“Como gringa, recebo no Brasil um respeito que não mereço”

Diario do Centro do Mundo






Por Malika Shah, na BBC Brasil.

Minha primeira proposta de post aqui no ‘Para Inglês Ver’ foi recebida com surpresa pela editora do blog. Ela comentou que, curiosamente, o primeiro blogueiro, meu colega da Universidade de Oxford Adam Smith, havia sugerido algo semelhante como seu primeiro post.

Adam acabou escrevendo sobre como, na opinião dele, os brasileiros exageram na rejeição ao próprio Brasil e se apressam demais em julgar como positivo o que vem de fora, principalmente, dos Estados Unidos.

O interessante é que esse tema, que não chega a ser totalmente novo, não tinha chamado atenção de nenhum dos blogueiros da primeira turma, de um ano atrás. Chegava agora em dose dupla em dois posts consecutivos.

No meu caso, sugeria tentar entender algo que me chamou atenção por aqui. A descoberta de que sou inglesa provoca em algumas pessoas uma quase reverência, um tratamento de rainha, um respeito que não mereço.

Acho curioso existir uma palavra especial para se referir a uma pessoa de fora: gringo. Para mim, a palavra “gringo” tem a conotação de uma pessoa alienígena, quase um viking, com tranças loiras e uma mochila enorme, pronto para pilhar e enganar a população local. Tenho certeza de que há outras interpretações, mas acho o conceito do “gringo” redutor. Incentiva um estereótipo de que pessoas de fora são de outra espécie.

E muitas pessoas parecem ter a ideia de que tudo do exterior é melhor. Ouço frequentemente de uma amiga coisas como: “Eu deveria ter nascido em outro país. Sou pontual demais para ser baiana!” É brincadeira, mas, no extremo, isso parece revelar um complexo de inferioridade que pode ser perigoso.

Na língua inglesa, temos o provérbio: The grass is greener on the other side (algo como: “A grama do vizinho é sempre mais verde”). E que país é perfeito?

Nós, na Inglaterra, onde o estrangeiro é tratado, de maneira geral, com impaciência e indiferença, deveríamos aprender com a hospitalidade brasileira. No entanto, essa admiração pelo ‘gringo’, quando concedida de forma incondicional, acaba servindo para reforçar a separação entre o brasileiro e o estrangeiro. E a relação deveria ser de igual para igual.

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