Marina não sabe nada da logística brasileira de cargas

O Brasil cresceu cinco vezes o seu comércio exterior entre 2003 e 2013. Isso não teria como acontecer se o diagnóstico de Marina Silva estivesse certo.

José Augusto Valente (*) no Carta Maior



É o que fica claro no seu programa de governo, quando faz o seguinte diagnóstico, na página 63 (versão de 1-9-14):

“As condições de transporte e logística no Brasil também reduzem nossa competitividade internacional e o padrão de vida potencial de nossa população. No índice de competitividade global do Fórum Econômico Mundial, a qualidade de nossas estradas está na 120a posição, atrás de países como Argentina (103a), Peru (98a), Bolívia (92a), México (51a) e Chile (27a).

A má qualidade faz com que o custo de logística e transporte sejam altos, levando a perdas de nossos produtos agropecuários, minerais e industriais. A consequência é que nossas empresas se tornam menos competitivas, e o bem-estar da população é sacrificado.”

Como se sabe, diagnósticos errados levam a propostas erradas ou insuficientes.

O que me permite dizer que esse é um grave erro de avaliação da Marina é a insuspeita pesquisa da CNT – Confederação Nacional de Transportes que, em 2013, avaliou 96,7 mil km de estradas no país, dos quais 65.443 km da malha federal e cerca de 31.217 km das malhas estaduais. A CNT é uma entidade de defesa dos interesses do setor de transportes, não tendo, portanto, nenhuma razão para supervalorizar as condições das nossas estradas.

O Relatório Gerencial dessa pesquisa, nas páginas 85 e seguintes (clique aqui), apresenta a situação dos 6 itens mais relevantes para a avaliação das condições das rodovias brasileiras, conforme padrões internacionais:

a) Pavimento – pista de rolamento

A pesquisa aponta que 96,3% das rodovias brasileiras estão com o pavimento da pista de rolamento em boas condições e apenas 3,7% apresentam buracos, afundamentos, ondulações na pista e pavimento totalmente destruído, conforme gráfico abaixo. Vale ressaltar que os itens “Desgastado” e “Trinca em malha/remendos”, pela definição da CNT, exclui a existência de buracos.





b) Velocidade em função do pavimento da pista de rolamento

De acordo com essa pesquisa, 94,9% do pavimento pesquisado não obriga à redução de velocidade pelos motoristas. Isso significa que, em aproximadamente 91,8 mil Km das rodovias pesquisadas, as condições do pavimento não afetam a regularidade e suavidade da condução dos veículos. Vejam o gráfico abaixo:








c) Pavimento dos acostamentos

Segundo a pesquisa, 89,0% dos acostamentos existentes nas estradas brasileiras foram considerados ótimos por apresentarem o acostamento pavimentado e perfeito. Ela mostra, também, que 0,6% dos acostamentos foram considerados perfeitos, ainda que sem pavimentação. Apenas 10,4% não apresentavam condição de uso com segurança, devido a buracos, fissuras, presença de mato e desnível acentuado em relação à rodovia.





d) Sinalização – faixas centrais

Segundo a pesquisa, 44,2% das faixas centrais das rodovias estão com as pinturas visíveis e, em condições de separar o tráfego e regulamentar ultrapassagens. Entretanto, outros 50,8% apresentavam faixas com a pintura desgastada e 5,0% inexistente, como aponta o gráfico abaixo. Esse é o item mais desfavorável, entre os relevantes.





e) Sinalização – placas de limites de velocidade

Em 74,8% da extensão de rodovias avaliadas, há a presença de placas de limite de velocidade, o que equivale a 72 mil Km em um total de 96,7 mil Km, conforme gráfico abaixo. Esse item, aliado ao relativo às faixas centrais, é fundamental para aumentar a segurança da condução rodoviária.





f) Sinalização – visibilidade das placas

A pesquisa constatou que 89,0% das placas são visíveis pelos condutores dos veículos, com a inexistência de mato cobrindo as placas, e 5,1% apresentavam algum mato cobrindo, mas não totalmente, conforme gráfico abaixo.





g) Sinalização – legibilidade das placas

De acordo com a CNT, 58,9% das placas estavam totalmente legíveis e em 40,1% se conseguia identificar o pictograma, embora esse elemento já se encontrasse desgastado, conforme gráfico abaixo.





Assim, a avaliação da própria CNT, em 2013, indica que estão em boas condições de trafegabilidade e conforto, as principais rodovias do país por onde trafegam mais de 80% das cargas rodoviárias, passageiros de ônibus e veículos particulares.

Como se vê, constatando-se que as rodovias federais e estaduais brasileiras estão em boas condições, fica evidenciado o equívoco no diagnóstico do programa de governo da Marina quando diz que “A má qualidade faz com que o custo de logística e transporte sejam altos, levando a perdas de nossos produtos agropecuários, minerais e industriais.”

Não há má qualidade das rodovias, nem custos logísticos que levam a perda de produtos agropecuários, minerais e industriais. Ao contrário, o Brasil cresceu cinco vezes o seu comércio exterior entre 2003 e 2013. Isso não teria como acontecer se o diagnóstico do programa de governo da Marina estivesse certo.

O que o diagnóstico da Marina não aborda, mas que é realmente relevante, é o fato de que o que impacta na competitividade dos produtos brasileiros é o custo da predominância do modal rodoviário, não suas condições.

O Brasil tomou a decisão de privilegiar esse modal na década de 60, inclusive com o desmonte da malha ferroviária a partir do regime militar.

Retomar o modal ferroviário, pelo enorme investimento estatal que exige, foi deixado de lado durante todos os anos 80 e 90.

Somente a partir de 2003 ele foi retomado, pelo governo Lula, com a ferrovias Norte-Sul, que hoje já chega à Anápolis; Transnordestina (obra em andamento), leste-oeste, na Bahia; e integração centro-oeste, entre outras.

Essa sim é a mudança de que o Brasil precisa. Ela já se iniciou e precisamos mais que tudo da garantia de que ela vai se concretizar.

Simples assim!


(*) José Augusto Valente – especialista em logística e transportes

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