Receita genérica

José Paulo kupfer


Bom de crítica, na hora de apresentar saídas, Arminio coloca praticamente toda a responsabilidade nas costas do crescimento econômico

Previamente indicado ao cargo de ministro da Fazenda do governo do PSDB, caso o senador Aécio Neves vença o segundo turno das eleições presidenciais de 26 de outubro, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga voltou a falar com desenvoltura sobre os planos de seu candidato para a economia. Só nesta semana, o economista já concedeu duas longas entrevistas, ao jornal “Valor Econômico” e ao site da revista “Veja”.

Nas duas oportunidades, Arminio se estendeu em críticas à política econômica da presidente Dilma Rousseff, que, na tentativa de se reeleger, também disputará o segundo turno, e sinalizou para pontos do programa que colocaria em marcha se assumisse o governo. Se acertou na maior parte das críticas, decepcionou na oferta de um programa alternativo.

Arminio apontou o dedo acusador para a falta de transparência nas contas públicas, a concessão amplificada de subsídios sem incorporá-los ao orçamento, a baixa conexão do setor exportador com as cadeias globais de valor, o represamento de tarifas públicas, incluindo uma contenção forçada demais da taxa de câmbio. Acusou também o uso dos bancos públicos para estimular o crédito e o consumo, ao mesmo tempo em que o Banco Central tentava segurar a economia com altas nos juros básicos.

Resumiu, não sem razão, a “nova matriz macroeconômica”, traçada pelo governo Dilma, a uma tentativa de resolver com paliativos situações que são de natureza mais estrutural. Mas, na hora de apresentar as saídas, recorreu a um remédio genérico e colocou praticamente toda a responsabilidade nas costas não tão largas do crescimento econômico. Tudo, em resumo, nas palavras de Arminio, se resolverá com a retomada do crescimento. O problema é que, até aí, com perdão pelo trocadilho, morreu Neves. De pouco adianta saber, por exemplo, como constatou o economista, que, “para os salários continuarem a crescer, para os programas sociais continuarem a crescer, é preciso que a economia cresça”, sem que se saiba como será obtida essa retomada do crescimento.

Além disso, ao endereçar ao crescimento todas as possíveis soluções dos muitos desequilíbrios atuais, Arminio, no fundo, parece recorrer a uma reedição da “teoria do bolo”, que ficou famosa na época do “milagre econômico”, de fins dos anos 60 e início dos anos 70, e, segundo a qual, era preciso fazer a economia crescer para só depois distribuir os frutos desse crescimento. Não custa lembrar que, naquele período, a economia cresceu a taxas anuais de dois dígitos, mas a desigualdade social aumentou.

A receita de crescimento oferecida por Arminio compõe, segundo ele, um “novo regime” virtuoso de política econômica, que vai além do retorno ao “tripé macroeconômico” — inflação no centro da eta, câmbio flutuante e superávits fiscais primários que equilibrem a dívida pública. Esse “novo regime” se apoia no reequilíbrio macroeconômico, no aumento dos investimentos e no crescimento da produtividade. Faltou, aqui e também em outros pontos, detalhar melhor como todas essas coisas tão desejáveis, e incluindo a ambiciosa meta de levar a taxa de investimento a 24% do PIB ao ano, serão 
alcançadas.

Idem para a complexa equação que combina austeridade fiscal com ampliação dos programas sociais e, como sugeriu Aécio, o fim do fator previdenciário. O crescimento sem detalhamento, mais uma vez, apareceu como a tábua de salvação. Para resolver questão tão complicada, como explicou aos entrevistadores do “Valor”, com mais crescimento econômico, “basta que a taxa de crescimento do gasto público seja inferior ao crescimento do PIB”. O conselheiro Acácio não teria melhor resposta. 

Comentários

Mais Lidas

O que a mídia de celebridades faz com Anitta deveria ser crime

Guru de Marina disse que é preciso aumentar a carne e o leite

A parcialidade é o menor dos problemas da mídia golpista. Por Léo Mendes