Protesto que mata não é democracia

Dos jornais de hoje:
“O caminhoneiro Renato Langer Kranlow, de 44 anos, foi morto ao ser atingido na cabeça por uma pedrada, após furar um bloqueio de motoristas de caminhão na noite de quarta-feira, no trecho gaúcho da BR 116. Um pouco antes de ser assassinado, Kranlow foi agredido por caminhoneiros após ser obrigado a parar em um posto de gasolina na beira da rodovia. Como não queria participar do bloqueio, ele levou socos e chutes e teve de pedir auxílio à Polícia Rodoviária Federal para seguir viagem. Mesmo escoltado pelos patrulheiros, ele voltou a ser atacado quando seguia para Camaquã. Segundo a PRF, ele foi atingido por uma pedra de asfalto arremessada no para-brisa do caminhão, e sangrou até morrer”.
Renato tinha mulher, dois filhos e chegou a ligar para a família dizendo que estava machucado. Nem a escolta policial o livrou de uma pedrada covardemente lançada sobre o pára-brisas de seu caminhão.
Desculpem, isso não é manifestação nem exercício da sagrada liberdade de expressão e de greve.
É assassinato.
Já havia uma ordem judicial impedindo o bloqueio de rodovias.
Direito de parar e de se manifestar todo mundo tem e deve continuar a ter.
Direito de matar, não.
E também não tem o direito de provocar, com bloqueios, o desabastecimento das cidades.
Isso é sabotagem e, mostra a história, uma aposta na convulsão social e nas suas consequências políticas. Há 40 anos, um movimento assim ajudou o golpe contra Salvador Allende, no Chile e a implantação de uma sanguinária ditadura.
Quem lidera esse movimento é um homem conhecido pela brutalidade com que comanda as manifestações da categoria dos caminhoneiros e por suas conhecidas ligações com as empresas do ramo. Nélio Botelho não é um garoto inconsequente, tanto que tem  e sabe perfeitamente o que faz. Sua declaração, na Folha, é de estarrecer:
“Infelizmente, pode acontecer”, afirmou. Apesar de a vítima ter sido atingida por uma pedra, ele disse que “o que estamos sabendo é que foi um acidente, que não teve responsáveis”. “Não foi provocado por ninguém.”
Nem pode acontecer, nem foi “ninguém” que agrediu e atirou pedras no vidro de um caminhão em movimento e escoltado pela Polícia Rodoviária.
Há dois dias, a Presidenta mandou o Ministro (?) da Justiça (?), José Eduardo Cardozo, colocar a Polícia Federal em ação para apurar a articulação patronal deste movimento. Claro, com a mesma presteza e atitude que mostrou no caso do boato sobre o fim do Bolsa-Família.
Já não de trata de lixeiras queimadas ou quebra-quebras. Tudo isso é reparável.
A vida do caminhoneiro Renato, não.

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