Aécio "reinaugura" oposição com discurso óbvio e muita bajulação

Quase 100 dias depois de tomar posse no Senado, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) resolveu, finalmente, tentar honrar o papel que a mídia e setores da direita lhe outorgaram de "líder da oposição". Em seu primeiro pronunciamento no grande expediente do Senado, Aécio repetiu o discurso antipetista usado pela oposição na última campanha eleitoral. Fez uma tentativa de resgatar a "herança" deixada pelo governo FHC e disse que fará uma oposição firme mas não hostil.

De resto, repetiu o que a mídia e a direita já vinham destacando no último período. Acusou o PT de aparelhar e inchar o Estado. O mesmo que José Serra já havia dito na campanha eleitoral. Criticou a suposta "intromissão" do governo na iniciativa privada, citando nominalmente a Vale. O mesmo tem feito a mídia nas últimas semanas.

Repetindo a mesma ladainha da última campanha eleitoral, Aécio também buscou minimizar as realizações do governo Lula. Disse que os bons resultados obtidos nos últimos 8 anos só foram possíveis graças à "manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores".

O senador tucano briga com a realidade e com os números ao afirmar que o país sofre "grave risco de desindustrialização". E revela uma marota hipocrisia ao "denunciar" que a "qualidade das estradas brasileiras, por onde trafega mais da metade das cargas no País, supera apenas a da Rússia", sem lembrar que a maior parte das piores estradas do país está justamente em Minas Gerais. A mesma hipocrisia revela ao criticar a carga tributária brasileira. Novamente sem lembrar que quando foi governador de Minas, não agiu para reduzir a carga tributária estadual.

Ao falar sobre o papel da oposição, Aécio elenca as óbvias tarefas oposicionistas: "Fiscalizar com rigor. Apontar o descumprimento de compromissos assumidos com a população. Denunciar desvios, erros e omissões. E cobrar ações que sejam realmente importantes para o país".

Fez ainda uma defesa do municipalismo, contra a concentração de poder político e econômico pela União. Citou o patético "Manifesto em Defesa da Democracia" -- um texto de ataques ao presidente Lula, capitaneado por setores conservadores na campanha de 2010--, como sendo "o mais importante documento político produzido nos últimos tempos no País".

Aécio ainda elencou algumas "bandeiras" da oposição, como a desoneração fiscal em setores estratégicos. Mas ressalvou que são também compromissos assumidos pelo atual governo.

Como proposta nova, citou apenas a "transferência gradual dos recursos e da gestão das rodovias federais para a competência dos estados" e a eventual criação do Simples Trabalhista.

Falou ainda em ética, responsabilidade e coragem para defender a velha bandeira neoliberal de diminuição do papel do Estado. Tese camuflada através de palavras como "choque e gestão" e "responsabilidade administrativa".

Por fim, voltou a dizer que a oposição que pretende fazer "não é a de uma coligação de partidos contra o Estado ou o País, mas a da lucidez da razão republicana contra os erros e omissões do poder público". "Ou o faremos ou continuaremos colecionando sonhos irrealizados", finalizou.

Apartes

Antes mesmo de ocorrer, o discurso de Aécio --potencial candidato à Presidência em 2014 -- já havia sido anunciado como uma espécie de "inauguração" de uma nova fase da oposição, o "lançamento de um líder". O tucano quer se firmar como uma das principais vozes oposicionistas --depois de receber críticas de setores do PSDB sobre sua postura tímida nos dois primeiros meses de trabalho no Congresso.

A pretensão anunciada mobilizou as bancadas de todos os partidos. Mais de 30 senadores pediram apartes para comentar o discurso de Aécio.

Os governistas estavam preparados para responder no mesmo tom se o tucano passasse dos limites nos ataques ao governo. Mas como Aécio fez um discurso óbvio e pouco agressivo, os apartes, no geral, tanto de parlamentares oposicionistas quanto de governistas, primaram pela bajulação. Até mesmo o senador do PSOL, Randolfe Rodrigues (AP), derramou-se em elogios desmedidos a Aécio. Chegou a dizer que "trilharão caminhos muito parecidos". Poucos foram os senadores que contestaram o discurso do auto-proclamado "líder da oposição".

Apenas os senadores petistas Lindberg Faria (RJ), Marta Suplicy (SP) e Humberto Costa (PE) contestaram trechos do pronunciamento do senador mineiro.

O senador Lindberg Faria citou a "Lei delegada" em Minas Gerais e a falta de responsabilidade fiscal do governo mineiro. Lindberg também cobrou de Aécio sobre a plataforma da oposição. "No discurso do senhor faltou o discurso para o futuro", disse o senador petista.

A senadora Marta Suplicy também parabenizou o senador mineiro “pelo discurso democrático, amplo e elegante”. Mas aproveitou para comparar os índices sociais do governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso e criticou o processo de privatização do governo do PSDB. "Foi o governo Lula que resgatou a Petrobras e permitiu a descoberta de petróleo na camada pré-sal" disse a senadora. Marta Suplicy ainda destacou que a presidente Dilma começa a gestão com 73% de aprovação popular.

Humberto Costa (PE), por sua vez, respondeu à fala de Aécio sobre o PT. Disse que antes de acusar o PT de menosprezar os interesses da Nação, é preciso identificar que tipo de Nação o PT defende e que tipo de Nação o PSDB defende. Costa elogiou Aécio como "maior líder da oposição" no país, mas o tratou como “desinformado” sobre os avanços do governo petista. "Creio que vossa excelência dá uma grande contribuição ao debate, mas precisa se instruir mais um pouco", disparou o petista. O líder petista defendeu também o Governo Lula e o crescimento da economia. "Quem implantou no país um programa de infraestrutura, se não o presidente Lula? E este projeto está transformando o Brasil”, argumentou Humberto.

Após o discurso, Humberto conversou com jornalistas e manteve o tom. Segundo ele, até agora a oposição demonstrou que não tem propostas para apresentar à sociedade brasileira. Para ele, o senador tucano não trouxe nenhuma novidade nem mesmo em relação às concessões de rodovias. Ele destacou que, pela primeira vez, foram feitos elogios ao governo FHC. "Se o objetivo é promover um candidato quatro anos antes das eleições, ele irá se perder pelo tempo", acrescentou.

Da redação,
com agências

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