Interesse dos EUA é se apropriarem do segredo das nossas ultracentrífugas


Com a mais moderna tecnologia de enriquecimento de urânio, 100% nacional, e uma das maiores reservas do mundo, o Brasil começa a produzir, em outubro, o produto em escala industrial

O domínio nacional sobre o ciclo do combustível nuclear demandou esforços incomensuráveis e investimentos públicos nos últimos 27 anos, o que garantiu o desenvolvimento de tecnologia 100% brasileira no setor. Sob a responsabilidade da Marinha - cujo empenho para dominar a avançada e estratégica tecnologia se intensificou a partir de 1979, um ano depois que os Estados Unidos suspenderam o fornecimento do combustível para alimentar a usina nuclear de Angra I - o programa desenvolvido em parceria com universidades e empresas nacionais hoje espelha seu sucesso com as ultracentrífugas de enriquecimento de urânio totalmente projetadas e construídas no Brasil. Sem iguais no mundo, hoje são alvo da cobiça norte-americana por, além de serem consideradas mais eficientes e evoluídas das existentes, principalmente pelo baixo consumo de energia em seu funcionamento, alçar o Brasil no domínio de uma tecnologia detida por poucos. “O único país que desenvolveu ultracentrífugas por levitação magnética, conseqüentemente, diferente das outras centrífugas, fomos nós, brasileiros”, afirma o almirante Alan Arthou, diretor do Centro Tecnológico da Marinha.

E é desse segredo que os EUA querem se apropriar, ou seja, do funcionamento das nossas ultracentrífugas. Diferente de todas as demais, o eixo central da nossa ultracentrífuga gira como se estivesse suspenso no ar, quase sem atrito entre as peças. “Ela vive mais tempo e consome menos. Em termos práticos, temos condição de competitividade extraordinária”, explica o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, destacando: “A energia nuclear não serve só para gerar eletricidade ou para uso militar, ela é fundamental nas áreas médica, industrial e agrícola”.

Durante estes anos de pesquisa e desenvolvimento do programa nuclear nacional foram investidos o equivalente a US$ 1 bilhão. O sucesso do projeto coloca o Brasil entre os produtores mundiais em escala industrial de urânio enriquecido. De acordo com a matéria publicada pela revista Isto É, segundo o Nuclear Fuel Cost Calculator (NFCC), da Holanda, esse mercado movimentou, em 2001, US$ 18 bilhões.

Assim, o Brasil está a poucos meses de atingir a auto-suficiência nuclear, uma vez que a partir de outubro a fábrica de Resende das Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) começa a produzir o urânio enriquecido, se somando aos 11 países que disputam o bilionário mercado de combustível nuclear.

Para se ter uma idéia da eficiência e economia, as nossas ultracentrífugas enriquecem urânio a um custo até 70% menor do que o obtido pelos equipamentos existentes nos Estados Unidos, na França e no Canadá. Isso significa que, como exemplo, que as máquinas francesas precisam de duas usinas nucleares, e uma terceira de reserva, para movimentar suas centrífugas de enriquecimento de urânio em escala industrial. Já as brasileiras não gastam praticamente energia nenhuma. Como bem comparou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pelo programa nuclear brasileiro, “o ar-condicionado da sala puxa mais energia do que mil das nossas máquinas”.

“Eles querem nosso segredo a todo custo”, alertou o brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, um dos primeiros brasileiros a realizar pesquisas atômicas no Centro de Tecnologia Aeroespacial (CTA). Além da produção em escala industrial de urânio enriquecido, com a auto-suficiência o Brasil poderá ainda concretizar o projeto do submarino de propulsão nuclear, vital para a defesa territorial e de nossas riquezas - e nada menos do que o responsável pelo domínio do ciclo do combustível nuclear, uma vez que todos os projetos do setor nasceram do ímpeto da Marinha do Brasil em desenvolvê-lo.   

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