A hagiografia de Serra
por Evaldo Novelini, no Alfarrábios
Faz três meses, mas todo mundo ainda se lembra.
Ao traçar um perfil da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), chamado de "investigação", a revista piauí descobriu que a virtual candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não era mestre em teoria econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conforme constava no sítio eletrônico do governo.
Escândalo. Jornais, revistas e portais passaram a repercutir a informação, reforçando a pecha de "mentirosa" desde sempre associada a Dilma.
Eis que chega outubro e, com ele, mais uma edição da piauí. O retratado da vez, agora na forma de "reportagem", é o governador paulista José Serra (PSDB), o preferido de nove e meio entre dez patrões da mídia tupiniquim para substituir Lula no Palácio do Planalto a partir de 2011.
O que se vê nas dez páginas da matéria é uma espécie de ode ao tucano.
Uma hagiografia. Temas incômodos ao governador, como sua relação conflitante com o antecessor Geraldo Alckmin (PSDB), simplesmente foram suprimidos do texto final - a pedido do próprio Serra, como confessa candidamente a autora da reportagem.
A dissimulação no agir, recentemente denunciada pelo vereador paulistano Gabriel Chalita (PSB), e o uso do aparato do poder, como a Polícia Federal, para perseguir inimigos, só aparecem no texto na forma de defesa das virtudes do homem que parece predestinado a comandar o Brasil, em declarações de um amigo próximo.
"Tem duas coisas que tiram o Serra do sério: falar que foi ele que inventou a candidatura da Marina Silva para desestabilizar a da Dilma, e que foi ele o responsável pela investigação no escritório de Roseana Sarney, em 2002, quando a PF achou aquela montanha de dinheiro", defende, em aparte, o oncologista fluminense Jacob Kligerman.
Os pontos negativos de Serra, segundo a leitura de "Serra na hora da decisão"? Estressado e implicante. Além de ter uma aversão a alho e de limpar as mãos com álcool em gel compulsivamente.
O mais interessante, no entanto, é que a repórter de piauí descobriu que, assim como Dilma afirmava ser mestra sem concluir o curso, Serra também não é economista como faz crer.
Ao menos não titulado por uma universidade. A confirmação do que o jornalista Paulo Henrique Amorim vem sustentanto faz tempo em seu Conversa Afiada foi feita pelo professor da Unicamp João Manuel Cardoso de Mello: "O Serra não terminou a graduação, e daí?"
Daí que a revista e os observadores da cena política com espaço nos jornalões poderiam repetir o discurso empregado na época em que Dilma foi desmascarada.
Mas não. Parecem ter vestido a carapuça diante do sermão aplicado por Mello, que classificou a discussão de "baboseira", "coisa pequena", "detalhezinho", "mesquinharia" e "discussãozinha de classe média".
Mesmo assim, o perfil de Serra também começa a repercutir na chamada grande imprensa.
Fernando de Barros e Silva, colunista estrelado da Folha de S. Paulo, publica hoje em seu espaço na página dois do maior jornal do Brasil um dos primeiros comentários sobre o texto da piauí.
O singelo título, "Serra de mãos limpas", já dá uma ideia de como a revista colaborou para enriquecer o debate acerca das eleições presidenciais que se avizinham.
Ah, sim, piauí lembra que Serra "se dá muito bem com os patrões da grande imprensa":
- A identidade política dos grandes jornais e revistas é muito maior com ele do que com Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva. (...) Tudo isso se reflete no noticiário.
Bem analisado, o trecho não deixa de ser uma confissão dos limites do jornalismo atual.
Faz três meses, mas todo mundo ainda se lembra.
Ao traçar um perfil da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), chamado de "investigação", a revista piauí descobriu que a virtual candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não era mestre em teoria econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conforme constava no sítio eletrônico do governo.
Escândalo. Jornais, revistas e portais passaram a repercutir a informação, reforçando a pecha de "mentirosa" desde sempre associada a Dilma.
Eis que chega outubro e, com ele, mais uma edição da piauí. O retratado da vez, agora na forma de "reportagem", é o governador paulista José Serra (PSDB), o preferido de nove e meio entre dez patrões da mídia tupiniquim para substituir Lula no Palácio do Planalto a partir de 2011.
O que se vê nas dez páginas da matéria é uma espécie de ode ao tucano.
Uma hagiografia. Temas incômodos ao governador, como sua relação conflitante com o antecessor Geraldo Alckmin (PSDB), simplesmente foram suprimidos do texto final - a pedido do próprio Serra, como confessa candidamente a autora da reportagem.
A dissimulação no agir, recentemente denunciada pelo vereador paulistano Gabriel Chalita (PSB), e o uso do aparato do poder, como a Polícia Federal, para perseguir inimigos, só aparecem no texto na forma de defesa das virtudes do homem que parece predestinado a comandar o Brasil, em declarações de um amigo próximo.
"Tem duas coisas que tiram o Serra do sério: falar que foi ele que inventou a candidatura da Marina Silva para desestabilizar a da Dilma, e que foi ele o responsável pela investigação no escritório de Roseana Sarney, em 2002, quando a PF achou aquela montanha de dinheiro", defende, em aparte, o oncologista fluminense Jacob Kligerman.
Os pontos negativos de Serra, segundo a leitura de "Serra na hora da decisão"? Estressado e implicante. Além de ter uma aversão a alho e de limpar as mãos com álcool em gel compulsivamente.
O mais interessante, no entanto, é que a repórter de piauí descobriu que, assim como Dilma afirmava ser mestra sem concluir o curso, Serra também não é economista como faz crer.
Ao menos não titulado por uma universidade. A confirmação do que o jornalista Paulo Henrique Amorim vem sustentanto faz tempo em seu Conversa Afiada foi feita pelo professor da Unicamp João Manuel Cardoso de Mello: "O Serra não terminou a graduação, e daí?"
Daí que a revista e os observadores da cena política com espaço nos jornalões poderiam repetir o discurso empregado na época em que Dilma foi desmascarada.
Mas não. Parecem ter vestido a carapuça diante do sermão aplicado por Mello, que classificou a discussão de "baboseira", "coisa pequena", "detalhezinho", "mesquinharia" e "discussãozinha de classe média".
Mesmo assim, o perfil de Serra também começa a repercutir na chamada grande imprensa.
Fernando de Barros e Silva, colunista estrelado da Folha de S. Paulo, publica hoje em seu espaço na página dois do maior jornal do Brasil um dos primeiros comentários sobre o texto da piauí.
O singelo título, "Serra de mãos limpas", já dá uma ideia de como a revista colaborou para enriquecer o debate acerca das eleições presidenciais que se avizinham.
Ah, sim, piauí lembra que Serra "se dá muito bem com os patrões da grande imprensa":
- A identidade política dos grandes jornais e revistas é muito maior com ele do que com Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva. (...) Tudo isso se reflete no noticiário.
Bem analisado, o trecho não deixa de ser uma confissão dos limites do jornalismo atual.
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