Quando o protesto é contra a mídia

Nassif

Por Veruska Donato, repórter da TV Globo, pelo Facebook


Dêem licença, mas eu preciso desabafar. Hoje fui cobrir o protesto contra a corrupção na Paulista. Fiquei orgulhosa de um movimento nascido na sociedade e para a sociedade, mas infelizmente eu e minha equipe fomos duramente atacados por várias pessoas que ali estavam. Qual o propósito? Ofender a empresa onde eu trabalho atacando o Meu trabalho? Quem são essas pessoas que querem derrubar os corrupt...os com tanta violência? Pregam ética e não respeitaram a minha equipe (incluo o motoboy nessa) que acordou às 4 da manha para trabalhar como qualquer um?

A PM tentou intervir, mas até funcionários e professores universitários vieram nos atacar. Disseram que aquilo tudo era parte da Democracia. Jesus! vamos combater a corrupção, assim? Nessa carnificina? O movimento é bom, tem pessoas muito sérias , mas é p reciso tirar os ovos podres.

Ninguém precisa gostar da gente, mas desde quando precisamos ser atacados enquanto trabalhamos? Outros jornalistas passaram pelo mesmo perrengue que eu vi. Em países democráticos, a democracia foi construída com a imprensa livre. Nos deixem trabalhar.

Por Florestan Fernandes Jr

No capitalismo os interesses, políticos e financeiros das empresas sempre serão maiores que os ideais de seus funcionários, nem o genial Steve Jobs conseguiu quebrar essa sina na Apple.

Me lembro bem de uma conversa que tive com um alto executivo de uma montadora norte-americana com fábrica no Brasil. Ele acabara de me fazer uma proposta tentadora para assumir um cargo importante na diretoria de assuntos corporativos da empresa. Estava quase aceitando quando ele fez questão de deixar uma coisa muito clara. a de que, a partir daquele momento não poderia mais manifestar publicamente minhas ideias, posições políticas e econômicas. A empresa estaria sempre em primeiro lugar e eu teria que falar em nome dela sem questionar nada.

Fiquei tão assustado com aquilo que declinei do convite para surpresa do executivo da montadora. Ingenuidade a minha, agi como se numa grande empresa de comunicação as coisas fossem diferentes. Não são! A grande imprensa tem seus interesses e sua história, tem uma linha de produção de informação que irá defender sempre posições políticas e econômicas dos donos dos veículos.

Em 1984 eu era repórter da Globo e senti na pele ser identificado politicamente com a empresa em que trabalhava. Era um momento de muita mobilização popular, greves pipocavam no ABC, milhares de pessoas saiam as ruas e lotavam as praças pedindo Diretas Já. Eu e meus colegas de reportagem passamos muito aperto. Teve até um carro da emissora que chegou a ser tombado por operários em assembleia na porta de fábrica. Apesar de ter o monopólico da audiência, a empresa não conseguiu evitar o desconforto.

Estava claro que a sociedade civil não aprovava o posicionamento politico tomado pela emissora nos 20 anos de ditadura militar, e tornou isso público nas ruas. Percebo muito bem hoje que a sabedoria popular me colocou no tamanho exato das minhas funções, não era maior ou melhor que os outros por ser jornalista, muito menos por ser funcionário da maior rede de televisão do país. Não vou cuspir no prato que comi, acho que a Globo é uma grande empresa de comunicação, não concordo com muitas coisas que ela fez e faz, mas ela não difere em nada das outras empresas do mundo capitalista.
Ainda bem que a indignação no Brasil ainda exista, que pessoas saiam às ruas contra a corrupção e os corruptores, e que elas não queiram ser reféns de nenhum veículo de comunicação.

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