mais eficientes como, por exemplo, usar a verdade, que considero uma força da natureza.

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