Em busca do lucro máximo, multinacionais avançam sobre emergentes

Conforme notou Karl Marx, o capital se orienta por um único e exclusivo objetivo: o lucro, ou melhor, a maximização do lucro. É isto que explica os fluxos e refluxos dos investimentos e também o crescente interesse das transnacionais pelos países ditos emergentes, onde as taxas de crescimento e de lucro são significativamente maiores do que nas potências capitalistas tradicionais, que vivem uma fase de relativa decadência.

"Novos mercados" de consumo, os países emergentes deram um salto importante nas vendas das maiores multinacionais em 2010, ao passo que a importância relativa dos EUA, UE e Japão caiu, embora ainda seja grande. Esse grupo de países, que compreende Brasil, Rússia, Índia e China (Bric), além de outras economias como Coreia do Sul, Polônia e África do Sul, responde por mais de 50% da receita bruta em dois dos oito maiores grupos internacionais na área de consumo. Em seis deles a fatia dos emergentes supera um terço do volume total comercializado.

Demanda em expansão

Há potencial para mais, mesmo com a possibilidade de alguns desses "novos mercados" terem uma expansão mais discreta de sua economia em 2011. Relatório de analistas do Citi, publicado em dezembro nos Estados Unidos, prevê que a anglo-holandesa Unileverobtenha realize 70% de suas vendas em países emergentes num prazo de dez anos. "Entregamos resultados sólidos porque os mercados emergentes têm apresentado altos níveis de crescimento no volume vendido", disse Paul Polman, CEO (executivo chefe) mundial da companhia.

Desde 2008, com os impactos da crise financeira global, fabricantes de bens de consumo revisaram seus planos de investimentos. Decidiram ampliar o ritmo de lançamentos e despejaram somas maiores em contratações e projetos de ampliação da capacidade produtiva em países como Brasil e China.

"O nível de produtividade das companhias aumentou nesses países, para atender rapidamente a uma demanda maior", disse Lars Pedersen, economista sênior da Alliance Bernstein, empresa de investimentos que controla a corretora Sanford Bernstein. A demanda nos mercados emergentes cresceu, lembrou Pedersen, pois há "mais pessoas com empregos formais, o que leva à certeza de ter um contracheque no fim do mês".

Estudo da Sanford Bernstein realizado em 2009 mediu o peso dos países emergentes nas vendas globais das multinacionais. O Valor atualizou esses números, com base nas demonstrações financeiras até setembro de 2010. É possível concluir que em todas as oito companhias analisadas (Avon, Unilever, Colgate, Henkel, P&G, Reckitt Benckiser, L'Oréale Kimberly-Clark) houve aumento nessa participação. Na Unilever e na Avon já supera os 50%.

Brasil

A expectativa de aumento no consumo das famílias, ancorada nas projeções positivas de ganhos de renda e de emprego, devem ampliar os ganhos das multinacionais no Brasil nos próximos cinco anos. A questão já pauta os discursos dos principais executivos do mercado de consumo no mundo, com metas e datas para atingi-las.

O comando da Procter & Gamble, a maior empresa de bens de consumo do mundo, trabalha num plano para ampliar o número de consumidores de sua marca no Brasil para o período de 2010 a 2015. De acordo com Bob McDonald, CEO mundial da P&G, em meados de 2010 cerca de 125 milhões de brasileiros usavam produtos da multinacional, dona do Ariel, Oral-B e Pantene. Ele quer atingir 200 milhões em cinco anos. Isso equivale a um quinto da soma total (1 bilhão) de novos compradores que a P&G planeja conquistar nesse período em todo o mundo.

Segundo dados apurados pelo Valor e pela corretora Sanford Bernstein, a fatia dos países em desenvolvimento nas vendas da P&G passou de 33% em 2009 para 34% em setembro de 2010. É um avanço menor que o verificado na Unilevere Reckitt-Benckiser, por exemplo. Na Unilever, com vendas de € 33,4 bilhões de janeiro a setembro de 2010, 55,3% da receita foi obtida nesse grupo de nações, que inclui o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), além de alguns países do Oriente Médio, do Leste Europeu e África do Sul.

Neste ano, "o aumento de juros [no Brasil] deve tornar mais discreta a expansão das empresas que dependem de crédito para crescer. [Setor de] bens de consumo não-duráveis devem ter desempenho melhor pois só dependem de renda", diz Rogerio Mori, professor da FGV-EESP.

Com informações do Valor

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