A decisão de 2018 será nas urnas, não no impeachment. Janio de Freitas e o sangramento de Dilma

Fernando Brito no Tijolaço



Fique claro aos leitores que acham que as críticas que aqui se faz ao Governo Dilma não são a mais honesta, sincera e gratuita maneira de apoiar o que ela representa do projeto de afirmação deste país e de seu povo que não partilho totalmente das conclusões de alguns textos duros em relação a ela que reproduzo.

Não apenas os mais de 20 anos de convívio sincero e leal com Brizola – pasmem os que acreditavam na sua fama de intolerante – foram assim, mas a profissão também nisso ajudou-me a crer que há diferença imensa entre apoiar idéias, políticas e significados e bajular pessoas.

Quase quatro décadas metido a ler, analisar e escrever notícias ensinaram-me algo de que jamais me furto: ler e pensar sobre o que escrevem os homens que acumularam experiência olhando e interpretando, por mais tempo que eu- e com mais coerência, certamente – a realidade brasileira sem nunca terem se rendido aos coros dominantes.

Hoje, na imprensa brasileira, ninguém supera, nisto, o mestre Janio de Freitas e seu espírito de um homem livre, não o de um áulico nem o de que carrega ódios. Um sobrevivente, nestes tempos de mediocridade impressa.

O que Chico Buarque disse em Paratodos sobre música – Para um coração mesquinho/Contra a solidão agreste/Luiz Gonzaga é tiro certo/Pixinguinha é inconteste/Tome Noel, Cartola, Orestes/Caetano e João Gilberto – no jornalismo e na política, tem uma versão: leia Janio de Freitas.


Um presente para Lula
Janio de Freitas, na Folha
Ganhar presente é uma das delícias, só comparável à de dar presente. Deve ser por isso que Lula se mostrou, na Argentina, tão vibrante e afirmativo como o Lula dos velhos tempos. Mas não foi um presente argentino,se bem que Buenos Aires, com sua mesa e suas livrarias, possa ser um presente por si mesma.(PS: Com boa companhia, claro).

Foi lá que Lula recebeu a notícia de que Dilma se curvava aos cortes de verbas dos chamados programas sociais e do PAC, cobrados pelos neoliberais, pelos adeptos do impeachment e pela oposição vai com as outras. Sua reação imediata foi inflamada, com centro na declarada “incapacidade de entender esses ajustes que cortam ganhos sociais e dos trabalhadores”.

Mas Lula, arguto, sabe que a face política do plano de “ajuste” pregado pela oposição e aceito por Dilma lhe é favorável. É um presente, involuntário embora, que resolve o seu mais grave problema na eventualidade de desejar candidatar-se em 2018.

São, ou eram, duas possibilidades. Caso o governo de Dilma seguisse, durante o atual mandato, na batida que teve durante a maior parte do primeiro, a próxima sucessão não seria fácil para Lula. As insatisfações deixadas mesmo pelos melhores governos, a vontade quase instintiva de mudança, um cansaço vago mais efetivo, isso influi no eleitorado depois de governos longos como quatro mandatos de mesma linhagem. Por muito menos, Lula, com todo o seu êxito, sofreu para eleger Dilma. E Dilma se reelegeu ajudada por Aécio com sua campanha desprovida de ideia, obcecado com críticas ao governo e ataques à concorrente. José Serra já sucumbira a isso mesmo, e Aécio não percebeu.

O segundo mandato de Dilma não teve a oportunidade de imitar os melhores aspectos do primeiro. Mantenha-se com ela ou passe-se a outro, está condenado a outra imitação: a do “ajuste” aplicado em Portugal, na Grécia, em menor escala na Espanha e em outras terras de povos arrochados. No começo do ano, Joaquim Levy prometia que já neste segundo semestre teríamos os primeiros “benefícios” do seu “ajuste”. Veio aumentando as exigências para o “ajuste” à medida que a situação veio se agravando: no nono mês de ajustanças, nada melhorou, nada mostrou sequer indício de melhora próxima. Esse “ajuste” vai longe.

Vai até 2017 com folga. Ano em que a sucessão presidencial se lançará, precipitada pelas ansiedades do PSDB e, forçado, do PMDB. E então Lula, se disposto a candidatar-se, será ele o candidato da mudança. Com a bandeira de restauração da luta contra as desigualdades, de retomada do crescimento industrial e do emprego, da distribuição de renda e do Bolsa Família atualizado, do Brasil no mundo com a diplomacia ativa –tudo que ele vê como seu legado perdido. Terá ganho estas bandeiras de Dilma e dos seus adversários.

E a verdade é que –está provado desde Getúlio, depois Juscelino e Jango– são bandeiras muito fortes, tão persuasivas que os três continuam vivos. Ao passo que a oposição fica na contingência de repetir José Serra, impossibilitado de propor a continuidade do governo Fernando Henrique e de adotar posições contrárias às que vinham de lá, rejeitadas por acúmulo de inflação alta, arrocho e paralisia econômica.

A decisão de 2018 será nas urnas, não no impeachment.

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