O Marco Aurélio, o abaixo-assinado e eu

Viomundo

O Marco Aurélio Mello vai contando, aos pouquinhos, a história dos bastidores da TV Globo, no período em que trabalhou lá.

Uma história, diria ele, de ficção.

A coleção do MAM está aqui

Num dos posts recentes, ele conta:

"Dá tempo de tirar meu nome deste abaixo-assinado", perguntei ao chefe de redação. - Claro, ninguém é obrigado a assiná-lo. Alguém mais lá quer tirar também? Perguntou-me, apontando para a redação. - Espera aí, respondi. E voltei à redação. - Ele está perguntando se alguém mais quer tirar o nome..., disse às minhas colegas editoras de texto (éramos seis, ao todo, no principal telejornal da emissora, mas uma delas não estava entre nós). As colegas também pediram que seus nomes fossem suprimidos.

De fato, nossas assinaturas não fariam muita falta. Ele passou o dia circulando pela redação 'incentivando' os colegas a fazê-lo. Colegas nas redações do Balneário, do Planalto Central e de Belo Horizonte, também foram a campo. O plano, desmascarado depois, era salvar o Guardião, que foi lançado ao mar, depois de tantas trapalhadas na cobertura eleitoral. A estratégia funcionava assim: ele encostava ao lado da mesa do colega, soltava a folha de papel e dizia: - Vê se você concorda com isso e assina. O desconforto era geral. O clima era péssimo. Quando voltei da sala dele, certo de que nossos nomes haviam sido suprimidos, formamos uma roda quase no meio da redação.

Rodrigo Vianna argumentava que quem tinha que defender a cobertura - que no texto do abaixo-assinado levianamente misturava a queda do avião e as eleições - era a emissora, não os funcionários. Rodrigo comparou: - É o mesmo que uma montadora fazer um carro com defeito e pedir para os metalúrgicos fazerem um abaixo-assinado para defender a indústria. Havia, entre nós, outras duas editoras dos dois telejornais matinais (o local e o etílico). Também havia dois produtores, que acompanhavam tudo fingindo-se estar ao telefone, marcando alguma entrevista.

E tínhamos entre nós mais dois repórteres, além do Rodrigo. Estou poupando os nomes porque alguns permaneceram lá e não seria justo expô-los a constrangimento. Bom, no meio do debate sobre queda de avião, cobertura das eleições e a postura das organizações, o chefe de redação, desconfortável com aquela situação, deixou sua sala e dirigindo-se a nós, disse: - E tem mais, quem não tiver satisfeito que vá para Record. Naquele momento, 2006, a emissora concorrente já era uma ameaça. Não demorou muito para que eles dessem início à Inquisição.

Eu, Azenha, posso acrescentar que também vivi esse momento na emissora, logo depois das eleições de 2006. O sujeito a que ele se refere acima, na mesma data, portando um rádio transmissor -- com o qual se comunicava diretamente com o Rio de Janeiro -- esperou o momento em que eu deixava a redação e me perseguiu no corredor, com um papel na mão. Cena patética.

Li o texto, a pedido dele. E disse, em linhas gerais, o seguinte: quanto ao acidente da Gol, pelo que ouvi dos colegas, vocês podem até ter razão. O Jornal Nacional decidiu não dar a informação esperando pela confirmação do acidente. Mas quanto à cobertura das eleições em geral e do dossiê em particular, não concordo.

Ele pediu que eu desse um exemplo. Mencionei, a título de exemplo, as colunas do Jabor em pleno período eleitoral. Ele: "Mas o Jabor é o nosso clown (palhaço)", querendo dizer que o comentarista não deveria ser levado a sério.

Deveria ter perguntado a ele se já tinha combinado com os milhões de telespectadores da emissora, mas respondi: "Não vou assinar, não. Vou conversar com os colegas".

Virei as costas e fui embora.

O fato é que o Marco Aurélio, aos poucos, vai pondo os pingos nos is. Vai demonstrando que havia um grupo diverso, que não fazia parte de uma patota, nem amigos eram, que discordou profundamente dos rumos que a cobertura das eleições de 2006 teve na Globo. Gente cujo único compromisso era com a verdade factual e com uma cobertura isenta e equilibrada. Quando todos puderem falar abertamente sobre o assunto, sem medo de represálias, vocês vão se surpreender.

PS: Sobre as mensagens com ofensas enviadas aos blogueiros Rodrigo Vianna e Marco Aurélio Mello, assinadas por um sujeito que usa o e-mail excolegaglobo@hotmail.com, já sabemos que partiram do Rio de Janeiro.

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