Considerações sobre o caso Nonno Paolo

Nassif

Por Ritinha

Racismo é uma das coisas mais terríveis que existe, concordo; mas vamos imaginar o seguinte: Digamos que o gerente, ao ver uma criança negra sozinha na mesa do restaurante olhasse dos lados e visse lá longe um casal também negro. O que mesmo este gerente pensaria? Que o garotinho negro deveria ser filho do casal. Desta forma duvido que o menino seria colocado para fora.

Ai alguém perguntaria: Mas se o menino fosse branco? Bem, se ele fosse branco, mas estivesse com aparência de menino de rua também seria colocado para fora.

Então ao meu ver neste caso tem o engano do gerente, tem o elemento racismo não só do gerente, mas da sociedade de maneira geral e também o grande preconceito de classe social. O gerente fez o que muitos clientes esperariam dele. É cruel isso? Claro que é, mas a sociedade é realmente muito hipócrita para encarar tal fato. Sem dúvida é bem mais fácil a indignação via rede do que ter uma ação contrária ao racismo velado e já estabelecido.

Não serei eu a jogar mais pedra, creio que a repercussão já julgou e condenou o restaurante.

Por Luís Nassif
Vocês é que fazem a diferença, de permitir-se reflexões que vão muito além do julgamento puro e simples do episódio. Beleza de comentário da Ritinha.

Faltou apenas uma alternativa, no leque de situações analisado pela Ritinha: o menino não tinha a aparência de menino de rua. Tinha a cor. A reação do gerente se deveu ao racismo ou ao fato da maioria dos meninos de rua ser de cor negra?

Seja qual for a motivação, uma violência dessas contra um menino de 6 anos é abominável sob qualquer prisma que se analise.

Por F. Bocchini
Há um outro elemento motivador de preconceito, nesse caso, além do racial. Trata-se de não permitir que a miséria da pobreza fique do lado de fora das nossas vidas. O pobre é ainda mais marginalizado que a negritude da pele. Tolera-se um negro, mesmo sendo racista, mas nunca um pobre naquele grau de pobreza que nos toca a culpa. No dia a dia preferimos "varrer a sujeira pra debaixo do tapete"- pra usar uma imagem comum. Ninguém quer um mendigo na mesa ao lado enquanto se almoça. E isso vale para brancos e negros, ou para mim e para você. Tenho parentes próximos que nunca vão ao centro velho da cidade porque "lá tem muitos mendigos". Outros que não frequentam um shopping próximo às suas casas porque "lá tem muita gente feia" - entenda-se gente pobre.

Fui, com minha namorada, comer uma feijoada num bar do centro, na galeria metrópolis. Erá sábado, mesas na calçada, pagode tocando ao vivo e uma "negrada bonita", como costumo dizer, revelando meu "preconceito camarada". Um morador de rua se aproxima e pede um trocado para almoçar. Disse a ele que se sentasse à mesa e pedi um prato ao garçom, que saiu desconfiado. Voltou com o gerente que sugeriu que "poderia colocar um pouco de comida num marmitex". Nessa hora, qualquer coisa, desde que o incômodo social da miséria desapareça dos nossos olhos. Agradeci e disse que ele era meu convido e iria almoçar comigo. O almoço transcorreu sem mais problemas mas não sem os olhares das mesas vizinhas. A miséria nos agride. Temos medo e vergonha dela. Ela nos ameaça em nossas conquistas de conforto, de "status". Ela destroi nossas ilusões de grandeza. Ela revela nosso fracasso e culpas. Melhor mante-la do lado de fora.

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