A esquizofrenia da política monetária

Nassif

Confesso não entender mais nada do que pretende a área econômica. Em muitos casos, parece o armandinho, o jogador que ficava fazendo embaixada no meio campo sem coragem de chutar a gol, ou o "papudo", o sujeito que garganteia coragem para cá e para lá mas amarela à primeira ameaça do mercado.

O Ministro da Fazenda Guido Mantega já reconheceu o risco do câmbio apreciado, já alertou o mundo para as guerras cambiais em curso, no papel mudou a maneira de fazer política econômica, ao induzir o Banco Central a utilizar ferramentas adicionais para conter a demanda, sem depender exclusivamente dos juros.

Na hora decisiva, porém, tudo é como dantes no quartel de Abrantes. Mantém-se uma política monetária esdrúxula que vai contra todo o discurso. Onde Mantega pretende chegar com essa esquizofrenia?

A alta da Selic impacta muito mais investimentos do que consumo. Nos Estados Unidos há pouca diferença entre a taxa básica e a taxas de juros na ponta do tomador. Além disso, há mercado de capitais extremamente desenvolvidos.

Quando quer esfriar a economia, o FED aumenta a taxa básica. De um lado, encarece imediatamente o crédito. De outro, provoca um movimento duplo junto aos poupadores.

O primeiro, é o da sensação de empobrecimento. Aumentando os juros, imediatamente cai o valor das cotas dos fundos de renda fixa das aplicações já efetuadas, para se adaptar ao novo patamar de juros. Essa redução torna o investidor mais cauteloso, reduzindo sua vontade de gastar dinheiro. Por outro lado, melhora a remuneração para as novas aplicações.

No caso brasileiro, os juros atuam sobre a demanda e preços em dois canais. O primeiro, da própria estrutura de juros. Dadas a diferença entre taxa básica e taxas finais e o nível já estratosférico das taxas internas, essas mexidas de 0,5 não tem muito significado sobre a demanda. Muito mais eficaz é a redução de prazos de financiamento ou mesmo o aumento do compulsório.

Mas tem atuação fulminante sobre o segundo canal de transmissão: o câmbio. Esse meio ponto não apenas aumenta a remuneração do investidor externo como lhe assegura que este ano não haverá interrupção no ritmo de alta da Selic e provavelmente todas as declarações de Mantega e Alexandre Tombini – sobre o risco da apreciação cambial – não passaram de palavras ao vento.

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