Para entender o caso Roger Agnelli

Nassif

Ontem, Roger Agnelli desfechou forte ofensiva para se manter no cargo de presidente da Vale.
Tem a seu favor méritos próprios para o bom desempenho da Vale nos últimos anos. Muitos atribuem ao boom dos preços dos minérios. Mas esse boom foi resultado direto de negociações vitoriosas da Vale com o principal comprador mundial, a China.

Há anos, a Vale montou uma vasta carteira de investimentos em projetos siderúrgicos no país. Dispunha-se a fornecer o minério e a entrar com parte do capital. Não poderia assumir o controle das novas siderúrgicas para não criar conflito com outros clientes.

O projeto não foi adiante por razões ligadas à conjuntura brasileira.

Por outro lado, o sucesso subiu-lhe à cabeça. Ontem um interlocutor de Agnelli teimava em afirmar que Lula é a favor da sua permanência. Mas outro observador próximo a Agnelli identificava as fontes de desgaste justamente no confronto direto com a presidência.

Segundo ele, Agnelli sempre foi um otimista – aliás, qualidade imprescindível em um executivo que quer fazer sua empresa crescer. Mas interpretou com exagerado otimismo sinais positivos sobre seu trabalho e acabou extrapolando no campo político, cometendo um conjunto de erros graves.

O primeiro, no fato – conhecido – de ter anunciado demissões com estardalhaço, no momento em que Lula tentava levantar o ânimo nacional para enfrentar a crise de 2008.

O segundo quando lançou uma campanha nacional mostrando os investimentos da Vale, visando polemizar com as declarações de Lula contra as demissões.

O terceiro, ao se afastar das reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O quarto, a premiação de Carta Capital – à qual esteve presente Lula, quase todo o ministério e quase todo o PIB nacional.

A Vale fez questão de ser a patrocinadora única do evento. Quando Agnelli foi chamado ao palco, junto com Lula, o publicitário Nizan Guanaes comandou aplausos exagerados de uma claque composta por funcionários de sua agência, claramente tentando confrontar com os aplausos recebidos por Lula. Quando Agnelli descia as escadas, o publicitário correu até ele e beijou-lhe as mãos.

Antes disso, houve um enorme rebuliço interno na Vale, que resultou na demissão de Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES e homem de confiança do Ministro da Fazenda Guido Mantega.
Foi muito enfrentamento inútil, um desperdício de energia que comprometeu os bons serviços prestados por Agnelli à Vale.

Da parte do Bradesco, a única condição é que, na qualidade de sócio controlador, participe diretamente da escolha do sucessor de Agnelli.

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