Partidos que apostaram na internet falharam, diz analista

Vermelho

Já é possível dizer com reduzida probabilidade de erro: falharam - e falharam feio - os partidos, os candidatos, os analistas políticos na mídia e, principalmente, os estrategistas de marketing que no começo deste ano apostavam fichas valiosas na ideia de que se repetiria no Brasil, em 2010, o fenômeno das redes sociais na WEB que um ano antes, nos Estados Unidos, viabilizara financeira e eleitoralmente a vitoriosa campanha de Barack Obama.
por Vitor Hugo Soares para o Terra Magazine

Puro engano, ou simples engodo em alguns casos. Menos de 30 dias depois do início do chamado horário eleitoral gratuito de propaganda, o que se vê cada dia com maior nitidez é um verdadeiro banho da "velha televisão" - e do "velhíssimo rádio" também - na preferência nacional quando chega a hora de decidir em quem votar.

Aqui em Pindorama é diferente, já se vê pelo andar da carruagem. Quem foi capaz de perceber isso mais cedo, como o publicitário e jornalista baiano João Santana e os estrategistas da campanha da governista Dilma Rousseff, botou frente invejável e muita poeira nos olhos dos adversários, a se acreditar no que mostram os resultados das mais recentes pesquisas dos principais institutos de verificação de preferências no País.

Nada desesperador ou diferença impossível ainda de tirar até 03 de outubro, ao menos para viabilizar o segundo turno como pretende e pede aos eleitores Marina Silva, do Partido Verde. Mas é melhor não perder de todo o senso de realidade: uma virada é tarefa seguramente muito difícil e ingrata para quem, como José Serra, do PSDB, está sendo obrigado a reestruturar praticamente toda a sua estratégia de marketing político, um completo fiasco até esta semana.

Os tucanos e seus aliados do DEM perderam tempo precioso até despertarem finalmente para o fato de que será na televisão e no rádio o terreno onde a batalha pelo voto no Brasil será decidido mais uma vez. Bastante tempo, esforço e dinheiro jogados fora até a mudança de rumo verificada no horário eleitoral esta semana. Depois do puxão de orelha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - veterano e tarimbado ganhador e perdedor de eleições -, a descoberta afinal de que "José Serra não é Zé. Serra é Serra". De canela, mas quem sabe ainda há tempo!

Não foi por falta de aviso mais cedo. Vale a pena recordar aqui, por mérito da autora, o conteúdo do artigo assinado no fim do ano passado pela jornalista Rosane Santana, que atualmente integra a equipe "Eleições 2010" do portal Terra, coordenada nacionalmente por Bob Fernandes. Quando os balões da mídia brasileira exaltavam o desembarque no País da Blue State Digital, empresa norte-americana que estruturou o suporte tecnológico para viabilizar a bem-sucedida campanha de marketing de Obama na Internet nos EUA, saiu o texto "Obama, Web e Brasil", publicado na revista digital Terra Magazine e no Blog do Noblat.

Rosane acabara de ler em jornais brasileiros, que a BSD estava de malas prontas para desembarcar por estas bandas nas eleições presidenciais deste ano. Pelas mãos do engenheiro elétrico Ben Self, sócio da companhia, o efeito Obama poderá dar resultado na Terra Brasilis, informa a jornalista, citando edições online de nossos jornais e blogs.

"Não acredito", escreveu em 2009 a autora do artigo, mestre em História pela UFBA, que então ainda morava em Boston, e concluía estudos de três anos na universidade de Harvard, de onde postou o texto publicado originalmente no site blog Bahia em Pauta. Antes de escrever, a jornalista conta ter relido uma esclarecedora entrevista de Eli Parisier, diretor da Moveon.org Politic Action sobre como a Internet está revolucionando a política, concedida à revista Rolling Stone em 2007.

O artigo fala da colossal estrutura humana e tecnológica da Moveon nos Estados Unidos. Criada há 10 anos, é uma organização que congrega cinco milhões de internautas ativistas, e foi um dos principais responsáveis pelas milionárias arrecadações de Obama e o sucesso dele no mundo virtual, "embora muitos continuem a pensar que Obama inventou o Blackberry e descobriu a Internet", ironiza a jornalista no texto esclarecedor e mais que atual nesta altura da campanha .

O que importa aqui, no entanto, é a explicação da jornalista sobre as razões de sua descrença, quando na época praticamente todos apostavam no papel decisivo da web também por aqui este ano. "Como imaginar, no curto prazo, uma estrutura dessa natureza funcionando no Brasil, país onde a região norte não conhece banda larga, segundo informações que me chegam por telefone, e boa parte do território não possui sequer energia elétrica. Superados os entreves da infraestrutura, cairemos na questão da democracratização da tecnologia . Aqui nos Estados Unidos entre pobres e ricos, negros e brancos, gregos e troianos, o uso da tecnologia de ponta esta disseminado em toda parte", informava a jornalista baiana, de Boston.

Esta semana, de passagem por Salvador, Rosane Santana lembrava pessoalmente o que dissera pouco antes de retornar dos EUA. Computadores, microcomputadores e afins são acessíveis à população de tal forma, que é difícil você encontrar por lá um celular que não seja iPhone ou Blackberry. A maioria dos estudantes maneja computadores desde a escola fundamental, sem risco de sofrer violência, de ser assaltado na próxima esquina.

E lembra o historiador Oliveira Viana na conclusão de seu texto tão atual: "Como no Brasil tudo acontece por decreto, de cima para baixo, a utilização da tecnologia na política será instrumento do partido do governo e com dinheiro público. Coisa muito diferente do que ocorreu nas eleições americanas".

Na mosca. Só resta assinar embaixo.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta ( http://bahiaempauta.com.br/).

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