Ed Motta, o “europeu”, e sua síndrome de vira-lata

Anna Beatriz Anjos e Ivan Longo na Revista Forum


Negro, nascido em um país historicamente explorado, o artista fez questão de, mais uma vez, menosprezar suas origens e tratar o brasileiro como inferior:”primitivos”, “ignorantes”




Mais uma vez, o cantor Ed Motta utilizou as redes sociais para destilar seu preconceito. Na última terça-feira (7), ele divulgou no Facebook a turnê que realizará, a partir do próximo dia 15, na Europa. Estaria tudo bem, não fosse pelas observações que inseriu no final do post.

“É importante frisar, não tem músicas em português no repertório, eu não falo em português no show… Preciso me comunicar de forma que todos compreendam, o inglês é a língua universal, então pelo amor de Deus, não venha com um grupo de brasuca berrando ‘Manuel’ porque não tem, e muito menos gritar ‘fala português Ed’… O mundo inteiro fala inglês, não é possível que o imigrante brasileiro não saiba um básico de inglês”, escreveu.

Como elitista que já demonstrou ser, o desprezo pelo público de seu próprio país não parou por aí. “Verdade seja dita, que meu público brasileiro de verdade na Europa é um pessoal mais culto, informado, essas pessoas nunca gritaram nada, o negócio é que vai uma turma mais simplória que nunca me acompanhou no Brasil, público de sertanejo, axé, pagode, que vem beber cerveja barata com camiseta apertada tipo jogador de futebol, com aquele relógio branco, e começa gritar nome de time”. Em pouco tempo, os comentários da publicação foram inundados por críticas.

Ao responder uma delas, comentou que, certa vez, um show seu em Leeds, na Inglaterra, teria sido “divulgado erroneamente para pedreiros”, classificando o episódio como “absurdo”, uma vez que os ingleses “conhecem todas as vertentes da música, soul, funk, jazz”.

“No Brasil minha audiência não é pedreiro, não é popular. Pedreiro vai ver filme de David Lynch? Pedreiro frequenta bons restaurantes?”, questionou. O que Ed Motta provavelmente não levou em consideração é que os ritmos que citou [soul, funk, jazz] têm origem nas camadas mais pobres e populares dos Estados Unidos – segmento social que faz questão de minimizar e menosprezar quando o assunto é Brasil.

Essa não é a primeira vez que Motta causa revolta após fazer comentários preconceituosos nas redes. Em 2011, postou que “o povo brasileiro era feio” e que “São Paulo é pertinho do Brasil, todo mundo fala português e não exigem visto de entrada”. A reação dos internautas, à época, também foi imediata, ao que o artista respondeu que “vivia em uma cultura superior, melhor do que a da maioria dos brasileiros”. A repercussão foi tão ruim que, no fim das contas, ele precisou se desculpar. “Apesar de ter sido brincadeira reconheço que fui infeliz nas declarações. Todo mundo erra e eu não sou diferente. Triste com isso”, disse em mensagem publicada no Twitter.

Ao que tudo indica, Motta não aprendeu com o erro. Como o faria, se a “síndrome de vira-lata” persiste? Ele continua a ignorar o fato de que nasceu negro em um país historicamente colonizado e explorado pelas potências internacionais. Acha que, afastando ao máximo todas essas características intrínsecas, conseguirá se igualar aos que sempre oprimiram seu povo e sua terra. Como já dizia Paulo Freire, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

Para ele, no entanto, os oprimidos não passam de “um bando de primitivos”.


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