“MARINA NÃO É A FAVOR DO CASAMENTO IGUALITÁRIO"
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BRASIL 247

Ao 247, o deputado federal Jean Wylls (PSOL-RJ) reafirma que Marina Silva não apoia o casamento igualitário entre pessoas do mesmo sexo, e apenas tem usado "um jogo de palavras" ao afirmar que é a favor da união civil entre gays; o parlamentar critica a postura da presidenciável, ao tentar fazer "novas políticas" sem "transparência" e "sinceridade"; e convida a ambientalista a gravar um vídeo em prol do movimento, caso tenha mudado de ideia sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo
Juliane Sacerdote_Brasília 247 – O deputado federal Jean Wylls (PSOL-RJ) diz ter recebido com "surpresa" a nota divulgada nessa quinta-feira 21 pelos assessores de Marina Silva, sobre a posição dela em ser favorável à união civil entre casais do mesmo sexo. [Entenda o caso]
Em nota oficial enviada ao Brasil 247, o parlamentar explicou que o texto só reafirma a posição da presidenciável: ela continua em cima do muro sobre o casamento igualitário entre gays, e seria nesse ponto, segundo o deputado federal, que Marina teria proposto um plebiscito ainda em 2011, em um encontro privado.
"(...) após o lançamento do partido "Rede", essas lideranças negam que Marina tenha defendido a realização de um plebiscito sobre o casamento civil igualitário e, valendo-se de um jogo de palavras (misturando o casamento com a "união civil", como se fosse a mesma coisa), não esclarecem se ela é a favor ou contra o direito de todos os brasileiros e brasileiras a se casar no cartório com a pessoa que amam", destaca o parlamentar em um trecho do texto.
O jogo de palavras a que Jean Wylls se refere está no texto divulgado pelos assessores de Marina: "Vale lembrar que Marina Silva sempre se manifestou a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo, posição divulgada nacionalmente durante a campanha à Presidência da República em 2010".
Ainda segundo o parlamentar, as confusões entre união civil e casamento igualitário são comuns entre as pessoas que não participam do movimento LGBTT. E explica que a união é uma proposta "segregacionista" para "distinguir os casais homoafetivos dos heteroafetivos", e que o casamento igualitário teria todas as garantias legais e sociais de um casamento que ocorre hoje entre pessoas de sexo diferente.
Jean Wylls finaliza o texto destacando que "será o primeiro a parabenizar" Marina Silva, "se ela mudar de ideia". Mas, ao mesmo tempo, alfineta a candidata ao Palácio do Planalto em 2014, dizendo que "novas políticas se começam com transparência e sinceridade", e que caso ela queria, pode gravar um depoimento dizendo ser favorável ao casamento igualitário para apoiar a campanha do movimento LGBTT.
Divergência
A divergência sobre a defesa do casamento igualitário fez com que o deputado Jean Wylls publicasse em seu Twitter que não está ao lado de Marina Silva no novo partido lançado por ela essa semana. Para ele, "novas políticas" não podem ser acompanhadas do "velho conservadorismo ao submeter os direitos das minorias a plebiscitos e referendos".
Confira a íntegra da nota oficial divulgada por Jean Wylls nesta sexta-feira 22:
Um convite à Marina
Gosto pessoalmente de Marina Silva. Respeito e admiro muito sua trajetória política e acho que ela é um quadro importante para o atual cenário político polarizado entre PT e PSDB. Ainda faço votos que ela consiga as assinaturas necessárias para registrar seu partido. Espero que fique claro que minhas divergências com Marina são políticas, podem ser pontuadas, e que concordamos em várias outras questões. Podemos – e vamos, embora meu partido, o PSOL, tenha outro/a canditato/a – na hipótese do partido de Marina se constituir de fato e ela vir a ser presidenta, estabelecer um diálogo.
Dito isto, li com surpresa a nota lançada por lideranças do novo partido que está sendo criado para apoiar a candidatura da Marina Silva, na qual eles dizem que eu menti com relação à resposta que recebi da ex ministra do Meio Ambiente quando, em um encontro privado realizado em 2011, perguntei a ela se continuava sendo contra o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo ou tinha mudado de opinião.
Ela me disse que apoiava a realização de um plebiscito para que a população decidisse — uma idéia com a qual eu discordo absolutamente.
No entanto, após o lançamento do partido "Rede", essas lideranças negam que Marina tenha defendido a realização de um plebiscito sobre o casamento civil igualitário e, valendo-se de um jogo de palavras (misturando o casamento com a "união civil", como se fosse a mesma coisa), não esclarecem se ela é a favor ou contra o direito de todos os brasileiros e brasileiras a se casar no cartório com a pessoa que amam. No entanto, basta fazer uma busca rápida no Google para confirmar que eu estou falando a verdade.
