A dívida líquida das empresas do grupo "X"


André Esteves provavelmente será um ótimo conselheiro para Eike Batista. Mas o banqueiro que controla o BTG vai mesmo ajudar o empresário se lhe der dinheiro, e não apenas bons conselhos.
A dívida líquida somada das cinco empresas do grupo EBX listadas na bolsa somava R$ 14,6 bilhões em setembro e deve superar os R$ 16 bilhões ao fim de 2012, quando todas divulgarem o balanço anual - até agora apenas MPX e OSX apresentaram os números.
Assim, a dívida líquida das cinco, que cresce trimestre a trimestre, terá se multiplicado por três num intervalo de 12 meses, já que era de R$ 5,3 bilhões em dezembro de 2011. No fim de 2010, o caixa superava as dívidas em quase R$ 4,3 bilhões - num variação de R$ 20 bilhões no endividamento líquido em dois anos.
A dívida bruta das empresas de capital aberto grupo já supera R$ 24 bilhões e não considera empréstimos tomados no nível das holdings EBX ou Centennial e nem na pessoa física do controlador, tendo como garantia ações das próprias empresas listadas.
A queima de caixa se explica em primeiro lugar pelo forte investimento realizado nos últimos anos. Considerando os dados mais recentes de cada empresa, as cinco investiram R$ 9,7 bilhões em 2012, dado que se compara a aporte de R$ 7,4 bilhões em 2011 e de R$ 4,9 bilhões, em 2010.
As despesas de capital expressivas, que somam R$ 31,5 bilhões desde 2006, já estavam nos planos quando Eike criou as empresas. O que não saiu como o previsto foi o lado operacional. A produtividade por poço de petróleo dois terços menor que a esperada (ou ainda pior) e o atraso na obtenção de licenças ambientais em alguns dos projetos deixaram a geração de caixa operacional menor do que a projetada nos planos de negócios.
Como os investimentos e as despesas administrativas continuam, mas a receita operacional ainda não aparece de forma vigorosa, as empresas X precisaram reforçar a estrutura de capital. Nos últimos meses, a MMX recebeu aumento de capital de R$ 1,37 bilhão, a OSX exerceu a opção de pedir US$ 500 milhões a Batista (ainda pode exigir mais US$ 500 milhões) e o empresário se comprometeu a dar mais US$ 1 bilhão à OGX se a companhia de petróleo achar necessário.
Ao mesmo tempo, as empresas foram tomando dívida, para não suspender os projetos. O BNDES tem R$ 5 bilhões já liberados para as cinco empresas e a Caixa Econômica Federal entrou com pouco mais de R$ 2 bilhões - incluindo R$ 750 milhões em repasse do FGTS. O Itaú tem R$ 1,46 bilhão a receber dessas companhias e o Bradesco, mais R$ 1,25 bilhão. BTG e Santander tinham R$ 680 milhões cada um financiamentos concedidos, conforme os últimos balanços publicados. Com emissão de bonds no exterior, OGX e OSX captaram R$ 8,4 bilhões.
Mas mesmo com tanto dinheiro, as empresas de Batista precisam renovar alguns desses financiamentos e mesmo reforçar o capital em alguns casos, já que os investimentos continuam. E é aí que André Esteves e o BTG podem ajudar, estruturando essas operações.
A dívida de curto prazo das empresas abertas somava R$ 5 bilhões em setembro, 61% do caixa das cinco, no total de R$ 8,2 bilhões. Em dezembro de 2011, a dívida vincenda em 12 meses era de R$ 2 bilhões, para um caixa total de R$ 9 bilhões, numa relação de 23%.
É exatamente por isso que o grupo avalia a venda de ativos ou ao menos de parte deles. A MPX, de energia, é a empresa em estágio mais avançado, e por isso candidata à venda. A maior interessada é a alemã E. ON, que já tem 10% do capital. A capacidade de geração hoje se aproxima de 1,5 mil MW, o que garante receita anual próxima de R$ 1 bilhão. E mais usinas devem começar a operar neste ano.
A OGX, a maior do grupo em valor de mercado, também já deixou de ser pré-operacional e, por ser a companhia com maior potencial, também atrai investidores estratégicos interessados em formar sociedade. Mas não a qualquer preço. A receita que a OGX gera com seus três poços está longe do previsto. O plano oficial era terminar 2012 produzindo de 30 a 40 mil barris por dia e chegar ao fim de 2013 com média diária de 165 mil barris. Mas a produção no fim de 2012 ficou em torno de 10 mil barris por dia e somou 16,8 mil barris diários em fevereiro (incluindo produção de gás). Por isso há inquietação no mercado, e analistas começam a questionar se o problema operacional da petrolífera é uma questão de "quando" ou de "se", diante dos desafios geológicos que começam a se apresentar.
A OSX, que opera a única plataforma em uso pela OGX, tem uma situação financeira relativamente confortável. Possui empréstimos de R$ 1,8 bilhão estruturados no modelo de project finance para duas novas embarcações, além de contar com apoio do Fundo da Marinha Mercante (FMM) |- num total esperado de R$ 2,7 bilhões - em condições favoráveis de prazo e taxa de juros para construção do estaleiro que ficará por Porto do Açu, em construção pela LLX.
Essa última é a empresa aberta do grupo em estágio mais embrionário. Ainda não tem todas as licenças para a construção dos dois terminais no litoral norte do Rio e ainda precisará investir R$ 1,7 bilhão até o encerramento das obras, previsto para o fim do ano que vem, sendo que não dispõe desse dinheiro. Qualquer receita da LLX, portanto, deve demorar.
A empresa de mineração MMX, que tem capacidade para produzir 8 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, recebeu aporte de capital de R$ 1,37 bilhão e deve ficar com o caixa reforçado por um tempo. Mas o projeto de Serra Azul (MG), que aumentará sua capacidade em 29 milhões de toneladas de minério e lhe permitirá exportar, exige investimentos de R$ 4,8 bilhões. Assim, só sairá do papel quando for liberado empréstimo de até R$ 3,2 bilhões requerido no BNDES. A previsão é para entrada em operação da mina é no segundo semestre de 2015. 
(Colaborou Cláudia Schüffner, do Rio)

Comentários

Mais Lidas

O que a mídia de celebridades faz com Anitta deveria ser crime

Guru de Marina disse que é preciso aumentar a carne e o leite

A parcialidade é o menor dos problemas da mídia golpista. Por Léo Mendes