Eletronet: a denúncia não se sustenta

Luis Nassif

Não estou conseguindo entender a matéria da Folha sobre a Eletronet. Os dados não batem com o que está acontecendo. O repórter Márcio Aith – que se tornou especialista em missões especiais – definiu uma tese e escondeu informações essenciais que a desmentiam. Mais uma jogada em que se misturam informações técnicas incompletas com conclusões que não se sustentam nos fatos.

A história é a seguinte.

Lá atrás, criou-se a Lightpar, para permitir investimentos em redes de fibras óticas. Montou-se a rede, a empresa não deu certo e faliu.

A partir dali, criou-se um imbróglio.

A AES repassou para o tal Nelson sua parte na Lightpar – equivalente a 51% das ações de uma empresa com capital negativo (tinha mais dívidas que ativos). A Eletrobras tem outros 49%.

Acontece que a Eletronet é uma concessão pública. Decretada sua falência, a Eletrobras retomou a rede de fibras óticas, sem pagar nada por ela. Simplesmente cassando a concessão.

O problema ocorreu com os credores, fornecedores das fibras óticas – Furukawa e Lucent – que têm R$ 800 milhões a receber. E querem saber como o governo, depois de retomar a empresa, vai fazer para quitar as dívidas. Essa ação corre na Justiça. A rigor, nesse imbróglio jurídico, não há o menor espaço para nenhuma espécie de pagamento ao tal Nelson, que não é credor de nada, apenas sócio de uma massa falida.

Aith é um jornalista complicado. Desde que passou pela Veja, algo se quebrou no seu rigor de repórter.

Por exemplo, no texto ele fala em pagamento de R$ 200 milhões ao Nelson. Se a Eletrobras já retomou a empresa sem pagar um tostão, de onde ele tirou a história do pagamento de R$ 200 milhões?

No texto da matéria, tudo o que se tem é isso:

Com a reativação da Telebrás, Santos poderá sair do negócio com cerca de R$ 200 milhões.

Não diz quem vai pagar, de que forma, a troco de quê. Não informa que a Eletrobras já retomou as fibras óticas da empresa e vai tocar o projeto sem nenhum sócio privado. Esconde dados.

Outro ponto colocado é a questão da caução judicial. Para retomar a empresa, os credores (não o Nelson, que é devedor) exigiram uma caução, que garantisse o pagamento das dívidas. O governo tentou colocar títulos. O juiz não aceitou. Está se discutindo agora a caução em dinheiro. Só que a caução é para garantir os direitos dos credores de uma massa falida, não dos acionistas.

O que diz o Aith?

Outro ponto que espanta os observadores desse processo é que o governo decidiu arcar sozinho, sem nenhuma contrapartida de Santos, com a caução judicial necessária para resgatar a rede de fibras ópticas, hoje em poder dos credores.

Ora, mas se a ideia é o governo retomar a rede de fibras óticas sem pagar nada à Eletronet, qual a razão do sócio Santos depositar caução? Teria lógica se ele fosse ficar com um pedaço da Eletronet.

Aith vai mais longe. Pega uma fala de Lula:

“Nós estamos brigando há cinco anos para tomar conta da Eletronet, que é uma empresa pública que foi privatizada, que faliu, e que estamos querendo pegar de volta”, disse na ocasião.

E conclui, da própria cabeça, isso:

Lula não mencionou que, para isso, terá de entrar em acordo com as sócias privadas da Eletronet, entre elas a Star Overseas, de Nelson dos Santos, que contratou os serviços de Dirceu.

Outra inverdade. A retomada já foi feita, sem nenhuma espécie de pagamento e há uma discussão na Justiça que nada tem a ver com as ações da massa falida.

Essa atividade de consultor, do José Dirceu, é polêmica, não combina com a atividade de articulador político. Mas não há nenhum dado objetivo que a ligue à questão da Eletronet.

A dúvida pertinente é sobre a motivação de tal matéria. Pode ser briga de credores insatisfeitos com o não pagamento de suas dívidas. Pode ser o próprio Nelson, sabendo que sua aposta na empresa micada não vai dar em nada. Pode ser uma tentativa de torpedear o projeto de banda larga do governo. Ou uma tentativa de atingir a Ministra-Chefe da Casa Civil., que está tocando o projeto da banda larga.

A única certeza: foi mais uma jogada da Folha e do Aith.

Por Itamar

Nassif
Na entrevista do Lula para o ESTADÃO, ele já afirmava que a eletronet, era do estado, sendo inverídica o denuncismo de estatização da empresa.

Descrição de parte da entrevista ao ESTADAO.

” Primeiro nos tentamos comprar a eletronet, diziam que estávamos querendo estatizar, quando na verdade a eletronet era nossa.

Um esperto de um síndico ficou com ela durante 6 anos nas mãos, por causa de uma decisão judicial ”

Áudio completo:

http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque.idGuidSelect=A89ACCC0B3D0468D877E8D7E65B712C4

Por Guilherme

Só retificando, a empresa criada em 1999 foi a Eletronet, não a Lightpar. A Eletronet foi criada tendo como acionistas a AES (51%) e a Lightpar (49%). A Lightpar era um rescaldo da privatização das elétricas que ficou na mão do governo, e que se valorizou muito em 1999 justamente porque srria a gestora dessa rede de fibras. Outra retificação: a Eletronet não é nem nunca foi concessionária pública. A Eletrobrás, principal acionista da Lightpar, é que é concessionária e estatal. O direito do governo de retomar a Eletronet se dá justamente porque partes dos ativos de fibra da empresa pertencem às concessionárias estatais de energia.

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