Eu nasci coxinha. Fui criada numa escola coxinha, cheia de gente coxinha como eu.

Dani Primavera Nefussi no seu Facebook


Eu nasci coxinha. Fui criada numa escola coxinha, cheia de gente coxinha como eu. 

Fui uma coxinha rebelde, mas ainda coxinha. Não deixei de ser coxinha, pois é uma maldição arraigada na minha ancestralidade. Mas tive duas sortes: tive uma mãe com espírito hippie e comecei a fazer teatro aos 13 anos, no início dos meus questionamentos sobre como o mundo funciona, questionamentos sobre o "outro". O treinamento como atriz me ensinou a me colocar "no lugar" das outras pessoas, a enxergar a vida com outros olhos diferentes dos meus.

Aprendi a pensar com outras cabeças, a amar com outros corações. Li Brecht, li Sheakespeare, li Beckett, li Tchekhov. Então, do topo do meu belo apartamento coxinha nos Jardins, de dentro da redoma burguesa, percebi que havia uma multidão de pessoas vivendo uma vida completamente diferente da minha. Uma multidão de pessoas sofrendo muito, tratadas feito as baratas que raramente apareciam na minha confortável casa. Sou coxinha, mas sou humana. Nunca mais tive paz. 

Fiz teatro enquanto senti que através dele eu colaborava para que a igualdade entre os seres fosse conquistada. Depois, me senti coxinha de novo no teatro, que foi tomado pelas vaidades. Parei. Ainda sou uma coxinha. Uma coxinha mais consciente, mas ainda coxinha. Só que hoje eu percebo em mim, uma potência, um afeto, que são anteriores ao meu condicionamento de coxinha; que são maiores do que todo meu condicionamento. 

Eu amo a humanidade, amo os seres humanos, e não tenho nenhum desejo maior em minha vida do que ver todas as pessoas sendo tratadas como pessoas. Nenhum.Tudo que faço e não faço, tudo o que penso e estudo está sempre voltado para o objetivo de encontrar soluções, saídas para essa desigualdade. 

Deixar de ser coxinha não é uma coisa fácil: é uma luta contra padrões martelados na alma. Está aí um mundo coxinha.

Pensa como coxinha até quem nem tem onde cair morto. O pensamento coxinha é implantado em todos: ninguém quer ser pobre, ninguém quer ser sujo, ninguém quer ser inculto, ninguém quer comer frango na Praia Grande e sim canapê em Miami. 

É um esforço diário de desconstrução, para dar lugar à Potência, ao Amor, à Fraternidade. Disse tudo isso para afirmar que de todas as críticas que eu possa fazer a esse ou aquele assunto político, só um assunto me interessa: a igualdade social. E para haver igualdade social não basta distribuir pão. Há que distribuir o pão, mas há também que elaborar uma estratégia, dinâmica e objetiva, que ataque o problema de vários ângulos, para tornar possível essa conquista. 

Apesar da gigante máquina de fazer coxinha que domina nosso planeta, há séculos, existem milhares de iniciativas tentando reverter essa "produção". Desconstrua a coxinha que você é, e deixe que o amor ao próximo flua na sua existência!!

Comentários

Mais Lidas

O que a mídia de celebridades faz com Anitta deveria ser crime

Guru de Marina disse que é preciso aumentar a carne e o leite

A parcialidade é o menor dos problemas da mídia golpista. Por Léo Mendes