A "faxina" na Itália produziu Berlusconi

Nassif

(Este texto é de Fevereiro de 2011 mas bem atual)

CORRUPÇÃO--MÃOS LIMPAS E DIGITAIS SUJAS.

O premier italiano Silvio Berlusconi vive o seu inferno astral. Só nestas duas últimas semanas, o "Cavaliere", como é conhecido, sentiu três duros golpes. Daquelas saraivadas de perder o rumo do corner box. Uma dureza para quem há menos de um mês dobrara os joelhos, em face de uma retumbante tunda eleitoral. Isso tudo na sua luta pela permanência no cargo de primeiro-ministro, que, por tabela, lhe garante a suspensão de rumoroso processo criminal no qual figura como réu.

Na metade dos anos 70, Berlusconi fundou uma financeira, a Fininvest, e começou a se aproximar de políticos de prestígio. Acabou impulsionado por Bettino Craxi, líder do Partido Socialista, primeiro-ministro por bom tempo e foragido da Justiça na qualidade de primeiro peixe grande fisgado por corrupção pela milanesa Operação Mãos Limpas. Craxi refugiou-se na Tunísia e ali faleceu.

Como advogado da Fininvest e do próprio "Cavaliere" atuava o seu fraterno amigo Cesare Previti. Juntos fundaram o partido Forza Italia, e o companheiro Previti tornou-se ministro quando Berlusconi assumiu, numa primeira e tumultuada passagem, o encargo de chefe do governo italiano.

Na segunda-feira 23, a Operação Mãos Limpas comemorou os seus 13 anos de vida engalanada pela condenação do deputado Previti. Isso pela compra de dois juízes, no caso Simi-Imi, a primeira uma empresa petroquímica da família de Nino Rovelli e a segunda, um banco público denominado Istituto Mobiliare Italiano (IMI).

A Corte de Apelação de Milão confirmou a conclusão condenatória de primeiro grau imposta pelo Tribunal de Milão aos advogados Cesare Previti e Attilio Pacifico, dados como corruptores e contemplados com sete anos de reclusão.

A Corte também manteve as condenações dos juízes Renato Squilante (cinco anos) e Vittorio Metta (seis anos), da magistratura romana. Sobrou, ainda, para Primorosa Battistelli (quatro anos e seis meses), viúva de Nino, e o filho Felice Rovelli (seis anos).

Ainda na mesma segunda-feira 23 foram publicados os resultados eleitorais do segundo turno do pleito administrativo na Sardenha, tradicional reduto da centro-direita.

Além das eleições sardas em Iglesias, Sestu e Porto Torres, onde ganhou a centro-esquerda, ocorreu a primeira eleição de Olbia Tempio, rica, populosa e reduto de turistas abastados. Mais, era tida como centro de influência de Berlusconi, a ponto de ser chamada de Piccola Arcore (referência à cinematográfica residência privada do premier em Milão). A candidata Pietrina Murrighile, da centro-esquerda, teve vitória fácil. De um total de oito centros, ela venceu em sete.

Mestre em vassalagem, Berlusconi apoiou Bush na invasão do Iraque. Por conseqüência, os italianos viraram alvo de seqüestros e execuções sumárias em zonas planetárias conflituosas. Só no Iraque, foram seis seqüestros e duas mortes.

Não bastassem os seqüestros da jornalista Giuliana Sgrena e das voluntárias Simona Pari e Simona Torretta, empenhadas em trabalhos humanitários, os talebans do Afeganistão resolveram imitar os insurgentes iraquianos.

Em Cabul, na segunda-feira 16, foi seqüestrada Clementina Cantoni. Ela cuidava das viúvas e dos órfãos vítimas do bombardeio norte-americano à população civil do Afeganistão. Em 1992, Clementina já tinha atendido em Kosovo os sobreviventes dos massacres da denominada “limpeza étnica” promovida pelos sérvios.

Passada uma semana do seqüestro de Clementina, comandado por Timor Slah, um ex-chefe da polícia dos talebans em Cabul, a Itália se mobilizou, numa iniciativa do prefeito de Roma. No encontro de segunda-feira 23, realizado na praça do Campidoglio, estavam presentes centenas de pessoas solidárias. Dentre elas, Sgrena e as duas Simona.

Pacifistas, representantes de entidades de direitos humanos e parlamentares de esquerda pressionaram pela libertação de Clementina e atacaram Berlusconi pelas adesões às guerras e às violências.

Os autos do processo criminal contra Previti & Cia. contam ter a empresa privada Simi obtido, nos anos 90, uma indevida e bilionária indenização, paga pela estatal IMI.

As sentenças foram encomendadas aos juízes Squilante e Metta, que receberam em dólares depositados em contas bancárias na Suíça. Esses depósitos foram realizados por Previti e Pacifico.

Decorrente de lei feita sob encomenda, devido à primeira condenação de Previti pelo Tribunal de Milão, o processo criminal contra Berlusconi está suspenso. Só deverá ser retomado quando ele deixar a chefia do governo italiano.

Os procuradores da Operação Mãos Limpas descobriram a origem do dinheiro depositado por Previti na conta dos juízes na Suíça. Parte da grana saiu do caixa da Fininvest, isto é, da financeira de Berlusconi, já com l’odore di soldi sporchi.

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