Facebook desmascara denúncia da Folha sobre médicos

PRAGMATISMO POLÍTICO

Redes sociais desmontam denúncia da Folha sobre o Mais Médicos. Jornal estampou que a médica Junice estaria sendo demitida para dar lugar a “um cubano” mas não mencionou que ela acumula três empregos que totalizam 128 horas semanais de serviço

A análise dos jornais diários é sempre uma caixinha de surpresas quando se tem tanta informação rolando nas redes sociais. A Folha estampou denúncia de que os prefeitos de 11 cidades demitirão médicos locais para que cheguem os profissionais do Programa Mais Médicos. A denúncia é grave.
Uma leitura apurada da matéria leva por entendimentos diversos. Título de capa aponta para a certeza de que haverá demissões “de médicos locais para receber os de Dilma”, o subtítulo coloca que 11 cidades “decidem trocar profissionais para ficar com os do programa Mais Médicos, pagos pela União”. Pois bem. A denúncia chama a atenção. O texto da chamada afirma que prefeituras do Norte e Nordeste começaram a trocar médicos contratados pelo Mais Médicos. Ponto. E que prefeitos e secretários de saúde “dizem que a mudança é vantajosa”, pois os profissionais são custeados pelo governo federal enquanto os médicos locais são pagos pelas prefeituras, com salários que chegam a R$ 35 mil. Outro atrativo é a certeza de que o novo profissional irá trabalhar por três anos, pelo menos.
A personagem que dá corpo à denúncia, a médica Junice Moreira, diz que foi comunicada da demissão, afirmando que “disseram que eu tinha que dar lugar a um cubano”. O prefeito em questão, da cidade de Sapeaçu (BA), Jonival Lucas (PTB), afirmou que ela está saindo por não cumprir a carga horária e não por conta da adesão ao programa.
Na reportagem que abre o caderno Cotidiano, a Folha afirma que identificou 11 cidades de quatro estados diferentes que pretendem fazer demissões para receber os profissionais do Mais Médicos. Prefeitos reclamam da alta rotatividadee de altos salários que precisam pagar para conseguir segurar profissionais. Além disso, aponta para a falta de infraestrutura como um fator que desanima os médicos locais. O impacto dos salários em pequenas prefeituras fica evidenciado na matéria.
Na segunda página do mesmo caderno, vem a reportagem-denúncia de que a médica Junice estaria sendo demitida para dar lugar a “um cubano”. Essa é a manchete da página, e o subtítulo reafirma o título. Começa com a triste notícia de que hoje, em Murici, povoado de Sapeaçu, será o último dia de trabalho da médica mineira, e sua demissão teria sido anunciada pela Coofsaúde, cooperativa que faz o pagamento dos médicos que ali trabalham por meio de contrato com a prefeitura. A cooperativa confirmou a saída da médica e que, em seu lugar, entrará um médico do programa. A brasileira se disse surpreendida pela notícia “pois não tinha feito nada errado”. E vai discorrendo sobre o caso, dizendo que é “adorada” pela população local.
Ouvido, o prefeito afirmou que a demissão não tem nada a ver com o programa, que já estavam procurando outro profissional para colocar no lugar da doutora Junice e o problema alegado para que a troca ocorresse era de que ela não estaria cumprindo a carga horário estabelecida, sendo que o substituto será um profissional brasileiro que já atuou naquela região. E sim, ele afirma que o programa traz benefícios aos municípios, pois desonera a folha de pagamento.
Em texto com uma coluna, a Folha fala dos outros municípios que irão trocar médicos locais por estrangeiros. Fala de Barbalha, no Ceará, que substituirá dois contratados por outros do Mais Médicos. De Camaragibe (CE), a informação de que o município tem direito a quatro médicos pelo programa, então demitirá dois para receber outros profissionais, e os dois restantes deixarão de receber pelo município para receber pelo governo federal. Não deixa claro se esses médicos locais, que receberão pelo governo, terão salário rebaixado. Isso é uma imposição? O jornal não explica esse ponto, e fica uma denúncia comprometida, já que o Programa Mais Médicos tem profissionais inscritos, por interesse próprio, e somente os que passaram pelo crivo da inscrição poderão ser indicados aos municípios. Assim fica a pergunta: como os médicos receberão do governo ,sem participação no programa via inscrição e escolha de município?
E mais, neste pequeno texto, outra informação importante: a de que, além da economia, aponta-se a obrigação de cumprir horários como outro benefício, já que os médicos serão acompanhados pelo governo federal.
E o outro lado, com Padilha afirmando que os quadros das prefeituras são monitorados para evitar que esse tipo de problema, apontado na matéria, ocorra. “Esse programa é Mais Médicos, não troca de médicos”, afirmou o ministro em audiência no dia 14, na Câmara.Um infográfico, em todo o centro da página, cujo título é “Substituição de Mão de Obra”, coloca os 11 municípios no mapa. Mas também traz outras informações: nos quatro estados o número total de médicos, o número de médicos por mil habitantes e os médicos previstos na primeira etapa do programa. E mais: traz uma relação médico/mil habitantes em outros países, o que acaba por endossar a necessidade do programa para essas regiões.

E as redes sociais com isso?

Nem bem a Folha trazia sua manchete com a denúncia, começou a circular no Facebook a denúncia de que a denúncia do jornal seria vazia. Segundo Vania Grossi, usuária da rede social, a Dra Junice teria três empregos, o que daria uma jornada semanal de 128 horas. A usuária afirma, também, que esse tipo de problema, de médico burlar o atendimento com vários empregos concomitantes, está acontecendo em sua cidade, e que eles estão sendo acionados para devolver o dinheiro recebido ao município.
As redes sociais dirão se a Folha tem ou não razão. Basta dar um tempinho para que as denúncias sobre essa denúncia sejam confirmadas ou refutadas. Em tempos de facilidade de informação, a Folha deveria ter se escudado com o contracheque da denunciante, para não dar espaço ao clamor das redes sociais.
Acompanhemos, pois!
Veja a denúncia da usuária do Facebook abaixo.
denúncia médicos folha
(Imagem – CNESNet – Ministério da Saúde)
denúncia médicos folha
(Imagem – CNESNet – Ministério da Saúde. Com imagem de arquivo pessoal da Dra. Junice – Reprodução/Facebook)

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