E neste artigo elogioso à figura de Marina Silva que escrevi para minha coluna em Carta Capital pouco depois do nosso encontro (o que prova que minha questão não é pessoal), já no segundo parágrafo eu me refiro à nossa divergência sobre o casamento igualitário sem contudo entrar nos detalhes da mesma: "Não há bem que nunca acabe, não há mal que sempre dure".
Na última campanha presidencial, Marina disse muito claramente que era contra o casamento civil igualitário.
Na edição do Estado de São Paulo do dia 03/06/2010, por exemplo, a Marina disse: "O casamento é uma instituição entre pessoas de sexos diferentes, uma instituição que foi pensada há milhares de anos para essa finalidade", e até acrescentou: "Prefiro que o movimento gay olhe para mim e diga: ‘a Marina nesse aspecto não pensa igual a mim’". Na sabatina realizada pela Folha de São Paulo em parceria com a UOL, ela disse: "Eu tenho dito que não sou favorável ao casamento, mas eu defendo os direitos civis dos homossexuais, inclusive que eles possam ter união de bens, que eles possam ter seu plano de saúde".
Quando Marina me convidou para um encontro para conversar sobre as suas propostas para o Brasil, aceitei participar porque, como autor da PEC do casamento civil igualitário, não perco oportunidades para buscar o apoio de lideranças de todos os partidos e da sociedade civil para a campanha de apoio a essa reivindicação da nossa comunidade. É uma campanha suprapartidária, que já conquistou apoios de lideranças do PT, do PCdoB, do PSDB, do PSB, do DEM e de outros partidos, além do meu partido, o PSOL, que a defende abertamente. Eu questionei Marina pelas declarações que ele tinha feito na campanha e perguntei a ela se tinha mudado de opinião. Com o avanço do debate sobre o casamento igualitário no mundo inteiro, muitas pessoas que eram contra passaram a ser a favor, e eu tinha lá minhas esperanças. Foi quando ela me respondeu que queria um plebiscito para decidir a questão.
Os direitos humanos não podem ser plebiscitados. Isso não seria democracia, mas fascismo.
Mas é muito comum, infelizmente, que alguns políticos tenham uma opinião sobre um determinado assunto durante o período eleitoral e outra bem diferente fora do período eleitoral. Quando cada voto conta, cada apoio político pode somar votos e cada dia há uma nova pesquisa eleitoral que mostra avanços e retrocessos na intenção de voto, as pressões são muito maiores. Porém, eu acredito que quem quiser construir uma "nova política" deveria começar por mudar esse costume tão hipócrita que parece ser regra na política atual.
Na última eleição presidencial, os três candidatos com mais chances, Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva, defenderam publicamente a mesma posição com relação ao casamento civil igualitário: "Não". Eles disseram, em uníssono, que eram a favor da "união civil", mas não do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e a grande mídia, que muitas vezes não entende a diferença entre uma coisa e a outra, apresentava a notícia de maneira confusa. É o que estão tentando fazer agora: depois de ler o contraditório texto enviado por algumas lideranças desse novo partido, alguns jornalistas entenderam que a Marina é a favor do casamento civil igualitário e outros que ela é contra.
Não é uma originalidade brasileira. Em todos os países do mundo em que o debate sobre o casamento civil igualitário começou a ganhar força na sociedade, os líderes religiosos fundamentalistas e a direita mais reacionária, que antigamente eram contra qualquer tipo de reconhecimento legal para os casais do mesmo sexo, começaram a defender a "união civil" como alternativa ao casamento, sem explicar muito bem a diferença. E o que é a "união civil"? É uma proposta segregacionista que visa distinguir os casais homoafetivos dos casais heteroafetivos, para deixar claro que os primeiros não "valem" o mesmo. É como se a lei proibisse aos negros o direito ao casamento civil e oferecesse a eles uma "lei de união de negros". Foi isso que Serra, Dilma e Marina defenderam na última campanha.
Tomara que a Marina tenha mudado de opinião! Eu seria o primeiro a parabenizá-la.
A "nova política" deve começar com sinceridade e transparência. Não é com uma nota de imprensa negando o que é público que o novo partido da Marina vai fugir desse debate tão importante para a sociedade brasileira. Se ela continua sendo contra, que diga a verdade. E se ela tiver mudado de opinião, faço aqui o convite público para que ela grave um depoimento apoiando a campanha pelo casamento civil igualitário.
O convite está feito!
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